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Category — Bobagens

Estou improvisando…

fevereiro 19, 2023   No Comments

Saudades de escrever (bobagens) aqui

Eu estava agorinha pouco buscando umas coisas no e-mail, e achei umas conversas dos anos 00 que me deram saudade de atualizar a Calmantes tal qual ela era… bem pessoal. Mas tanta coisa mudou…

Engraçado, eu mergulhei profundamente na paternidade nos últimos três anos (Martín só tem 2 anos e meio, mas a gente começa a ser pai e mãe antes mesmo do guri nascer) e… esqueci de escrever. Ou bloqueei. Vá saber.

Lili tinha uma ideia certa de que eu ia vir aqui contar grandes histórias com meu português apaixonado. Acho que ela tinha a expectativa que eu usasse esse espaço como um diário dos primeiros dias de nosso pequeno, mas as palavras… sumiram, desapareceram, ploft…

Não é a primeira vez que isso acontece, mas talvez tenha sido a mais longa. E talvez esse post só seja um breve respiro antes do desejo dormir para sempre (vá saber, parte 2).

Mas hoje foi um dia bom, de coração aquecido, porque vai ter vacina no braço no sábado, porque vou conversar sobre Dylan nessa sexta com outras pessoas legais (no Youtube do In-Edit, às 14h), porque o Martín está a coisa mais fofa do mundo e porque o André Takeda e Diogo Farias me fizeram dormir sorrindo que nem bobo com esse papo aqui.

E também porque voltei a ouvir a série “Música Brasileira”, que o Sesc lançou anos atrás registrando para a posteridade os áudios dos programas MPB Especial e Ensaio, e os CDs Shows de Adoniran Barbosa, Lupicínio Rodrigues e Carlos Lyra são absolutamente incríveis. Mesmo.

Vamos começar assim, de levezinho. Sabe-se lá como será o amanhã…

junho 18, 2021   No Comments

Com vocês, a Fräulein…

Assistimos a três programas sobre a Rússia hoje (dois ótimos episódios de “O Último Trem Para a Rússia”, da ESPN, que eu recomendo, e “As Matrioskas”, da GNT) e em ambos a pauta passava por… matrioskas. Dai lembrei da Fräulein, essa bela matrioska que eu trouxe para a Lili quando estive em Berlim pela primeira vez, em 2008. E ainda faltam 71 dias para a Copa. Até lá você irá esbarrar em algum programa ou mesmo numa foto, como essa, sobre matrioskas :~

abril 1, 2018   No Comments

Eu e Lygia

Uma das melhores cervejas que bebi em 2017 (Dádiva Quatro Graus Entomology, medalha de ouro dos últimos 30 dias) acompanhada de um dos dois livros que me viciou na leitura (o outro, na verdade, foram os primeiros volumes de uma série: “Para Gostar de Ler“): “Seleta”, uma coletânea de contos da Lygia Fagundes Telles (editada em 1971) que eu li a primeira vez quando tinha 10 anos, e fiquei chapado, pois trata-se de uma edição comentada em que a professora Nelly Novaes Coelho aprofunda o olhar do leitor ao final de cada conto. Como diria Erasmo, eu era criança, não entendia nada das entrelinhas dos contos, e os comentários da Nelly me abriram esse universo inexplorado pelo qual me apaixonei (e que amplifiquei na coleção de Shakespeare, que comentei aqui). Sonhei acho que um mês inteiro com o desenrolar de “Venha Ver o Pôr do Sol”, sempre com foco nas crianças brincando enquanto o final trágico era construido. Dai em diante, devorei praticamente tudo da Lygia, adaptei e encenei “Lua Crescente em Amsterdã” (que não está presente nessa coleta) pruma aula de teatro da faculdade e uma amiga a pediu em casamento… por mim. “Ele tem dinheiro?”, ela perguntou, rindo. Tadica :~ E todo esse amor pelos textos de Lygia Fagundes Telles começou com esse livrinho (que não custa nem R$ 10 no Estante Virtual). Venha ver o pôr do sol. Ele é trágico.

