Random header image... Refresh for more!

Category — Literatura

O livro (e o show) de Lee Ranaldo em SP

Força tarefa de Nilson Paes, Marcelo Viegas e Fábio Massari, a Editora Terreno Estranho está lançando no Brasil o livro “Jrnls 80’s: Poemas, Letras, Cartas, Anotações e Cartões-Postais dos Primeiros Anos do Sonic Youth”, de Lee Ranaldo! A noite de autógrafos com direito a show de Lee acontecesse dia 12/12 no CCSP. Imperdível. Falo um pouco mais no vídeo abaixo.

dezembro 5, 2017   No Comments

Shakespeare e eu

Comecei a rever “Hamlet” (1996), a maravilhosa epopeia do Kenneth Branagh com 4h20 de duração que é das minhas adaptações favoritas da obra de Shakespeare, e quando percebi me vi relembrando da primeira vez que li o Bardo e já estava mandando uma mensagem pruma das bibliotecas da minha vida via Facebook:

“Olá! Meu nome é Marcelo, moro em São Paulo desde 2000, mas cresci em Taubaté e durante muito tempo peguei livros emprestados ai da biblioteca (posso dizer orgulhosamente que ela ajudou a me definir – risos). Nessa época havia ai uma coleção do Shakespeare, vários volumes (entre 15 e 20), com capa azul. Eu gostaria de saber se vocês ainda tem essa coleção a disposição do leitor e se poderiam identificar editora e edição, pois eu sonho vez em quando com essa coleção, e gostaria de tê-la em casa 🙂 É uma edição comentada de várias peças do Shakespeare.”

Hoje cedo o pessoal da biblioteca me respondeu gentilmente acrescentando essas duas fotos da coleção que me encantou quase quatro décadas atrás e então descubro que tudo do que li de Shakespeare na primeira (e segunda) vez (no começo dos anos 80) foi de uma coleção de 36 volumes de… Portugal (uma coleção mui provavelmente doada por alguma boa alma) – tenho ainda comigo desde sempre dois volumes da Editora Abril com 4 tragédias e 4 comédias datado de 1981, mas a minha base foi essa coleção portuguesa.

A primeira vez que li essa coleção foi entre os 11 e 12 anos. Como é de se imaginar, muita coisa passou batido por mim, mas a paixão foi tanta que reli essa coleção completa durante a crise dos 17 (pré e durante o Serviço Militar Obrigatório).

A edição é datada de 1955 e é da Lello & Irmãos, uma editora do Porto (também livraria). Soube através de um amigo português no Facebook que “a Livraria Lello ainda existe no mesmo local e é a mais incrível livraria de Portugal e uma das mais lindas do mundo. Paragem obrigatória se um dia fores ao Porto”. Dica anotada! Adoro essa edição da Lello das obras de Shakespeare porque muitos dos textos vem com um apêndice informativo primoroso, que amplia demais o olhar sobre a obra.

Numa busca na web cai nesse texto do Fernando Simões Garcia e compartilho a salvação do autor neste trecho delicioso que analisa as traduções de Shakespeare para o português:

“Fernando Pessoa escreveu o seguinte sobre a edição da Lello & Irmãos:

‘Apenas folheei, e nem uma linha li, das traduções que o sr. dr. Domingos Ramos terá imortalmente que expiar. Porque não é com a competência de tradutor-de-inglês do sr. dr. Ramos que eu implico e esbarro. É com a sua competência para traduzir Shakespeare, visto que lhe cai em cima e o reduz a prosa’.

Muito mais sensível do que eu, Fernando Pessoa rejeitou pela capa os volumes que me salvariam — pela qualidade e pelo tamanho. Trinta e seis volumes. Apostei metade do meu salário neles. Foi uma aposta. Eu não sabia da qualidade do que eu comprava. A edição foi composta por cinco ou seis tradutores. Todos eles com seu estilo. Sem regras fixas, cada um foi moldando a peça traduzida à medida de si próprio.

