Rockers! Querem Atitude? Vejam 'O Mundo de Andy'!
Por Alexandre Petillo

Não tem dúvida. O ator mais legal do ano 2000 não é o gladiador Russel Crowell e muito menos o galã Tom Cruise. É... Jim Carrey! Sim! Jim Carrey is the man .

Um injustiçado, como Milos Forman, o diretor. Acontece que Forman - como Wim Wenders, Martin Scorcese, Brian de Palma, Oliver Stone, Copolla, entre outros - nunca mais terão um trabalho altamente aclamado pela crítica, que - burra ou não - ainda é um grande fator na hora de escolher que filme ver no fim de semana. Parece que a mídia convencionou que eles nunca mais poderão superar seus feitos passados. Uma pena, porque alguns desses homens continuam produzindo pequenos clássicos cinematográficos.

Assim é o Mundo de Andy. Um pequeno clássico do cinema de nosso tempo. Nesses dias em que Hollywood se preocupa mais com os olhos do que com o cérebro do espectador, O Mundo de Andy impressiona e marca. Impressiona porque te faz recuperar a esperança no cinema sincero. E marca, porque garante alguns nós no estômago e várias divagações pós-filme.
O filme retrata a vida de Andy Kaufman, um dos maiores comediantes norte-americanos. Andy era um fanático por TV desde criança. Preferia ficar em casa, fingindo estar num palco, a sair para brincar com as outras crianças na rua. Mas Andy não era louco, ou retardado, como seus pais pensavam. Andy Kaufman era original, daí sua graça. A personalidade de Kaufman é de fazer inveja aos roqueiros atuais: excêntrico, transgressor, cético e original acima de tudo. Capaz de fazer o humanamente improvável para pôr em prática seus quadros humorísticos. Cansou de chocar a sociedade conservadora americana nos anos 70. Surpreendia a todos com suas atitudes, tanto no palco e na TV como na vida cotidiana. Não levava ninguém a sério e muito menos si mesmo. Até às portas da morte, Andy não deixou de gargalhar.

No início de carreira, a contragosto, Kaufman aceitou fazer parte da sitcom Taxi (passa na Sony). Seu personagem paranóico na série foi um sucesso estrondoso, roubando a cena. Aproveitando a fama, Andy começou a fazer shows solo pelo país, apresentando quadros próprios. Em seu primeiro show, a platéia não queria saber dos sets inéditos, só do personagem da série. Contrariado, Andy Kaufman foi até o camarim e pegou o "Grande Gatsby" de F. Scott Fitzgerald e o leu na íntegra para a platéia. Atitude punk como não se vê no show business com muita freqüência. Quando a luta livre estava no auge da popularidade na América, Kaufman também quis entrar na onda. Mas de uma maneira diferente, só lutava contra mulheres. Aproveitando a consolidação do feminismo pós-Anos 60, Kaufman se propôs a humilhar o sexo oposto em horário nobre. A arte cômica de Andy Kaufman baseava-se em provocar qualquer um até o limite . O filme, magistralmente, retrata tudo isso. Quem não conhece a história real do comediante, acaba achando que se trata de um personagem absurdo, afinal, é difícil acreditar que alguém foi capaz de fazer o que ele fez. A direção orgânica e discreta de Forman, coloca, ainda, em foco, a inconstância do ego maluco de Andy Kaufman.

Jim Carrey? Perfeito, é a única palavra cabível. Carrey não se contenta em apenas interpretar Kaufman. Jim Carrey, por quase duas horas, transforma-se completamente em Andy Kaufman. Um trabalho difícil num filme fortíssimo. O ator não merecia apenas uma indicação ao Oscar, como também deveria levar a estatueta. O filme confirma a habilidade de Milos Forman em filmar a vida de personagens polêmicos da sociedade americana. E confirma, também, a habilidade de Courtney Love em fazer o papel da namorada desses personagens. 
Entre o olímpico Gladiador e o sessão da tarde Missão Impossível 2, espere pelo Mundo de Andy nas locadoras. Afinal, dizem por aí que cinema também é arte.