janeiro 26, 2018   No Comments

5/7 canções: Proud To Fall

Publicado no Facebook em 2015

Quando Carlos Freitas e Adília Belotti me convidaram pra esse passeio musical (7 músicas em 7 dias – que vou completar em 20… acho), eu tinha pra mim que não seria legal escolher músicas do século passado, muito porque praticamente só ouço coisas novas, e acho estranho pessoas que pagam R$ 300 (ou muito mais) para ir a um estádio ouvir músicas de 40 atrás (por mais que o mano cante: “Queria que Você Estivesse Aqui”) e se recusam a ver artistas novos por R$ 30. A pessoa vai a dois ou três shows por ano (todos acima dos R$ 300) e acha que ama a música. Bem, isso é assunto pra outro dia.

O fato é que é difícil para mim fazer uma lista de 7 músicas sem… Echo & The Bunnymen. Consegui fazer de três (quando a Letícia me convocou – http://goo.gl/IyUaro), mas sete… E, bem, antes que você tente argumentar que o Echo não fez nada que preste neste século, recomendo uma audição cuidadosa de “Siberia”, o disco deles de 2005. Se for pedir muito, vá atrás ao menos de “All Because of You Days”, minha canção favorita deste álbum (e do Echo no novo século), número 21 na minha Last Fm (dos últimos oito anos).

Eu até poderia escolher “All Because of You Days” e até já escrevi sobre “Rust”, uma balada maravilhosa do álbum “What Are You Going to Do With Your Life?”, de 1999, que me define (texto aqui: https://goo.gl/QSTNMu), mas Echo é uma coisa mais… antiga (ao menos para mim). E é uma banda importante na formação da pessoa que eu sou hoje. Amigos próximos sabem que sou metade (política) The Clash, metade (sentimento) Echo and The Bunnymen, e assim voltamos para a primeira metade dos anos 80…

Até onde me lembro (e a memória, sim, já começou a falhar), comprei meus primeiros vinis do Echo em 1985, três de uma vez – “Porcupine”, “Ocean Rain” e “Songs to Learn & Sing” (que título maravilhoso, vai) – em uma baldão de promoção em alguma loja que não lembro o nome (a parte de dentro do meu “Songs to Learn & Sing” exibe uma etiqueta: 600,00 cruzeiros), e me apaixonei. Eu tava vindo de “The Top”, do Cure, “Hatful of Hollow”, dos Smiths e “Closer”, do Joy Division, e o Echo abriu um universo de possibilidades.

Acontece que na hora que eu “descobri” o Echo and The Bunnymen, a banda já estava em crise e havia se separado. Stephen Morris, o baterista do New Order, segurou as baquetas de quebra galho em algumas gravações, mas a formação original voltou, fez uma turnê histórica pelo Brasil em 1987 (eu só os veria ao vivo em 1999 e entrevistaria Ian em 2001!) e lançou um bom álbum e 1987 que não envelheceu bem, culpa da remasterização que jogou a bateria pra frente, mas que trazia uma das minhas canções favoritas do Echo: “The Game”.

Quando Ian McCulloch, líder e vocalista, pulou fora da banda e seguiu em carreira solo, fui atrás, e gostei bastante de “Candleland”, seu primeiro disco solo, um monte de rascunhos mal acabados de canções do Echo. Ainda assim, uma canção ali me pegou de jeito, e, desde então, me acompanha. É bem provável que ela não esteja no meu Top 500 da Last.Fm nos meus últimos oito anos, mas é uma canção que me deu sanidade em um momento complexo da vida, e que vou sempre carregar comigo como um amuleto. O nome dela é “Proud To Fall”, que os fãs dos Bunnymen conhecem como “The Game – Part 2”, e vai longe o tempo em que “Long day’s journey into / Long night’s journey out”, mas, ainda hoje, “Looks like rain again / Feels like it’s rained forever”. 

