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Category — Literatura

Caleidoscópicas, de Dulce Quental

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Entre 2005 e 2008, Dulce Quental assinou no Scream & Yell mais de 40 textos abrigados sobre o chapéu “Caleidoscópicas”. Depois a coluna virou blog no iG, e ela seguiu seu caminho pelas ruas da internet. Boa parte dessas colunas (e algumas extras) estão presentes no livro que ela lança agora, cujo prefácio assino orgulhoso. O livro pode ser encomendado com Dulce via Facebook. E, nesta semana, pode ser adquirido pessoalmente por quem for assistir ao bate papo com ela na V Jornada Internacional de Mulheres Escritoras”: Dulce Quental palestra no dia 23/05 com o tema “A Voz do Autor” no auditório do Sesc Consolação e depois no dia 25/05 em São José do Rio Preto . Como estarei no Velho Mundo, compareçam e deem um abraço nela por mim! : D

maio 20, 2012   No Comments

Martin Scorsese, eu e a morte

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Foto: Marcos Pacheco

Comecei nesta semana a ler o quarto livro do ano, o que por si só já é um recorde de muitos anos. Ok, estou roubando um bocadinho na conta. Terminei o obrigatório “O Resto é Ruído”, do Alex Ross, em janeiro, mas comecei a ler mesmo em setembro ou outubro, quando voltei a pegar metrô e trem para o trabalho, o que trouxe a leitura de volta ao meu cotidiano (faço parte do grupo de pessoas que não pode ler em ônibus nem carro – enjoo na certa).

O segundo livro foi “A Visita Cruel do Tempo”, romance magnifico de Jennifer Egan. Agradeço imensamente à Ana Carolina, da Intrinseca, por ter me enviado o livro. O Gabriel já tinha recebido um para resenhar para o site (aqui), mas a Ana mandou assim mesmo um para mim. Nas entrelinhas, um “você precisa ler isso”. Obrigado, Ana. Egan me pegou de jeito. No meio da correria não calculei todo o impacto do livro sobre mim, mas foi forte, beeeem forte.

Sobre o terceiro, “Sexo na Lua”, de Ben Mezrich (o mesmo autor de “Bilionários por Acaso”, que originou o filme “A Rede Social”), falo um pouquinho mais em resenha (curta, mas direta) para uma revista (quando sair aviso aqui). E, então, comecei o meu quarto livro de 2012, “Conversas com Scorsese”, do crítico e documentarista Richard Schinkel, edição da Cosac Naify que segue o modelo do ótimo “Conversas com Woody Allen”, de Eric Lax.

Assim como Lax, Schinkel conheceu seu “objeto de estudo” no começo dos anos 70. Eric Lax conheceu Woody em 1971 (e as entrevistas começaram em 1973) enquanto Richard Schinkel convidou um amigo para uma projeção em casa de “Jejum do Amor” (1940), de Howard Hawks (“Uma das melhores de todas as comédias românticas”, grifa o crítico), e esse amigo trouxe Marty. A amizade seguiu, mas as entrevistas do livro começaram a ser feitas apenas em 2004.

“Acredito, de fato, que a coisa mais importante que descobri sobre Marty foi o poder que o passado exerce em seu trabalho”, conta Schinkel no prefácio. “Estou falando, por exemplo, da forma como a violência se apresenta em seus filmes. Ela aparece tão de repente. Raramente existe uma preparação para ela. Ele quer que fiquemos tão chocados – e tão atentos – como ele foi um dia (em Little Italy). É a assinatura gravada de sua sensibilidade”, analisa.

Estou apenas no começo do livro (página 60 de quase 500), mas me impressionou como o medo era um integrante vivo da rotina de Scorsese quando criança, uma criança asmática, o caçula de uma família numerosa que vivia em um apartamento de dois cômodos e meio numa rua do bairro italiano (e mafioso) de Nova York – e que conseguia um pouco de paz apenas dentro de um cinema e da igreja (ele foi coroinha e cogitou ser padre).