António de Castilho, por exemplo, que traduziu o Fausto — e há quem o acuse de o ter feito sem saber alemão — compôs em verso próprio o seu A Midsummer Night’s Dream. Sem notas, sem ensaio introdutório. Castilho negligenciou tudo, menos a poesia. O resultado, que não é do meu gosto, pode agradar a quem tenha o espírito mais movimentado. Não deixa de ser curioso, no entanto, esse esforço — e essa disparidade de tradutores, de inclinações intelectuais. Em contraposição, o Dr. Ramos, o Dr. condenado pelo Pessoa, é certamente o tradutor mais judicioso que possa existir. Traduziu diversas peças, todas elas bem alimentadas de ensaios introdutórios e notas explicativas.

O exemplo mais elevado é a tradução de Júlio César: o Dr. Ramos seguiu, passo a passo à letra do Bardo, a narrativa de base que deu origem à peça: a vida de Júlio César de Plutarco. O leitor que tenha paciência de folhear o volume achará ali uma sobrevida, uma camada a mais da personalidade vibrante e do destino trágico de César. As notas são exaustivas, completas, pra latinista nenhum botar defeito. Outro tradutor: Henrique Braga. Traduziu, entre outras, Troilus e Créssida. Sua obsessão com os tradutores franceses — os mesmos de que Machado de Assis fez largo uso — é esclarecedora. Ele compara, estuda e até repara as traduções feitas para o francês. Às vezes chega a dizer que são péssimas traduções, as dos franceses. O homem é ousado.

Com exceção de 4 ou 5 das Comédias, li todo o Shakespeare pela edição da Lello & Irmãos. Não me arrependo. Mesmo hoje, lendo em inglês, volto a elas. A tradução é sempre precisa. Sempre clara. Feita numa época em que as pessoas sabiam escrever em língua portuguesa.

O traço mais elevado dessa edição é a pluralidade. Cada tradutor expandiu a sua própria personalidade e o seu próprio gosto — e o modo pelo qual o gôsto se desenvolve — carregando à ponta do lápis as suas expressões e preferências mais íntimas. Sem a uniformidade tão característica das edições de hoje, a sensação que tive foi a de estar lidando com gente real — gente que leu, estudou e amou a obra de William Shakespeare.”

Pessoas como eu. Talvez você. <3

Leia a integra da esplendorosa análise do Fernando Garcia aqui.

Ps 2023: Consegui finalmente comprar a coleçãio completa <3

outubro 25, 2017   No Comments

O punk rock por Peter Hook

Nunca definiram o punk rock tão bem quanto Peter Hook, ex-baixista do Joy Division e do New Order, no divertidíssimo livro “Joy Division: Unknown Pleasures”:

setembro 23, 2017   No Comments

Livro de Lee Ranaldo ganhará edição nacional

Publicado originalmente em 1998, “jrnls80s – Poems, Lyrics, Letters, Observations, Wordplay and Postcards from the Early Days of Sonic Youth”, de Lee Ranaldo, irá ganhar edição nacional nos próximos meses. O livro compila relatos de Lee Ranaldo sobre os primeiros anos de estrada do Sonic Youth, poesia, rascunhos de letras e doideiras. Segundo Marcelo Viegas, que está cuidando da parte editorial do livro (e lançou recentemente seu próprio livro, “Então? Coletânea de entrevistas de Música, Skate e Arte”), “jrnls80s é tão experimental quanto um disco do Sonic Youth: tem momentos ‘normais’ e coisas bem dissonantes”. O lançamento está em fase final de tradução devendo chegar nas livrarias entre setembro e outubro por uma nova editora, a Terreno Estranho.

Leia também:
– Lee Ranaldo desfila Fenders detonadas em show no Largo da Batata (aqui)
– Intimismo valoriza “Sonic Youth: Sleeping Nights Awake” (aqui)
– “Girl in a Band”, de Kim Gordon, uma intensa confissão de fracasso (aqui)
– “1991 – The Year Punk Broke”: difícil não se apaixonar por Kim (aqui)
– Thurston Moore em SP: “Vocês estão sentindo o gosto do inferno? (aqui)
– Faixa a Faixa: “Murray Street”, do Sonic Youth (aqui)
– Claro Que é Rock 2005: Sonic Youth cansa em um show sonolento (aqui)
– “Between The Times And The Tides”, um belo disco de Lee Ranaldo (aqui)
– “Demolished Thoughts”, Thurston Moore soa interessado em sossego (aqui)