****
Essa é a canção 5 de 7, e vou marcar pessoas para continuarem a saga no último post. Não deixa de ser especial neste ter Paul Westerberg escolhendo a mesma canção (“Star is Bored”, dele, que eu upei no Youtube – procure – quase surgiu aqui).

dezembro 14, 2017   No Comments

4/7 canções: There is No Time

Publicado no Facebook em 2015

Os amigos queridos Carlos Freitas e Adília Belotti me convidaram para participar de uma corrente publicando 7 músicas em 7 dias. Eis o quarto capítulo. Segundo as normas, eu teria que marcar uma pessoa por dia, mas vou quebrar a regra e marcar uma, duas ou três no post final. Aperte o play e Segue o jogo:

Minha “educação musical” (entre 1981 e 1989, ou seja, entre 11 e 19 anos, período que as coisas prometem grudar em você e te acompanhar para o resto da vida) foi assim: Beatles, Blitz, rock nacional (Paralamas, Barão, Legião, RPM), pós-punk (Echo, Cure, Joy Division), punk rock (Pistols e Clash), classic rock (Doors, Led Zeppelin, Pink Floyd) e metal (Iron Maiden, Mercyful Fate e Metallica). Beatles e Blitz foram as faíscas (falei do primeiro aqui: http://goo.gl/4og5Z3) e dai em diante tudo acontece praticamente ao mesmo tempo, principalmente de 1985 em diante (e a revista Bizz tem grande influência ao lado das festinhas em que eu já brincava de ser DJ aventureiro).

Nesse período lembro de porres adolescentes de licor de menta terem sido sonorizados por “The Top”, do Cure, nos dias viajantes, e “Closer”, do Joy, nos dias deprês. De descobrir “Stairway To Heaven” numa discotecagem na perifa de Taubaté (o cara com que dividi as pick-ups naquela noite tascou ela, e eu fiquei impressionado tanto pelo espaço que ela tomava nos sulcos do “Vol. IV” – “Cacete, o cara colocou uma música de 10 minutos” – tanto quanto pela grandiosidade da canção). Foi um baita choque, semelhante ao de alguns anos depois, quando, já apaixonado por Pistols, levei meu “Kiss This” prumas férias na roça e, após uma semana de sertanejos de raiz e bucolismos da natureza, coloquei o disco pra tocar e me assustei com a potência daquele som. Cresceu.

Na página 52 de “Alta Fidelidade” (o livro), Rob está reorganizando sua coleção de discos, buscando coloca-la na ordem que ele adquiriu durante a vida: “Gosto de ver como fui de Deep Purple a Howling Wolf em 25 movimentos”, descreve. Quando ganhei o livro e cheguei nessa parte, sabia que o livro era realmente para mim, como a dedicatória alardeava (https://goo.gl/foOEZv). Isso porque eu numerava os meus vinis e me surpreendia como eu havia saído de Titãs, Lobão e Legião (no meu primeiro salário, aos 15 anos, comprei seis discos) e chegado a “Led Zeppelin II” em 40 movimentos, e My Bloody Valentine em menos de 100 (“Isn’t Anything” era meu vinil 96).

Escrevi tudo isso para falar de… Lou Reed. O primeiro vinil que comprei de Lou era uma coleta organizada por Ezequiel Neves e lançada em 1980 (devo ter pegado o meu entre 1986/1987) com 10 clássicos. Abre com “Walk In The Wild Side” (grafada assim mesmo), segue com “Kill Your Sons” (inseri trechos dessa letra num projeto da faculdade que juntava eu declamando poemas meus junto a versos de William Blake, Michael Stipe, Ian Curtis, Aldous Huxley, Dante e Lou Reed sob uma base de drum-bass metal numa semana da comunicação ae) e segue com faixas do Velvet (“White Light/White Heat” e “I’m Waiting For The Man”) em versões ao vivo dos álbuns “Lou Reed Live” e “Rock’n Roll Animal”, ambos de 1974.