Impressionado com a quantidade de vezes que Marty usa a palavra “medo” (ou equivalentes) em 30 páginas (as que tratam de sua infância em Little Italy), comecei a rememorar minha própria infância, olhar para trás para identificar algum sentimento, algo que tenha ficado para trás (análises, ahh, a idade – risos). Não é questão de comparar, apenas uma curiosidade sobre si mesmo, mas óbvio que a minha infância foi bem mais calma que a do cineasta.

Ainda assim me lembrei de algo que tomou boa parte dos meus primeiros anos – não sei ao certo de quando a quando, mas me parece algo entre os quatro até os seis (talvez mais tarde, não sei). Mas durante meses (ou anos) eu deitava na cama e me via… morto. Ok, não me via, mas via o caixão, e sabia que eu estava lá. E sabia que era um eu velhinho, ou seja, não era uma preocupação de “posso dormir e não acordar”, mas sim uma preocupação… futura.

A vida era leve nessa época (pais exigentes e carinhosos, futebol com a molecada na rua, não tenho lá tantas memórias até a primeira série, aos 6 anos, quando a vida realmente “começa”), e não sei de onde esse sonho surgiu, e porque me acompanhou tanto tempo, mas um dia do nada ele foi embora (provavelmente trocado pela paixão pelo futebol, ou por uma das meninas da sala de primeiro ano, ou, claro, por uma das professoras de catecismo – tão óbvio). Dos sonhos estranhos…

Voltando a Scorsese (e 2012), já estou fazendo um planejamento mental de filmes para ver nos próximos dias. Amo o tristíssimo e dolorido “A Época da Inocência” (1993), embora não o veja desde os anos 90. Marty fala muito de “Os Infiltrados” (2006) no começo do livro, e deu vontade de revê-lo, assim como alguns do começo da sua carreira que nunca vi – “Quem Bate à Minha Porta?” (1968), “Caminhos Perigosos” (1973) e “Alice Não Mora Mais Aqui” (1974).

Outro que até tenho na estante e nunca assisti é “O Rei da Comédia” (1983), mas quero mesmo rever “Gangues de Nova York” (2002 – na época gostei tanto que escrevi isso aqui). Revi “Goodfellas” mês passado, e “A Cor do Dinheiro” (1986), “Taxi Driver” (1976) e “Cassino” (1995) estão fresquinhos na memória (revi os três em 2011). Já “A Última Tentação de Cristo” (1988) me venceu duas ou três vezes…

A leitura está rendendo como há tempos não rendia. Mas ainda tenho os dois Jonathan Safran Foer na fila (e a Nicole Krauss também), comprei a coleção “O Tempo e o Vento”, do Érico Verissimo, para reler (um dos meus livros preferidos desde sempre) e ainda tenho “Escuta Só”, do Alex Ross e muitos outros me olhando na estante (Shakespeare e Oscar Wilde pedem atenção e ainda tem os quatro volumes do… Marcel Proust). Devagar e sempre.

Leia também:
– Leia o 1º capítulo de “A Visita Cruel do Tempo”, de Jennifer Egan (aqui)
– “O minimalismo e o rock and roll”, trecho de “O Resto é Ruído” (aqui)
– De Luis Buñuel para Erasmo Carlos (aqui)
– De volta ao mundo de Rob Fleming (aqui)
– Os filmes prediletos de Woody Allen: 15 americanos, 12 europeus (aqui)
– Woody Allen de 0 a 10, por Marcelo Costa (aqui)
– “Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens”, Woody Allen (aqui)

março 20, 2012   No Comments

1º capítulo: A Visita Cruel do Tempo

Leia também:
– Gabriel Innocentini escreve sobre “A Visita Cruel do Tempo” (aqui)

fevereiro 14, 2012   No Comments

O minimalismo e o rock and roll

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“O Resto é Ruído – Escutando o Século XX”, de Alex Ross, é o melhor livro sobre música que li em toda a minha vida (edição brasileira da Companhia das Letras -> aqui). A primeira página relembra a primeira exibição da ópera “Salome”, de Richard Strauss, em 1906. Bem mais pra frente (após duas guerras mundiais, uma guerra fria, jazz, tonalidade, dodecafonia, Beatles e Stockhausen – um cem número de passagens interessantes que vão necessitar serem revistas em uma segunda leitura com o site do livro de apêndice), na página 532, Alex Ross versa sobre o minimalismo e o rock and roll. O que dá uma pequena ideia da grandiosidade de “O Resto é Ruído – Escutando o Século XX” é você imaginar que todos os nomes do primeiro parágrafo abaixo foram dissecados antes em longos capítulos do livro:

“O minimalismo não é tanto a história de um tipo de som, mas de uma cadeia de eventos. Schoenberg inventou a dodecafonia; Webern encontrou um silêncio secreto em seus padrões; Cage e Feldman abandonaram as sequencias e enfatizaram o silêncio. Young diminuiu o ritmo da sequencia e a tornou hipnótica. Riley sistematizou o processo e lhe conferiu profundidade de campo; Glass imprimiu um momentum motorizado. O movimento não parou por ai. A partir dos anos 60, uma pequena legião de artistas populares, encabeçada pela banda Velvet Underground, levou a proposta minimalista ao grande público. Como Reich declarou mais tarde, havia uma “justiça poética” nessa mudança de papéis: assim como ele outrora se sentira fascinado por Miles Davis e Kenny Clarke, personalidades do pop em Nova York e Londres passaram a se embevecer de seu trabalho.

Às vésperas de sua revolução gradual, Reich tinha um bocado de música pop soando em seus ouvidos. Ele não ouvia apenas jazz, mas também rock e r&b. Em uma entrevista, ele citou duas canções dos anos 60 que faziam a gesticulação minimalista se concentrar em apenas um acorde: “Subterranean Homesick Blues”, de Bob Dylan, e “Shotgun”, de Junior Walker. (A sua) “It’s Gonna Rain” tem algo em comum com “A Hard Rain’s a-Gonna Fall”, de Bob Dylan, que combina profecia bíblica com a angústia da era atômica num hino que anuncia um juízo final iminente.

O Velvet Underground surgiu na forma de uma conversa musical entre Lou Reed – um poeta transformado em compositor com uma voz dolorida e decadente – e John Cale, o sonolento violonista do Theatre of Eternal Music de La Monte Young. O início da carreira de Cale dá uma boa visão do panorama do horizonte musical do final do século XX: ele estudou no Goldsmiths College em Londres com Humphrey Searle, um discípulo de Webern; mudou para composição conceitual ao estilo de Cage, do Fluxus e de La Monte Young; chegou aos EUA com uma bolsa de estudos para Tanglewood; provocou lágrimas em madame Kussevítskaia ao realizar um trabalho que exigiu a destruição de uma mesa com um machado; foi para Nova York com Xenakis; fez sua estreia tocando no espetáculo de John Cage para “Vexations”, de Satie; e acabou entrando para o conjunto de Young. Em sua autobiografia, Cale afirma que um de seus deveres era conseguir drogas para as apresentações do Eternal Music. Consta que as transações eram conduzidas por um código musical: “seis compassos de sonata para oboé” significava “seis onças de ópio”.

Lou Reed entrou em cena em 1964. Na época estava compondo canções kitsh para uma compania fonográfica chamada Pickwick Records. Por razões que até hoje permanecem obscuras, a Pickwick contratou três músicos da Eternal Music – Cale, Tony Conrad e o baterista e escultor Walter De Maria – para ajudar Reed na apresentação do que deveria ter sido uma novidade de sucesso chamada “The Ostrich”. O plano não deu em nada, mas os músicos da Eternal Music se deram bem com Lou Reed, que estava conduzindo experiências independentes com novos temas e modos. A primeira banda de Reed e Cale chamava-se Primitives. Pouco mais tarde, com Sterling Morrison na guitarra e o percussionista do Eternal Music Angus MacLise na bateria, eles viriam a ser o Velvet Underground.

