Nicole
Kidman: Gélida como Grace Kelly
por Ana
Cecília Del Mônaco
anaceciliadmm@hotmail.com
Quando eu tinha 12 anos li um livro chamado
Os Inocentes ou A Volta do Parafuso de Henry James.
Esse foi um dos livros que eu (como o Joey da série Friends
fez com o seu exemplar de O Iluminado de Stephen King) escondi no
congelador... de medo. Este clássico do terror virou filme em 1961:
Os Inocentes, com Debora Kerr como a governanta reprimida que toma
conta de duas criancinhas em uma mansão vitoriana assombrada.
Falo isso porque justamente este meu
antigo pavor veio à tona quando assisti ao filme Os Outros
e embarquei totalmente na história da mãe (Nicole Kidman),
seus dois filhos, e os criados, numa mansão vitoriana, que começam
a perceber estranhas manifestações à sua volta. Não
sei se fiquei com tanto medo porque este filme me remeteu à traumática
leitura, tanto que nunca assisti ao filme de 1961, ou se foi porque o diretor
Alejandro Amenábar (Morte ao Vivo), conseguiu atingir o clima
que todos vêm tentando alcançar nesta nova 'safra' de terror,
incluindo: O Sexto Sentido, Revelação,
O Dom da Premonição. Colocando O Sexto Sentido
em um patamar mais elevado, é lógico e também deixando
de lado as bobeiras como Casa na Colina e Casa Mal-Assombrada.
O que se faz notar nestas novas tentativas
de assombro é que sempre remetem à estética de filmes
que já apavoraram em outras décadas, já brincam com
o imaginário formado do espectador. O Sexto Sentido segue
a estética, tanto na direção de arte como na de fotografia,
que nos lembra os ótimos filmes de terror psicológico da
década de 70, Carrie (1976), O Exorcista (1976), Profecia,
Bebê de Rosemary (1968), O Iluminado (1980). Essa chamada
ao inconsciente do público somou elementos à história
que teve como trunfo o final surpreendente.
Muito se especulou sobre as
soluções dos dois filmes serem parecidas, porém em
Os Outros o terror psicológico é construído
de forma muito mais meticulosa do que o filme de M. Night Shyamalan.
A sugestão é o que permeia todo o filme. A câmera por
trás do personagem, bem Hitchcock. Somando-se a música aflitiva,
que num crescendo insuportável, corrói os nervos.
A história e a seguinte. No
fim da Segunda Guerra Mundial, Grace (Nicole Kidman) vive numa mansão
vitoriana, à espera do marido Charles, que foi para o front. Ela
luta com a solidão enquanto cria seus dois filhos. Novos criados
são admitidos por Grace, recebem as instruções de
como proceder na casa e em relação às crianças,
que ela alega possuírem uma grave sensibilidade à luz, então
as luzes ficam, na maioria do tempo, apagadas, e as portas devem ser trancadas
por onde passarem. Ou seja, todos serão obrigados a passar
muito tempo...no escuro.
Milhares são as histórias
de terror em mansões mal-assombradas. Mas esses novos elementos
nos situam na perspectiva dos personagens que estão prestes a viver
muitos sustos. Eles não terão muitas saídas. A partir
daí, muitos eventos estranhos começam a acontecer. E o público
se contorce nas cadeiras...
Nicole Kidman está muito convincente,
gélida como Grace Kelly, seu nome no filme é claramente uma
alusão à musa de Hitchcock.
Quem
são eles?
por
Angélica Bito
angelikinha01@hotmail.com
Em seu terceiro longa, o espanhol
Alejandro Amenábar conta a história de Grace, uma mulher
religiosa que protege como pode seus filhos, que sofrem de uma doença
rara - fotofobia. Anne e Nicholas não podem ser expostos de modo
algum à luz. Caso contrário, podem morrer. O castelo onde
vivem é escuro, iluminado apenas por velas. As cortinas estão
sempre cerradas e as portas, rigorosamente trancadas. É nesse cenário
cheio de sombras e névoas que se desenrola a história de
Os Outros.
Pela primeira vez, Nicole Kidman protagoniza
uma produção de terror e, como tal, tenta assustar. Faz caras
e bocas, grita, chora com toda a intensidade, mas nem sempre convence.
Mesmo assim, sua atuação foi elogiada e a atriz vem sido
cotada para concorrer ao Oscar por sua atuação neste filme.
Entretanto, falta algo...
Na verdade, quem acaba assustando
mais são os garotinhos que interpretam seus filhos. Pálida
e linda - assim como Kidman -, Alakina Mann, na pele de Anne, consegue
passar muito mais sentimento por meio de seu olhar, esta é a diferença.
Sabe-se que ela não é
uma menina qualquer: seu olhar, ao mesmo tempo doce e dissimulado, mostra
que ela esconde algo. Nicholas (James Bentley) é o garotinho sempre
assustado com tudo. Pudera: alfabetizados pela própria mãe,
eles recebem lições religião e são aterrorizados
pela idéia de que, se forem maus, vão parar no limbo quando
morrerem. Será?
Há também os três
empregados da casa, os únicos que conseguiram agüentar tantas
regras e sombras: a Sra. Mills, o Sr. Turttle e a jovem muda Lydia. E,
enquanto isso, Grace espera pelo marido que fora lutar na recém
terminada Segunda Guerra Mundial.
Quando as crianças dizem que
vêem fantasmas na casa, Grace pira, literalmente. Os intrusos passam
a ocupar todos os cantos da casa, tocam piano, abrem as cortinas, fazem
de tudo para infernizar a já perturbada vida de Grace.
Mas, afinal, quem são esses
intrusos? De acordo com Anna, há uma velha, que é visita
constante, e um menino, Victor, da mesma idade da menina, e que vive chorando,
sabe-se lá por quê.
Até a metade do filme, a história
é arrastada. Grace procurando os fantasmas, Anne assustando o irmão
Nicholas e os empregados sempre sabendo de algo mais. Entretanto, o que
vale a pena neste filme é o final. Lembra de O Sexto Sentido?
Aquele final surpreendeu a todos. Pois prepare-se para ficar surpreso desta
vez também.
Na verdade, reviravoltas surpreendentes
nunca serão as mesmas depois do filme do garotinho que via pessoas
mortas. E são essas mesmas pessoas mortas que assustam crianças
em Os Outros. O sobrenatural, tudo que a ciência não
pode explicar racionalmente e cuja existência ainda é uma
dúvida, assusta e ainda é um aspecto a ser explorado em filmes
de terror mais "adultos" (nada de assassinos de adolescentes em série
e monstros). Por isso. Os Outros acertou na mão e tem feito
tanto sucesso no mundo todo. Claro que, com a ajudinha do roteiro de Alejandro
Amenábar e a beleza de Nicole Kidman, as bilheterias estão
no papo.
Nicole Kidman
(Grace), Fionnula Flanagan (Mrs. Berta Miles), Christopher Ecleston (Charles),
Elaine Cassidy (Lydia), Eric Sykes (Mr. Edmund Tuttle), Alakina Mann (Anne)
James Bentley (Nicholas), Renée Asherson (Old Lady).
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