Eu gostava desse disco, mas Lou Reed bateu forte em mim quando coloquei o vinil fresquinho de “New York” para tocar. Foi paixão a primeira ouvida. Até hoje eu acho o lado A desse vinil uma coisa inacreditável. Ouvi tanto, mas tanto, mas tanto que quando pisei em Nova York pela primeira vez, mais de 20 anos depois (o disco saiu em 1989, conheci NY em 2011), eu cantava mentalmente “Romeo had Juliette” enquanto desbravava as ruas da cidade. “Halloween Parade” e “Dirty Boulevard” são outras duas canções que fazem deste disco um dos meus preferidos do Lou (mergulhei em “Berlin” quando vi o show de Lou em Málaga, e a coisa toda me sacudiu muito -> http://goo.gl/akTojk)

Porém, o motivo deste textão é a música número 4 de minha peregrinação de 7 músicas em 7 dias: “There Is No Time”, faixa cinco do álbum “New York”. E, bem, a letra (envolvida em bateria acelerada e guitarras microfonando) fala por si só <3

“Não é hora para celebração
Não é hora para apertos de mãos
Não é hora para tapinhas nas costas
Não é hora para Bandas de Fanfarra

Não é hora para otimismo
Não é hora para reflexões intermináveis
Não é hora para o meu país certo ou errado
Lembra a que isso levou

Não há tempo

Não é hora para congratulações
Não é hora para dar as costas
Não é hora para rodeios
Não é hora para frases feitas

Não é hora para mostrar gratidão
Não é hora para vantagens pessoais
É tempo de enfrentar ou se calar
Não vai haver outra oportunidade

Não há tempo

Não é hora para engolir a raiva
Não é hora para ignorar o ódio
Não é hora para bancar o frívolo
Pois está ficando tarde

Não é hora para vinganças pessoais
Não é hora para não saber quem você é
Autoconhecimento é uma coisa perigosa
A liberdade de saber quem você é

Não é hora para ignorar alertas
Não é hora para limpar o prato
Não vamos chorar sobre o leite derramado
E permitir que o passado se torne nosso destino

Não há tempo

Não é hora para virar as costas e ir beber
Ou fumar umas pedras de crack
É tempo de juntar forçar
E se preparar e atacar

Não é hora para celebrações
Não é hora para saudar bandeiras
Não é hora para buscas interiores
O futuro está à mão

Não é hora para falsa retórica
Não é hora para discurso político
É tempo de agir
Porque o futuro está logo ali

Esta é a hora
Porque não há tempo”

2

dezembro 12, 2017   No Comments

3/7 canções: Barbarella

Publicado no Facebook em 2015

Devo, não nego, vou pagando quando puder (risos).

Os amigos queridos Carlos Freitas e Adília Belotti me convidaram para participar de uma corrente publicando 7 músicas em 7 dias. Tenho sentido dificuldade em pensar em música no momento político difícil por qual o país passa, como um todo, e o estado/cidade de São Paulo, em particular, com estudantes sendo tratados como bandidos por um governo incompetente.

Dai que nesta manhã recebi a noticia da morte de Scott Weiland, uma carta tão marcada que não chega a surpreender, mas entristece. Muito. Lembro o quanto praguejei quando o Stone Temple Pilots surgiu com “Core” e o single “Plush”, um sub-Pearl Jam de quinta categoria que explicava muito uma indústria que faturava esgotando fórmulas.

Porém, para minha própria surpresa e ceticismo, amei descontroladamente os discos seguintes do Stone Temple Pilots, “Purple” (1994) e “Tiny Music” (1996), e a partir dai acompanhei com atenção a carreira do Scott Weiland. Não é a toa que a minha cópia de “12 Bar Blues”, a estreia solo de Scott em 1998, trava em algumas músicas, porque ouvi tanto e tanto e tanto.

