Máquina
do Tempo
por
Marcelo Silva Costa
Ainda estamos em maio, mas já
é possível prever o grande vencedor do Framboesa de Ouro,
prêmio máximo dado ao pior filme do ano, um contraponto hilário
ao Oscar. Na cerimônia de 2003, quando serão anunciados os
candidatos a piores filmes de 2002, "Máquina do Tempo" deverá
aparecer com destaque em várias indicações.
O filme é inspirado no clássico
homônimo de H.G. Wells, lançado em 1895. Na época,
o autor era conhecido como o homem que via o futuro, tamanha a genialidade
de sua obra. O livro já havia ganhado uma filmagem reverente nos
anos 60, filmada por George Pal, milênios à frente desta terrível
refilmagem. O grande chamariz, no entanto, de "Máquina do Tempo
versão 2002" é o fato do responsável pela direção
ser nada mais nada menos que Simon Wells, bisneto do escritor que inspirou
a película.
Mais do que um atentado ao bom gosto
do espectador e ao cinema, "Maquina do Tempo 2002" é um atentado
à família Wells. O bisneto assumiu o controle da refilmagem
e conseguiu estragar o romance do avô que deve ter se remexido no
túmulo durante as filmagens e morrido novamente quando do lançamento.
Simon Wells se perde ao tentar contar
uma história. Não existe roteiro, não existe boas
falas e, na verdade, não existe filme. "Máquina do Tempo
2002" amontoa boas imagens (o único trunfo da obra) que acaba perdendo-se
devido a falta de coerência do roteiro. Personagens surgem aqui e
ali e somem sem nenhuma correlação seguinte. E a imaginação
do neto vai muito além a do avô viajando 800.000 anos em um
futuro absurdamente inimaginável.
O grande trunfo de escritores com
Wells e Júlio Verne (e porque não, Aldous Huxley?) foi sempre
lidar com um futuro palpável, o que lhes sempre concedia a aura
de visionários. Pesando mão nos exageros, Simon estraga a
obra do avô, desperdiça excelentes atores (Guy Pearce, do
genial "Memento", está irreconhecível
aqui) e prova que ser cineasta definitivamente não é para
qualquer um.
O melhor que poderia acontecer após
uma sessão desse filme é que o espectador encontrasse na
porta do cinema uma máquina do tempo que o fizesse voltar duas horas
antes para recuperar o tempo perdido com está péssima obra
cinematográfica. No mais, nos vemos no Framboesa de Ouro 2003.
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