julho 11, 2017   No Comments

Thom Yorke, Radiohead e Talking Heads

“O nome do Radiohead vem de uma música obscura dos Talking Heads, e o (álbum) “Remain in Light” mudou a vida de Thom Yorke. Não apenas musicalmente, mas em termos de letra também. “Ouvi ele sem parar, mas nunca olhei as letras”, diz Thom Yorke. “Quando finalmente olhei, fiquei muito assustado. Quando fizeram “Remain in Light”, eles não tinham canções de verdade, foi tudo composto no caminho. David Byrne aparecia com páginas e páginas e simplesmente pegava coisas e acrescentava pedaços todo o tempo. E foi essa a minha abordagem com “Kid A”… Jerry Harrison, o tecladista dos Talking Heads, apareceu em um dos nossos shows, e ai foi parar no camarim. Coitado, depois que percebemos quem era, interrogamos ele por horas sobre “Remain in Light” – ‘usaram loops ou tocaram tudo?’ E eles tocaram tudo, apesar de soar como loops de fita de rolo. Você sabe a história sobre “Overload”? Eles tinham lido sobre o Joy Division pela primeira vez na NME, e pensaram “isso parece interessante” e decidiram fazer uma música baseada no que eles achavam que seria o Joy Division… sem nunca ter escutado a banda”.

Trecho da reportagem “Walking On Thin Ice”, de Simon Reynolds, publicada na revista Wire, em 2001, e, traduzido, presente na coletânea de textos “Beijar o Céu”, lançada pela Conrad. Leia o texto original na integra.

abril 5, 2017   No Comments

Patti Smith: Só Garotos e Linha M

No final do ano, após começar lento e arrastado (mas insistir e ser premiado por isso com grandes histórias), terminei a biografia do Leonard Cohen (escrevi sobre ela aqui). Estava em Uberaba, na casa dos Callegari, e sabendo estar na reta final da bia do Leonard, levei “Só Garotos” (“Just Kids”), da Patti Smith, para ler, já que a Lili já havia lido e eu decidi presenteá-la com “Linha M”, o novo livro da Patti. Eu sei, eu já devia ter lido “Só Garotos” (aliás, entendo a tradução coloquial de “Just Kids”, mas poeticamente ficaria tão melhor “Apenas Garotos”), mas o Gabriel já tinha escrito um belo texto sobre o livro para o Scream & Yell em janeiro de 2011, e eu sempre costumo evitar ler livros que já foram resenhados pro site para tentar ler outra coisa e resenhar também. Mas, claro, um dia eu ia ter que ler “Just Kids”.

Dai comecei no embalo do livro do Cohen, e foi emocionante ler muitas das quase mesmas histórias sobre o Chelsea Hotel, o mítico hotel nova-iorquino que foi casa dos dois poetas e mais uma enorme constelação de artistas e gênios. Por exemplo: Ali pelo meio da bio do Leonard Cohen (mais precisamente, a partir da página 191), Harry Smith entra em cena. Cohen frequentava o ap de Smith (responsável por um dos tesouros da música norte-americana: “Anthology of American Folk Music”) e depois a galera se reunia no bar El Quijote. Harry é um personagem secundário bastante presente no livro de Patti, que também vai ao El Quijote com a galera. Patti não chega a citar Leonard, mas a biógrafa de Cohen conta que Leonard levou Patti para declamar poemas no Canadá nessa época. Tudo conectado.

Você deve saber, mas “Só Garotos” é o livro que Patti Smith prometeu escrever para Robert Mappelthorpe, seu amigo, amante, namorado, alma gêmea (morto no final dos anos 80, aos 46 anos, por complicações derivadas da Aids). Por isso, como era de esperar, derramei um pint de lágrimas ao final do livro (um bom tanto pela emoção das últimas páginas, sinceras, poéticas e extremamente doloridas; outro tanto, menor, de lágrimas presas pela incerteza no âmago nesses dias cinzas que estamos vivendo / sofrendo, e que aproveitaram pra descer juntas – sabe quando você desembesta a chorar por “motivo banal”? No meio da rua? Então, tipo isso). “Só Garotos” é um belíssimo atestado de amor e entrega à arte de duas pessoas incríveis. Agora é partir para “Linha M”… 💖

Ps. Nos últimos dias do ano, já em São Paulo, no dia do aniversário de 70 anos da Patti, me lembrei desse texto acima que eu havia escrito para a revista Rock Life uns 10 anos atrás. Atualizei e publiquei-o no Scream & Yell (e publiquei aqui no blog um trechinho matador do “Só Garotos”, leia).