Esse disco em especial (ao lado de “This Is My Truth Tell Me Yours” e “Deserter’s Songs”) foi a trilha sonora desértica do meu final de século, pouco esperançoso, e que iria mudar radicalmente, mas naquela época eu não sabia, e ouvia/sentia músicas como “Opus 40”, “My Little Empire” e “Barbarella” como se estivessem correndo em minhas veias.

Quando Kurt Cobain se matou, o amigo André Forastieri escreveu uma coluna pra Folhateen que ficou colada na porta do meu quarto por anos. Dizia algo assim: “Kurt Cobain se matou. Isso não é romântico. Não é um momento fundamental da história do rock’n’roll. Não é charmoso, não é legal, não é engraçado e não vai mudar a vida de uma geração. É, pura e simplesmente, uma merda.”

Em outro texto que amo (e eu amo muitos textos!), a querida Ana Maria Bahiana descrevia: “Ouso dizer que o R.E.M. é, para mim, a banda mais importante dos Estados Unidos nas últimas décadas – sim, eu sei que você está pensando no Nirvana, e eu adoro o Nirvana, mas o Nirvana foi uma faísca, enquanto o R.E.M. é uma fogueira, e eu, particularmente, estou mais interessada no desafio da sobrevivência e da longevidade do que na saída fácil da vida breve e fulminante.”

Por isso tudo, mesmo sendo carta marcada, um cara como Scott Weiland morrer aos 48 anos é uma grande merda (pô, eu tenho 45!). Porque ele tinha uma vida inteira pela frente. Porque ele tinha uma família. Porque ele poderia ainda fazer muito mais pela música, e fazendo algo pela música ele estaria, diretamente, fazendo algo por mim. Por isso tudo, Rest in Peace parecia muito pouco.

Então fica abaixo a minha canção favorita de “12 Bar Blues”: “Barbarella”. Ela começa “delicadamente” assim:

“You play the game, i’ll masturbate and sing a lullaby”

(Há uma versão ao vivo no Youtube com participação da Cindy Lauper que é de arrepiar)

Ps1 – “Belas Canções Sob o Céu da Califórnia“, por Ana Maria Bahiana:
Ps 2 – “Kurt Cobain se matou“, por André Forastieri

dezembro 10, 2017   No Comments

2/7 canções: My Secret is My Silence

Publicado no Facebook em 2015

Canção número 2/7 do desafio proposto pelo amigo Carlos Freitas e estendido pela queridíssima Adília Belotti. O esquema é aquele de corrente com uma música por dia durante sete dias. Segundo as normas, eu teria que marcar uma pessoa por dia, mas vou quebrar a regra e marcar uma, duas ou três no post final. Aperte o play e Segue o jogo:

“Não sei se é o tempo chuvoso que me faz sentir melancólico, os tropeços constantes da vida, as decepções com o mundo ou tudo junto, mas a segunda canção (2/7) que escolhi é uma indie folk song perfeita para sonorizar esse momento. O cantor Roddy Woomble é mais conhecido à frente do Idlewild, um grupo que soava – nos primeiros discos – como um Smiths passado pelo furacão grunge, nada que chamasse tanta atenção até o quarteto parir “The Remote Part”, terceiro disco da carreira da banda, e sinal de maturidade e bom gosto musical dos escoceses.

Paralelo à carreira com o Idlewild, Roddy Woomble mantém uma trajetória solo admirável fincada no folk. Seu primeiro disco, “My Secret is My Silence” (2006), entrou na minha lista pessoal de Melhores Álbuns dos Anos 00, e a faixa título tem o poder de fazer meu coração bater mais devagar num espaço tempo totalmente particular. Desde a primeira vez que a ouvi ela me remete a trilha sonora de “Gangues de Nova York” (2002), de Scorsese, ao maravilhoso “The Seeger Sessions”, que Bruce Springsteen lançou também em 2006, e a lendária caixa de discos “Anthology of American Folk Music”. Está tudo aqui: a chuva, o vento, a melancolia de uma ilha europeia afundada em um inverno aparentemente interminável.

