"Espanglês"
por Marcelo Costa
Fotos - Divulgação

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09/03/2005

Spanglish, que aportuguesado virou Espanglês, é um dialeto falado por quase 40 milhões de latinos que vivem nos EUA. Da mistura do espanhol com o inglês surge uma terceira língua, que é usada por latinos e americanos para se comunicarem. A confusão que surge deste choque de culturas é o mote que James L. Brooks usa para fazer uma bonitinha comédia de costumes, com uma visão cômica da família moderna.

James L. Brooks ficou em silêncio por sete anos até lançar Espanglês. Antes, Brooks tinha feito Jack Nicholson e Helen Hunt ganharem um Oscar cada por suas atuações na deliciosa comédia romântica Melhor é Impossível (1997). Na curta cinematografia de Brooks, ainda brilham o bom Nos Bastidores da Notícia (1987) e o belo Laços de Ternura (1982). Espanglês, porém, é um filme menor do diretor, mas de forma alguma faz feio em sua estante. É um filme leve para ser visto com... leveza

Flor (a estonteante Paz Vega) é uma mexicana que possui uma filha de 12 anos (a esperta Shelbie Bruce) e parte para os Estados Unidos em busca de trabalho. Após anos trabalhando no lado "mexicano" de Los Angeles, Flor arranja um emprego como empregada doméstica na casa dos Clasky, uma influente família da cidade, cuja matriarca, Evelyn Norwich (a impagável Cloris Leachman), é uma ex-cantora de standarts de jazz que agora só faz entornar vinho o dia todo e mora com sua filha instável Deborah (Téa Leoni, também perfeita) e o marido dela, o sentimental chef de cozinha John (Adam Sandler, impecável).

A mexicana entra para trabalhar na casa dos Clasky sem entender patavina de inglês, e esse choque cultural rende alguns dos melhores momentos do filme. Brooks deixa o roteiro correr solto, e o filme alterna momentos de puro pastelão (principalmente na primeira metade) com outros de grande lirismo, o que causa um certo estranhamento. É como se Embriagado de Amor, de Paul Thomas Anderson, fosse batido no liquidificador com Quem Vai Ficar com Mary?. A mistura acaba pendendo mais para o lado dramático, mas a comédia marca presença em boas passagens do filme.

Centrando foco na leveza, Brooks faz do filme palco para a espanhola Paz Vega brilhar, mas perde a chance de explorar várias possibilidades que o filme abre, e tudo periga ser resumido em "patrão rico norte-americano se apaixona por empregada pobre - e linda - mexicana". E não é nada disso.

Espanglês lança luz sobre as dificuldades que as pessoas tem em se comunicar, mesmo quando falam a mesma língua. Mais: discute a educação dos filhos de forma exemplar ao questionar - inteligentemente - os valores familiares no mundo moderno. Ainda: exibe seres-humanos imperfeitos, que erram, e continuam vivos, porque estar vivo é estar errando, o tempo todo, e isso não é motivo para se desistir das coisas.

A leveza na direção resultou em um filme tranqüilo, com várias cenas exageradas, que parecem nos lembrar que tudo não passa de cinema, e muitas - e boas - frases de efeito. Em um momento, quando percebe que John (Sandler) está chorando, a mexicana se assusta e pensa: "Para alguém que conhecia o machismo latino em primeira mão, ele parecia ter as emoções de uma mexicana". Pouco antes, Deborah (Téa Leoni) diz, ao entrevistar Flor para a vaga de empregada: "Você é escandalosamente bonita!". A avó corrige. "Isso não foi um elogio. É um alarme de perigo, perigo". No papel de avó, Cloris Leachman, alias, é responsável por alguns dos momentos mais deliciosos de Espanglês, como quando canta - entre taças e taças de vinho, suas canções de amor e morte, acompanhada pelo menino caçula da casa. É só imaginar um garoto de quatro anos cantando: "Você me deixou, vou morrer sozinho". O resultado é hilário.

Como bem demonstrou em Melhor é Impossível, Brooks é um excelente diretor de atores. Todos, sem exceção, estão sublimes em seus papéis. No entanto, Espanglês é um filme menor, que poderia ser melhor explorado, mas acabou se tornando uma bonitinha comédia de costumes com toques dramáticos.


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Site Oficial do filme Spanglish