– Um texto de apêndice (do blog da WFMU): Harry Smith: “The Paracelsus Of The Chelsea Hotel” => https://goo.gl/LLtYmp

– Outro texto de apêndice (que eu escrevi em 2003): Bob Dylan, Martin Scorsese e a História Universal => https://goo.gl/N4toCe

janeiro 10, 2017   No Comments

Patti Smith, CBGB e Television

Trecho do livro “Só Garotos” (“Just Kids”), de Patti Smith, lançado no Brasil pela Companhia das Letras

“Paramos na frente de um barzinho na Bowery chamado CBGB. Havíamos prometido ao poeta Richard Hell que passaríamos para ver a banda em que ele tocava baixo, o Television. Não fazíamos ideia do que esperar, mas fiquei me perguntando como seria a abordagem de outro poeta do rock and roll. Eu costumava ir àquele trecho da Bowery para visitar William Burroughs, que morava a poucos quarteirões do bar, em um lugar chamado Bunker. Era a rua dos bêbados, e eles costumavam fazer fogo em grandes latões de lixo para manter o calor, cozinhar ou acender seus cigarros. Dava para ver da rua essas fogueiras acesas perto da porta de William, como vimos naquela bela noite pascal.

O CBGB era um salão comprido e estreito com um bar do lado direito, iluminado pelos luminosos de propaganda de várias marcas de cerveja. O palco era baixo, do lado esquerdo, ladeado por murais de fotografias de beldades da virada do século em trajes de banho. Passando o palco, havia uma mesa de bilhar, e, nos fundos, uma cozinha engordurada e uma sala onde o dono, Hilly Krystal, trabalhava e dormia com seu galgo persa, Jonathan. A banda tinha um lado áspero, a música era errática, rígida e emotiva.

Gostei de tudo, dos movimentos espasmódicos, dos floreios jazzísticos do baterista, das estruturas musicais desconexas e orgásmicas. Senti uma afinidade com o estranho guitarrista da direita. Era alto, cabelo cor de palha, e seus dedos compridos e graciosos davam a volta na guitarra como se fossem estrangulá-la. Tom Verlaine definitivamente havia lido Uma temporada no inferno. Entre as entradas da banda, Tom e eu não conversamos sobre poesia, mas sobre os bosques de Nova Jersey, as praias desertas de Delaware e discos voadores pairando nos céus do Oeste. Descobrimos que havíamos sido criados a menos de vinte minutos um do outro, ouvimos os mesmos discos, vimos os mesmos desenhos animados, e ambos adorávamos As mil e uma noites.

Terminado o intervalo, o Television voltou ao palco. Richard Lloyd pegou sua guitarra e dedilhou a abertura de “Marquee Moon”. Era um mundo distante do Ziegfeld. A ausência de glamour tornava tudo mais familiar, um lugar que podíamos chamar de nosso. Quando a banda estava tocando, dava para ouvir o som do taco de bilhar espalhando as bolas, o cachorro latindo, garrafas se chocando, sons de uma cena que emergia. Sem que ninguém soubesse as estrelas estavam se alinhando, os anjos estavam chamando.”

Leia também:
– Um clássico: “Horses”, o primeiro disco de Patti Smith (aqui)
– “Só Garotos” é para todos aqueles que ainda acreditam no amor (aqui)

janeiro 7, 2017   No Comments

Trecho da biografia dos Engenheiros do Hawaii

infinita

A pedido do Scream & Yell, o jornalista Alexandre Lucchese, autor da primeira biografia do Engenheiros do Hawaii, “Infinita Highway: Uma Carona com os Engenheiros”, lançada em outubro deste ano pela editora Belas Letras, liberou um trecho do livro para leitura. Confira ainda a entrevista que Lucchese concedeu à Janaina Azevedo e publicada no Scream & Yell. Abaixo, um trecho exclusivo da biografia.

