"O Banquete", Caco Galhardo
e Marcelo Mirisola
por
Marcelo Costa
Desenhos - Divulgação
maccosta@hotmail.com
30/11/2004
Caco Galhardo é cartunista do jornal Folha de S. Paulo, publicando ao lado de gente como Laerte, Angeli, Glauco e Adão, entre outros, suas famosas tirinhas no caderno Ilustrada. Dentre os personagens mais famosos de Galhardo estão Os Pescoçudos, sendo que entre suas séries impagáveis podem ser citadas as "36 Maneiras De Se Ver Um Mosquito Morto na Parede" (sensacional), "Coisas Feitas Para Serem Sérias, Mas Que Me Fazem Rir" (entre elas, ópera, o Jornal da Globo e propagandas de cigarros moderninhos) e "Como Usar As Regras do Futebol Para Resolver Pequenos Problemas no Casamento". Algumas destas séries já foram publicadas no livro Diga-me Com Que Carro Andas e Te Direi Quém Ès (Via Lettera). "As Gostosas", porém, é uma outra coisa.
Fazer uma tira diária necessita atenção ao mundo que o cerca, um pouco de inspiração e muita transpiração. É claro que existem dias em que essa equação tosca se torna inalcançável, e foi em um dia destes que Galhardo publicou em seu espaço, no caderno Ilustrada, um cartum de uma pin up (traduzindo para o delicioso e politicamente incorreto: uma gostosa), tapando um espaço sem idéia. A partir daí, As Gostosas começaram a marcar presença nas tiras do jornal (primeiramente em uma série) e depois ganharam espaço cativo no site oficial do cartunista, que exibe três novas pin ups todo mês.
O Banquete, que chega às livrarias pela Editora Barracuda, flagra 32 destas gatas, que inspiram a verve do escritor Marcelo Mirisola, aclamado por livros como O Herói Devolvido, Bangalô e O Azul do Filho Morto. Mirisola cria um mundo real para 30 das personagens fictícias. O teatrólogo Mário Bortolotto ficou encarregado de Suzie (uma loiraça flagrada na praia) enquanto uma pin up ficou para o público: é olhar o retrato, se inspirar e escrever para a editora contando a sua versão da história da musa.
Em seus desenhos, Caco Galhardo flagra as belas em momentos de intimidade, mas com um q de sedução, como se soubessem que pelo buraco da fechadura alguém as espia. Assim, mesmo de costas, Antonia (a primeira "gostosa" do livro) faz do curto gesto de se tirar uma calcinha um grande momento de sedução. Com as duas mãos, a bela envolve a peça intima, preparando para retira-la. O flagra deste instante de poesia visual não expõe o rosto da bela, mas Antonia conquista com suas curvas e seu jeito, casual e sedutor. É uma das minhas preferidas. Na minha listinha ainda figuram a dentista Maísa (que apanha do marido) e a garota de cabelos vermelhos que se chama Teca, que está pensando em por um piercing no umbigo e, infelizmente, não tem celular. Completam o top five a loira Aninha e a sensual Gisela.
O Banquete lança luz sobre musas fictícias, mas que lembram as belas que encontramos em padarias, filas do banco, fazendo compras no supermercado, caminhando pelas ruas. As "gostosas" de Galhardo são mulheres comuns, que não tem nenhuma relação com as que estampam silicones e corpos sarados em revistas masculinas, novelas do horário nobre e programas de auditório. Não. As musas do Galhardo são as musas de todos os homens, aquelas palpáveis, que muitos admiram secretamente enquanto passam. Mulheres que brigam para perder a barriguinha (tão charmosa), reclamam de celulite e precisam de que seu par as elogiem quando perguntam: "como eu estou hoje?". Galhardo as encontra em efêmeros segundos de sedução e beleza, e as desenha, e nos mostra. Mirisola provoca:
"Na festa ela inventou uma desculpa para não me querer. Também
não passei das generalidades. Ontem, no café da manhã, ela me
retribuiu com um sorriso. 'Aí tem coisa' - pensei, e pedi a
geléia de morango. Tantas delicadezas que até parece uma bobagem
dizer que fomos casados durante tanto tempo. Se fosse pra recomeçar…
eu partiria dos pezinhos". Ah, os pezinhos...
Entre a beleza provocativa da imagem e a provocação quase pornográfica
dos textos, O Banquete surge como uma obra sedutora e
atraente, um deleite literário para se admirar enquanto sua
Sônia, Paula ou Estela não desfilam suas deliciosas casualidades
em carne e osso pelos cômodos da casa.
Leia também:
Entrevista com Laerte,
por Leonardo Vinhas
"O Azul do Filho Morto",
de Marcelo Mirisola, por Diego Fernandes
Site da
Editora Barracuda
Site Oficial de Caco
Galhardo
Atire no Dramaturgo,
Blog do Mário Bortolotto
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