A principio o Velvet se especializou em happenings e filmes underground. Depois o grupo começou a fazer shows de rock convencional. MacLise desistiu, recusando qualquer formato que o obrigasse a começar e parar em um momento especifico da música. Foi substituído por Maureen Tucker, baterista com um rígido toque minimalista. Um show na véspera de ano novo de 1965 chamou a atenção de Andy Warwol, que se ligou à banda num evento multimídia chamado Exploding Plastic Inevitable. Finalmente um álbum foi lançado em 1967, com algumas músicas cantadas pela modelo alemã Nico com sua voz de boneca. “The Velvet Underground & Nico” vendeu mal na época, mas hoje é reconhecido como um dos mais brilhantes e ousados disco de rock já gravados.”

fevereiro 5, 2012   No Comments

Aldous Huxley, 1949

Adaptado por Marcelo Costa 

“Crueldade e compaixão vêm com os cromossomos.
Todos os homens são bons e todos são assassinos;
Afeiçoados aos cães, constroem campos de concentração;
Queimam cidades inteiras e acariciam os órfãos;
Clamam contra linchamentos, mas apoiam a pena de morte;
Fazem projetos de filantropia, e agências como o DOI-CODI;

Quem devemos perseguir, quem lamentar?
É tudo questão de modas do momento,
De jardins de infância comunistas e primeiras comunhões;
Só no conhecimento de sua própria essência
Deixam de ser os homens um bando de macacos…”

***

Trecho do livro “O Macaco e a Essência“, de 1949

janeiro 27, 2012   1 Comment

A vitória da baixa cultura

“Na primavera de 1917, as plateias parisienses provaram uma amostra dos loucos anos 20, durante um dos períodos mais sangrentos da guerra, quando os Aliados lançaram a mal planejada ofensiva Nivelle e os alemães reagiram com uma estratégia de defesa letal. Em 18 de maio, seis anos depois da morte de Gustav Mahler, os Ballets Russes chocaram a capital francesa mais uma vez apresentando uma tumultuosa produção de estilo circense intitulada ‘Parade’. A lista de participantes era composta de astros de primeira grandeza: Erik Satie compôs a música, Jean Cocteau criou o libreto, Pablo Picasso concebeu o cenário e o figurino, Léonide Massine coreografou, Guillaume Appolinaire escreveu as notas do programa (para as quais inventou a palavra ‘surrealismo’) e o empresário Diáguiliev forneceu o escândalo. (…) O enredo de ‘Parade’ trata, com humildade, do tema da relevância: como pode uma forma de arte antiga, como a música clássica ou o balé, continuar atraindo o público na era do pop, do cinema e do gramofone? Numa feira em Paris, os gerentes de um teatro ambulante recorreram a várias artistas de ‘music hall’ – acrobatas, um mágico chinês, uma garotinha americana – para atrair os transeuntes. Mas as atrações secundarias se mostraram tão interessantes que o público se recusou a entrar. Assim, a baixa cultura passa a ser a principal atração”.

Trecho de “O Resto é Ruído”, de Alex Ross (Companhia das Letras)

setembro 27, 2011   No Comments

Três livros bacanas (dois em promoção)

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Espero que quando você, caro leitor, estiver lendo esse post, os livros acima ainda não estejam esgotados:

1) “Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano”, de Martin Scorsese e Michael Henry Wilson em edição lindaça da Cosac Naify por R$ 9,90 na Livraria Saraiva (aqui)

2) “Como a Geração Sexo-drogas-e-rock’n’roll Salvou Hollywood”, de Peter Biskind, da Editora Intrinseca com tradução fodaça da Ana Maria Bahiana por R$ 9,90 na Fnac (aqui)

Com o frete, cada um dos livros sai mais ou menos por R$ 14. Vale o investimento. “Compre três: dê um para o seu amor e outro para o seu melhor amigo” (aspas adaptadas de André Forastieri escrevendo sobre “Nevermind”, do Nirvana, na revista Bizz em 1991).