***

Humberto Gessinger, Marcelo Pitz e Carlos Maltz caminhavam pelos labirínticos corredores da Penitenciária Estadual do Jacuí, em Charqueadas, quase chegando ao que pensavam ser finalmente a saída daquele emaranhado de paredes e grades. Sem jamais terem ali entrado, eram guiados por um membro da instituição, ao qual seguiam enquanto jogavam conversa fora.

– E então, o que achou do show? – perguntou o guia a Gessinger.

– Foi bacana. O pessoal foi legal. Um cara até me disse que tinha uma banda, pediu se eu tinha umas cordas velhas de guitarra, aí passei para…

Antes de terminar de ouvir a frase, o guia saiu correndo na direção oposta à que estavam seguindo. Atônitos com a súbita mudança de orientação, os Engenheiros do Hawaii tentaram ir atrás de seu cicerone, mas viram que ele já andava longe, passando por grades que eles não saberiam transpor. Sem saber como ir adiante, ficaram em uma espécie de purgatório entre a liberdade e as celas.

Então guitarrista do grupo, Gessinger jamais havia feito outro uso para as cordas de seu instrumento além de atarraxá-las firmemente na sua Giannini para tocar as bases e solos das músicas que fazia. Do outro lado da grade, no entanto, havia quem pudesse transformar uma simples corda de aço em um artefato mortal – ainda mais se já tivessem em sua ficha criminal casos de enforcamento. Só depois dos oficiais da penitenciária terem retirado as cordas do meio dos presidiários é que o grupo conseguiu sair do prédio.

Não há uma data precisa, mas o show dos Engenheiros na Penitenciária de Charqueadas ocorreu no último trimestre em 1985, quando a banda já era “bastante conhecida”, como conceituou o repórter Cunha Jr, em uma matéria sobre o evento para a programação local da TV Cultura. No vídeo, é possível ver Gessinger solando sua guitarra por alguns segundos, seguido de cenas de presidiários cantando sambas e boleros, além de alguns internos aproveitando o microfone de televisão para questionar porque seguiam ainda na prisão, já que supostamente já teriam cumprido suas penas.

Além da apresentação dos Engenheiros do Hawaii, havia também grupos que se desenvolveram na própria penitenciária tocando no mesmo dia. Os roqueiros de classe média da capital foram parar ali por incentivo do então produtor do grupo, Ricardo Martinez, amigo de infância de Carlos Maltz. Martinez tinha pessoas próximas envolvidas na organização do festival, e empolgou os rapazes para incrementar a programação como convidados de fora.

– Lá dentro o clima foi supernormal, mas era louco porque entrar lá com uma banda chamada Engenheiros do Hawaii valia mais pelo gesto do que pelo som. Não havia conexão, era uma coisa que estava começando no Brasil, e aquelas pessoas tinham anos de diferença. Não era como Johnny Cash ou B.B. King tocando numa penitenciária americana, fazendo um som que era tradicional para os detentos – contextualiza Gessinger.

engenheiros

Veja também:
– Alexandre Lucchese: “Os guris não deviam ser fáceis de trabalhar” (aqui)
– Download: Scream & Yell lança tributo aos Engenheiros (aqui)
– Ao vivo: Humberto Gessinger segue em frente dignamente (aqui)
– Gessinger: “Não há planos para nenhuma volta dos EngHaw” (aqui)

