Cine Majestic
por Marcelo Costa

O ser-humano é deveras estranho. Vive buscando sucesso pessoal e quando esse sucesso pessoal chega, o recusa. O mundo da "arte" é repleto de casos assim, mais na música, outros no cinema, etc.... A fama acaba, por fim, matando os sonhos. Assim foi com Kurt Cobain e Eddie Vedder, sendo que este último sobreviveu ao mega-estrelato lançando discos menos acessíveis e recusando publicidade. É mais ou menos o que Thom Yorke faz ao levar o Radiohead com genialidade pela contramão.

No cinema, exemplo fácil é Jim Carrey. O cara apareceu para o cinema destacando-se em filmes como O Maskara, Debi & Loide e Ace Ventura após ter passados vários anos na janela (e com onze filmes no currículo). A característica básica que combina as três obras supracitadas é o humorismo, as mil e uma caretas de Jim Carrey. Tanto que, a época, muita gente o comparou a Jerry Lewis.

Mas de um tempo para cá Jim Carrey quer provar que é um ator... sério. Ele conseguiu ótimas atuações no conto de fadas moderno Trumam Show e encarnando Andy Kaufman em O Mundo de Andy, assim como está bem neste Cine Majestic, mas lhe falta algo.

Em Cine Majestic, Carrey é Peter Appleton, um jovem e ambicioso roteirista que está em ascensão na majestosa Hollywood dos anos 50. Appleton acaba de emplacar seu primeiro filme, uma produção B, e começa a encarar sonhos mais altos. Tudo segue bem para nosso amigo até ele receber das mãos do advogado do estúdio para que trabalha, uma intimação: Peter Appleton acaba de entrar na lista negra dos roteiristas de cinema caçados pela justiça norte-americana por usarem seus filmes para divulgar mensagens comunistas. Appleton perde o emprego, a namorada e os sonhos. Após um belo porre e dirigindo para lugar nenhum, ele sofre um acidente, perde a memória e acorda dias depois sendo lambido por um cão.

Desse ponto em diante, Cine Majestic divide-se em dois filmes. O primeiro conta a história de uma pequena cidade que adota nosso amigo após o acidente. O segundo trata da caça aos roteiristas. Entre ambos, uma sociedade marcada pelo desrespeito governamental, pela falta de memória afetiva, pela medo comunista após a Segunda Grande Guerra e, sobretudo, por acusações infundadas. Peter Appleton tem que encarar um juri apenas porque, um dia, quis impressionar uma garota e foi a reunião de um grupo adolescente chamado "Pães no lugar de Doces". O nome de Appleton na ata o incrimina, e ele só queria impressionar uma garota.

Estes dois filmes, juntos, batidos no liquidificador, resultam em um filminho razoável. Não é nem legal lembrar que Frank Darabont tem no currículo o majestoso Um Sonho de Liberdade.

Tudo isso porque Cine Majestic abre mão de aprofundar-se na beleza da arte cinematográfica com um q tocante de nostalgia (um trecho inicial e outro, de reconstrução do Majestic, são belíssimos) para centrar rumo na critica ao governo que, aos olhos do diretor, perdeu memória a ponto de começar a desconhecer os próprios filhos. E, ainda, Darabont consegue amarrar uma estória de amor a trama. Entre um caminho e outro, Cine Majestic acaba pendendo indeciso e cansado. E, consigo, Jim Carrey, preso em um papel sério que só faz engordar seu currículo, mas não diz a que veio. O ser-humano é deveras estranho.