Por que eu odeio as comédias românticas de Hollywood
por Leonardo Vinhas
lvinhas1@yahoo.com.br

Eu odeio as comédias românticas de Hollywood, e não porque eu nunca termino com a Julia Roberts (que, confesso, acho meio sem graça). O problema são os diálogos. Eles sempre são óbvios, vazios e previsíveis, e mesmo assim conduzem a um final inegavelmente feliz. Procuro criar os diálogos mais intrigantes e originais possíveis em minhas abordagens, porém o final costuma ser tragicômico. O que acontece?

Reconheço o exagero em alguns de meus trechos. Em citar rodapés de balões de historietas do Pato Donald não há garantia de conhecimento universal e imediato do assunto (se houvesse, tais rodapés perderiam o charme - Don Rosa sabe do que estou falando). Mas - puxa vida - combinar frases feitas para o momento exato, proporcionar as possibilidades das elipses, citar passagens memoráveis de grandes livros (ou usar uma frase qualquer e dizer que foi um grande Fulano de Tal, dá no mesmo), fazer analogias e paroxismos com a gênese do universo, são práticas que mereceriam desenlace melhor. Alguns bardos modernos ousam mais e, além de variar o repertório, adornam com práticas incomuns e celebratórias suas atitudes. E terminam a história sem ninguém também.

O convencionalismo domina o universo, diriam os mais letrados, mas tenho outra teoria menos conspiratória para justificar nosso constante fracasso. Na vida real só funciona o objetivo, o direto. Ou o falso disfarçado de direto (como, por exemplo, quando você jura que tem as melhores intenções e não quer só o corpo dela, quando é justamente isso que lhe interessa - mas seu diálogo direto é tão convincente que faz ela crer que não. Existe a contrapartida feminina, mas esse interlúdio já está longo demais). Elocubrações filosófico-literárias somente funcionam com alguém tão chato, pedante e inseguro quanto o interlocutor - e ainda assim de forma efêmera, pois logo ambos estarão tão envolvidos em picuinhas culturalebas que não sobrará tempo para diálogos sagazes.

De qualquer forma, continuo odiando as comédias românticas de Hollywood, suas trilhas sonoras que a maioria das garotas quer ganhar de presente (e escutar dizendo que é "a nossa música") e a cara de sonsa da Julia Roberts, menos patética só que a minha própria quando saio do cinema e vejo que estou sozinho.

Leonardo Vinhas gostou de "Feitiço do Tempo", mas não suporta "Um Lugar Chamado Notting Hill".

Dedicado a todos que adoram as comédias românticas de Hollywod, em especial à minha amiga Eloísa Guimarães.