novembro 29, 2016   No Comments

Julio Reny: Histórias de Amor e Morte

“O livro é fruto de mais de um ano e meio de intensivas entrevistas – “psiquiátricas”, melhor dizendo – com o Julio Reny. É todo em primeira pessoa (ao contrário da maioria das biografias que se lê por aí, que são em terceira pessoa), o que exigiu do biógrafo um verdadeiro exercício de estilo e de paráfrase em sua consecução. Aborda a vida do Julio desde o nascimento até os dias de hoje, passando por suas atuações fora da música (foi ator de teatro e de cinema – em filmes geracionais como Deu Pra Ti Anos 70 e Verdes Anos – e, também, radialista na finada Ipanema FM, onde produziu radiofônicos que marcaram época, como o Rádio Cool e o Negras Melodias); e, na música, onde teve bandas como Um Canção Nas Trevas (sua primeira), Expresso Oriente, Guitar Band, Cowboys Espirituais e Irish Boys. Na biografia, Julio conta, sem pudores e papas na língua, a respeito de sua drogadição e alcoolismo e, ainda, revive fatos dolorosos de sua trajetória, em especial a morte trágica de sua primeira mulher, a produtora de cinema e teatro Jaqueline Vallandro, autora de seu hit maior, “Amor & Morte”. Julio também fala de seu pesar por, na década de 80, durante o “boom” do rock gaúcho e brasileiro, ter, como ele diz, perdido a “corrida das gravadoras”, o que lhe condenou a eternamente ser um artista maldito – como ele mesmo se autodefine, um outsider. São mais de 20 capítulos – os quais levam o nome de canções emblemáticas de sua obra – entremeados por depoimentos de personagens importantes de sua trajetória, como Carlos Eduardo Miranda, Edu K, Carlo Pianta e de sua filha com Jaqueline, Consuelo Vallandro. A biografia é franca de doer:o Julio, de fato, não esconde nada e não se poupa em momento algum. Escolhi biografá-lo porque, desde a época de Gauleses Irredutíveis (ele foi o primeiro a ser sabatinado entre os 167 que dão seu depoimento ao livro), quando fiquei impressionado com o vulto histórico do sujeito a minha frente, principalmente com as heroicas (e, mais uma vez, psiquiátricas) histórias que envolveram a sua concepção. Aquele encontro há mais de uma década ficou latente, até o dia (2013) em que resolvi lhe procurar e propor fazer a biografia. No princípio, ele, que não gosta de falar sobre o seu passado, por conta das dores que lhe acarreta, não estava muito empolgado, mas depois foi entrando no clima definitivamente e, por fim, desaguou o verbo. Meu feeling jornalístico me dizia que eu tinha ali um personagem excepcional em sua história de vida e na arte – e esse feeling, pra minha satisfação, cumpriu-a inteiramente”,
Cristiano Bastos.

junho 30, 2015   No Comments

Uma playlist e um texto sobre Galveston

Badalado pelo sucesso da série “True Detective”, o criador, roteirista e escritor Nic Pizzolatto tem seu primeiro romance, “Galveston” (2010), lançado agora no Brasil, e fãs da série vão encontrar muita coisa em comum (e bacanas) entre o roteiro e o livro. Eu ainda não tinha assistido a série, e mergulhei nos oito episódios em três dias. Na sequencia, devorei o livro, e as duas narrativas soaram irmãs em vários aspectos. A pedido da editora Intrínseca escrevi sobre “Galveston” e meu foco foi na fixação de Pizzolatto pelos fracassados e um tipo meio torto de redenção: os personagens passam uns mal bocados antes de ter algo tátil para faze-los sorrir, ainda que este algo esteja muito distante do padrão romantizado de Hollywood, porque Pizzolatto fala de um outro Estados Unidos em “True Detective” e “Galveston”, ele fala do Texas e da Louisiana. Assim como fiz quando escrevi (aqui) de “Circo Invisível”, primeiro romance de Jennifer Egan, preparei uma trilha sonora inspirada em alguns artistas citados no livro. Se no “Circo Invisível” de Egan, a sonoridade começava no flower power e terminava no punk, em “Galveston” ela é totalmente country sulista de boteco. Leia o texto sobre “Galveston” aqui.

01 – Billy Joe Shaver – “Good Ol’ USA”
02 – Roy Orbison – “Uptown”
03 – Glen Campbell – “Lovesick Blues”
04 – Conway Twitty & Loretta Lynn – “Louisiana Woman, Mississippi Man”
05 – Hank Williams – “Lost Highway”
06 – Willie Nelson – “I Gotta Get Drunk”
07 – Johnny Cash – “I Walk the Line [Alternate Take]”
08 – Merle Haggard – “The Fugitive”
09 – Loretta Lynn – “Trouble In Paradise”
10 – Waylon Jennings – “Just To Satisfy You”
11 – Billy Joe Shaver – “When Fallen Angels Fly”
12 – Patsy Cline – “Poor Man’s Roses”
13 – Roy Orbison – “Love Hurts”

junho 24, 2015   No Comments