Intimidade
por
Carmela Toninelo
Se
eu soubesse que Hanif Kureishi era filho de pai paquistanês, teria
corrido o mais rápido que pudesse para a livraria mais próxima
de minha casa. Paquistaneses e indianos tem esta tendência (provavelmente
disseminada via genes), de exprimir muito bem os sentimentos humanos através
de palavras.
Intimidade é um livro simpático
semanticamente falando. Falo primeiramente de sua capa, que é tão
amarela quanto o valor de nossas mais inexpressivas intimidades. A tipologia
usada é singela. Há as cores das letras, preto e rosa. Não
precisava mais. O íntimo é simples porém obscuro,
os sentimentos são como rosas, sempre brotando e sempre mantendo
espinhos.
"É a noite mais triste, pois
estou indo embora e não vou voltar. Amanhã de manhã,
quando a mulher com quem vivi durante seis anos sair de bicicleta para
o trabalho e as crianças forem jogar bola no parque, arrumarei a
mala, deixarei minha casa levando pouca coisa, torcendo para que não
me vejam, e pegarei o metrô até onde Victor mora."
É assim que a obra tem início.
A continuidade, narra a história de um homem durante a noite final,
que sentencia o abandono de sua família na manhã seguinte.
O romance é uma brilhante exploração das dificuldades
e vicissitudes dos relacionamentos amorosos contemporâneos.
A quarta obra de Hanif fez com que
muitos críticos ingleses ficassem não muito à vontade
com sua publicação no cenário literário do
país. Isto porque a obra agride realisticamente características
do ego humano e, inglês por natureza é fechado quando sobre
si, se trata a coisa.
Se a primeira responsabilidade de
um escritor é contar a verdade, então Hanif cumpriu a sua
com resoluta coragem. Intimidade nos descreve os pensamentos e as memórias
de um escritor de meia idade. Um homem moderno, sem convicções
políticas ou crenças religiosas, e que vagamente espera encontrar
satisfação no ato sexual.
No coração de Intimidade
há esse terrível paradoxo "Você não pára
de amar alguém somente porque você odeia esta pessoa." Leitores
do sexo masculino irão retroceder com a identificação
ao ódio pelas armadilhas da domesticidade - típicos de uma
vida em família, sua implacável busca por liberdade, fuga
e até mesmo solidão. Já leitores do sexo feminino,
talvez achem na obra, revelações terríveis e de mau
gosto. Mas Hanif está somente contando Intimidade da forma como
ela é. E o faz em destacadas frases de concisão.
Como me descreveu o senhor-menino
Takeda, o indicador da obra, "Intimidade não é tão
sadio assim. É pesado, mas verdadeiro. Muito verdadeiro."
Carmela
Toninelo, que descoloriu, e coloriu os cabelos. Passou quase dois meses
a parte de literatura, mas se rendeu a mais uma indicação
do senhor-menino Takeda. E aqui, nós Chegamos
Juntos. |