O Fabuloso
Destino de Amélie Poulain
por
Renata Cássia
Simples, ingênuo e engraçado.
O novo filme do cinesta francês Jean-Pierre Jeunet já levou
mais de sete milhões de franceses ao cinema e está tendo
uma carreira gloriosa fora da Europa. Além de faturar vários
prêmios nos Estados Unidos (Melhor Filme estrangeiro pela Broadcast
Films Critics Association e pela Online Films Critics Association), chega
ao Oscar 2002 cotadíssimo, mesmo tendo sido preterido no Globo de
Ouro por "Terra de Ninguém".
Mas do que se trata esse filme com
nome de menina e sorrisos na tela? O "Fabuloso Destino de Amélie
Poulain" ("Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain" - FRA 2001) fala
das coisas simples da vida. As neuras de uma família. Os sonhos
de uma garota que nunca teve amigos. A busca do amor. Dizem que o quanto
mais simples algo é, mais difícil é de se conseguir,
certo? Errado, e Amélie está aqui para provar isso.
Fechada em seu mundo interior, Amélie
vê tudo no mais cor de rosa e, impulsionada por uma descoberta em
seu próprio banheiro, decide ajudar o mundo. Durante sua caminhada,
ela aprende a ajudar a si mesma.
O filme tem passagens ótimas
logo de cara. Jean-Pierre Jeunet mostra o gosto de cada personagem da família
Poulain. A mãe de Amélie, por exemplo, acha o suprasumo da
diversão encerar o piso com suas pantufas (as donas de casa de plantão
enxergarão um certo exagero aí). Mas no decorrer das cenas,
o cineasta mescla humor com ternura. O resultado é que o espectador
fica tocado pela inocência de Amélie e se pergunta: será
que ainda existem pessoas boas? Pessoas capazes de dar a mão a um
ceguinho e ajudá-lo a atravessar a rua?
E mais: pessoas que descrevem um simples
trajeto para alguém que não pode ver? Coisas tão facéis
e ao mesmo tempo tão difíceis de se fazer. Amélie
anda de metrô e, acredite, dá de livre e espontânea
vontade moedas aos mendigos (ótima a passagem em que um deles se
recusa a aceitar o dinheiro alegando que não trabalha aos domingos!)
No mundo moderno, onde todos estão
tão preocupados consigo mesmo, tão mergulhados no trabalho,
nas contas e no seu mundinho individualizado, Amélie Poulain surge
como uma fada madrinha. Poderia ser um conto de fadas, com elfos e anões,
como a superprodução "O Senhor dos Anéis". Mas não
é. Amélie não precisa de varinha mágica para
mudar o mundo. Tudo o que ela faz é prestar atenção
no próximo e tocá-lo de alguma maneira. E isso vale, e muito.
A "Academia Européia de Cinema"
entregou o prêmio Felix de melhor filme europeu para "Amélie
Poulain". Jean-Pierre Jeunet concorreu com produções de peso
como "Os Outros" e "O Quarto do Filho". Jeunet
recebeu ainda o prêmio de melhor diretor e o prêmio de melhor
filme segundo o público.
"Amélie Poulain" é adorável,
doce, comovente e universal. É simples, ingênuo e engraçado.
Se o mundo for realmente perfeito, o Oscar 2002 de filme estrangeiro já
tem dono.
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