No Scream & Yell existem duas resenhas bem bacanas do livro do Peter Biskind (leia aqui), a primeira do Gabriel Innocentini e a segunda do Ismael Machado, repórter especial do Diário do Pará que está lançando “Sujando os Sapatos – O Caminho Diário da Reportagem”. Interessado? Contate o Ismael aqui: ismael.machado@hotmail.com

agosto 24, 2011   No Comments

A armadilha de uma descrição verbal

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Trecho do prefácio do livro “Escuta Só”, de Alex Ross:

“Escrever sobre música não é especialmente difícil. Quem cunhou o epigrama “Escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura” — a declaração foi atribuída em diferentes momentos a Martin Mull, Steve Martin e Elvis Costello — estava turvando as águas. A crítica musical é certamente uma ciência curiosa e dúbia, e seu jargão varia do inexpressivo (“A Quinta de Beethoven começa com três sóis e um mi bemol”) ao floreado (“A Quinta de Beethoven começa com o destino batendo à porta”). Mas não é mais dúbia do que qualquer outro tipo de crítica. Toda forma de arte luta contra a armadilha de uma descrição verbal. Escrever sobre dança é como cantar sobre arquitetura, escrever sobre literatura é como fazer edifícios sobre balé. Há uma fronteira envolta em névoa que a língua não pode atravessar. Um crítico de arte pode dizer de Laranja e amarelo de Mark Rothko que a tela consiste de uma área de tinta amarela que flutua acima de uma área de tinta cor de laranja, mas de que serve isso para alguém que nunca viu um Rothko? O crítico literário pode copiar algumas linhas da “Esthétique du mal”, de Wallace Stevens —

And out of what sees and hears and out
Of what one feels, who could have thought to make
So many selves, so many sensuous worlds…

— mas quando tenta explicar o significado desses versos, quando tenta expressar sua música silenciosa, outra dança irrealizável se inicia. Então por que se arraigou a ideia de que há algo de peculiarmente inexpressivo na música? A explicação pode não estar na música, mas em nós mesmos. (…) A “Grande Enciclopédia Soviética”, em um de seus momentos mais sensatos, definiu a música como “uma variante especifica de som feito por pessoas”. No fim das contas, a parte difícil de escrever sobre música não é descrever um som, mas um ser humano. É um trabalho delicado, pretensioso no caso dos vivos e especulativo no caso dos mortos”…

“Escuta Só”, de Alex Ross, foi lançado pela Companhia das Letras no Brasil

agosto 3, 2011   No Comments

Palestras de Alex Ross no Rio e em SP

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Para abrir o ciclo de grandes conferências em comemoração de seus 25 anos, a editora Companhia das Letras traz ao Brasil o escritor e crítico de música Alex Ross para palestras em São Paulo e Rio de Janeiro. Alex Ross é crítico de música da revista New Yorker. Seu primeiro livro, “O resto é ruído — Escutando o século XX” (Companhia das Letras, 2009), foi finalista do prêmio Pulitzer.

Sob o título de “Chacona, lamento, walking blues: linhas de baixo da história da música”, Ross falará sobre a história da música passando pelo período Renascentista até os tempos atuais e sobre como a dança sul-africana conhecida como Chacona tornou-se tão influente para compositores clássicos. Esses e outros assuntos podem ser lidos no livro “Escuta Só” (com lançamento previsto para dia 2 de agosto no Brasil), que reúne ensaios inéditos e textos publicados na revista New Yorker, da qual o autor é crítico musical desde 1996.

Na quinta-feira, dia 04/08, o evento acontece a partir das 19h, na Sala São Paulo. A entrada é gratuita, mediante confirmação prévia por e-mail. Já no Rio de Janeiro, a palestra acontece no sábado, dia 6, no IMS – Instituto Moreira Salles, a partir das 18h. Os ingressos custarão R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia-entrada) e já estão a venda.

Serviço:

São Paulo:
Quinta-feira, 4 de agosto de 2011, às 19h
Sala São Paulo
Praça Julio Prestes, 16 – Luz
Grátis. Lugares limitados. Confirme sua presença pelo e-mail rsvp@companhiadasletras.com.br. Válido para duas pessoas.

