"Sexo Com Amor"
por Leonardo Vinhas
Fotos - Divulgação

lvinhas1@yahoo.com.br
02/12/2004

A produção chilena Sexo Com Amor é um filme cheio de clichês. É daqueles filmes "engraçadinhos" com pretensões moralizantes que você já viu aos montes em Hollywood e nas ondas da Rede Globo. E eu gostei bastante dele. Não que sejam precisas justificativas para se gostar de algo ou alguém. Será que nós sequer sabemos mesmo porque nos interessamos muito por uma pessoa ou uma obra de arte? Temos noções, pistas, mas sabemos a razão real de nossas paixões e amores? É uma discussão que não é pertinente agora, mas fica para você pensar. O que segue é uma tentativa de dizer porque talvez você também possa se interessar por esse filme.

São vários personagens mais ou menos interligados. Na verdade, a única relação em comum a alguns deles é o fato de terem filhos estudando na mesma escola, e um deles, o escritor Álvaro, tem um caso com a professora Luisa, ambos casados. Luisa reúne os pais de seus alunos para debater as diretrizes da educação sexual que começará a ser ministrada na escola. Acreditar que a partir daí alguns deles vão começar a trocar confissões sexuais perante pessoas com quem não há nenhuma intimidade é impossível, mas é exatamente essa a premissa do filme.

Dessa inverossimilhança surgem situações, em sua maioria, divertidas. Como a de Maca e seu marido, que não conseguem ter relações há anos, já que ela não se lubrifica e ele não é dos mais pacientes. O lugar-comum rende boas piadas, ainda que no padrão dos seriados de sexta-feira à noite da Globo. Rende risos ainda a obsessão que leva Jorge, um outro pai de aluno, a se sentir na obrigação de trair a esposa grávida. E, claro, rendem risos as dúvidas que as crianças têm sobre sexo. Isso sempre costuma ser engraçado, principalmente quando não é o seu filho quem está falando.

Porém, se fosse só um grupinho de boas gags, esse filme seria nada mais que uma opção para uma tarde desocupada. E mesmo essas piadas se esvaem conforme se aproxima a lição de moral "escondida" no desfecho. O que garante Sexo Com Amor é a possibilidade de nos identificarmos com os personagens. Sim, eles caem em vários lugares-comuns, mas quantos de nós não vivemos chavões em nossos relacionamentos? Quanto nossas relações não estão intumescidas com a relação de prazer e culpa de nossa Cultura latina, que mistura a fama de amantes fogosos com a educação repressora da tradição cristã?

É principalmente nesse conflito que se encontra o maior interesse do filme. É onde você se pega rindo de si mesmo. Claro, você vai começar associando as situações com outras pessoas que não você. Mas aos poucos você percebe que suas atitudes não são, ou não foram, assim tão diferentes. Que a infidelidade é, sim, uma faca de dois gumes, mas que raramente pensamos nos cortes que ela causa quando nós a cometemos. Que sexo é bom pra caramba, mas cada pessoa tem suas preferências, velocidades, conceitos e fetiches, e a diferença desses aspectos pode atrair em princípio, porém não se sustenta por muito tempo. Que ser pai ou mãe é, em todos os sentidos, foda.

Peguei Sexo Com Amor na locadora por causa da capa: uma moça linda, de cabelo alaranjado, cujo sorriso me lembrava alguém de quem gosto muito. Logo que ela surgiu na tela percebi o potencial enganoso de fotografias, porque Sigrid Alegría, a atriz que interpreta Luisa, não tem um doze avos do charme e da beleza exibidos na foto, quanto menos da pessoa que ela me faz recordar. Apesar dessa decepção, terminei minha sessão com um sorriso no rosto.

No fundo, talvez até nós, homens, gostemos de uma boa comédia romântica, em que sintamos que a putaria vale a pena, mas temos que contrabalançá-la com a união familiar. Não duvido que também as mulheres gostem desse tipo do filme. Talvez não seja nada disso, Talvez seja só uma boa fase que inventou de surgir por aqui, em que acho graça até em tombo de videocassetadas. Mas, mesmo que seja uma lição moralizante, fico refazendo a pergunta implícita no final do filme: todos nós gostamos de sexo e temos disposição de faze-lo (a nosso modo, claro), mas por que não temos o mesmo pique para lidar com suas conseqüências físicas e emocionais?

PS: a legendagem do DVD deve ter sido feita pelo Wander Wildner. Foi a primeira vez que vi legendas em portunhol!!!

Leonardo Vinhas agradece muito à Regina, a belíssima mulher que o cartaz do filme o fez recordar, mas não dedica esse texto a ela porque ela merece coisa melhor.


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Site Oficial do filme Sexo com Amor