Rio de Janeiro:
Sábado, 6 de agosto de 2011, às 18h
IMS – Instituto Moreira Salles
Avenida Marquês de São Vicente, 476 – Gávea
Tel.: 21 3284-7400

agosto 1, 2011   No Comments

De Luis Buñuel para Erasmo Carlos

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Sai o surrealismo e entra a jovem guarda. Troca necessária neste momento. Em sua excelente biografia (recomendadíssima), o cineasta espanhol inspira a desordem, provoca o pensamento e instiga o caos social. Não há como ficar alheio ao mundo, e isso pode até enlouquecer (no mínimo garantir uma boa dor de estômago). Extremamente inspirador. E (deliciosamente) perigoso.

Por sua vez, em “Minha Fama de Mau”, Erasmo Carlos mostra toda a inocência dos primeiros anos do rock and roll. De mau Erasmo (e a jovem guarda) não tinha nada. Basta colocar lado a lado um filme de Buñuel de 1930 (“A Idade do Ouro”) e uma música de Erasmo e Roberto de 1963 (“Parei na Contramão”). 60 anos separam as duas obras, e quem era mau mesmo?

Erasmo narra um punhado de histórias inocentes de um garoto pobre do bairro da Tijuca. De causos de adolescência a histórias da jovem guarda (incluindo passagens de parcerias com Roberto até exemplos de sua rotina ao lado de um homem com toc), os capítulos surgem com um verniz de inocência que caracteriza (e muito) o período. Parecia não haver maldade. É tudo tão simples que, por vezes, soa simplório.

“Tocaram a campainha e fui atender. Tinha 17 anos e vivia com minha mãe – e os gatos, os periquitos e o cágado – no quarto alugado da rua Professor Gabizo. O tal casarão de beleza decadente, com seus azulejos coloniais e suas incontáveis pulgas. Na porta, estavam Trindade, Arlênio e um outro cara, que eles queriam me apresentar. O sujeito morava no bairro de Lins de Vasconcelos e se chamava Roberto Carlos. Ele fizera parte do Sputnicks e, com o fim do grupo, resolvera seguir em carreira solo. Já cantava boleros e sambas-canção em sua terra natal, Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.

Gostei dele. Era simpático, usava topete e costeletas e vestia calça faroeste com uma jaqueta vermelha tipo James Dean. Conversamos bastante sobre rock, bebemos água da moringa de barro que eu tinha no quarto e comemos biscoito Aymoré. Num certo momento, a meu pedido, ele afinou o precário violão de cravelhas de pau que eu havia ganhado da minha avó Maria Luiza pouco tempo antes e cantou “Tutti Frutti” e “Don’t Be Cruel”. Arlênio e Trindade iniciaram um vocal que timidamente apoiei. Eu não tocava nem cantava, mas tinha a intenção de aprender. Foi demais!

O motivo daquela visita era saber se eu tinha a letra de “Hound Dog”, o grande hit de Elvis Presley que tocava adoidado nas rádios – Bill Halley ans His Comets viriam se apresentar em breve no Maracanãnzinho e o Clube do Rock, do qual Roberto fazia parte, iria fazer o pré-show. Ele queria aprender a canção e incluí-la no seu repertório.

Eu tinha a letra e prontamente o atendi, recorrendo aos meus arquivos musicais. Naquele mesmo instante ele começou a treinar o seu inglês capixaba enquanto levava sua batida com meu violão. Na saída, entre abraços e piadas sobre as pulgas, agradecido pela hospitalidade, ele disse a frase que mudaria minha vida:

‘Bicho, aparece lá na televisão.’”

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Erasmo com Tim Maia

Leia também:
– De Stanley Kubrick para Luis Buñuel (aqui)
– Luis Buñuel e uma estranha reunião de fantasmas (aqui)
– Luis Buñuel: o que aconteceu com o surrealismo? (aqui)
– Luis Buñuel: o bar é um exercício de solidão (aqui)

março 25, 2011   No Comments