Talvez seja isso que me conecta com Roddy Woomble, a aparente infinitude da melancolia. Ao falar sobre “Sadness”, uma canção empolgante que abre o primeiro disco do Porno For Pyros, Perry Farrel dizia que a felicidade era boa apenas por uma hora (parafraseando de modo meio torto e sem querer Vinicius de Moraes), e ainda que seja óbvio que o inverno (europeu) tem fim e que a melancolia, como num passe de mágica, de uma hora para outra desaparece, o “estar melancólico” parece eterno, tal qual o inverno, tal qual essa canção em que “your sadness tastes like whisky and my body breathes the same”.

Duas outras coisas que essa canção me lembra: num hostel de Glasgow, certa vez, puxei conversa com um carinha inglês – com cara de nerd e não mais que 20 anos – no quarto. Ele ia ao mesmo festival que eu (a saber, o T In The Park), pois era “big fan” do R.E.M., mas tinha planos para os outros dias: “Vou fazer um tour de golfe pelas highlands”! Nunca me esqueci disso (essa também é uma canção sobre as highlands, verdadeiras e metafóricas). E outro dia fiz uma conexão do verso “I’m sick of living in these buildings / That were built in blood and rain” com o “vem morar comigo nesse apartamento / estamos uns sobre os outros / e temos satisfação”, de Wado em “Pavão Macaco”. Não é a toa que ando sonhando com fazendas e roças… “to find your way home”. ”

Ps1. A sonoridade da versão oficial, do disco, é mais cheia e robusta (compare aqui: https://goo.gl/wyZj1M), mas o poder de ver a canção me atrai.

Ps2. Roddy: “My Secret Is My Silence” é sobre o que nós não dizemos”. http://goo.gl/3TjF20

Ps3. “Bob Dylan, Martin Scorsese e a História Universal” (http://goo.gl/U2m7s2)

Ps4. Coisas surreais de viagem: (http://goo.gl/dSZR7z)

dezembro 8, 2017   No Comments

1/7 canções: Workingman Blues

Publicado no Facebook em 2015

O desafio proposto (uma música por dia durante sete dias) pelo grande amigo Carlos Freitas, um mestre na canção impopular, me levou a pensar com cuidado e seriedade sobre algo que mudou radicalmente a minha vida: a música. Algumas semanas atrás comentei por aqui sobre um filme emocional que havia visto (“Alive Inside”, disponível no Netflix Brasil) dizendo: “Para quem ama a música…”. Porque para mim é simples assim: eu amo a música e ela acompanhou boa parte dos passos que dei nesses mais de 16 mil dias nessa bolota azul.

A definição de Salman Rushdie em “O Chão Que Ela Pisa” é perfeita:

“Por que a gente gosta de cantores? Onde se esconde o poder das canções? Talvez se origine da mera estranheza de se existir canto no mundo. A nota, a escala, o acorde; melodias, harmonias, arranjos, sinfonias, ragas, óperas chinesas, jazz, blues: o fato de essas coisas existirem, de termos descoberto os intervalos mágicos e as distâncias que produzem o pobre punhado de notas, todas ao alcance da mão humana, com as quais construímos nossas catedrais sonoras, é um mistério tão alquímico quanto a matemática, ou o vinho, ou o amor. Talvez os pássaros tenham nos ensinado. Talvez não. Talvez sejamos, simplesmente, criaturas em busca de exaltação. Coisa que não temos muito. Nossas vidas não são o que merecemos. De muitas dolorosas maneiras elas são, temos de admitir, deficientes. A música as transforma em outra coisa. A música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo”.

Dentro dessa busca por dignidade, de companhia ou seja lá o que for, eu até queria buscar uma canção alegre, festeira, mas a primeira música que penso (e provavelmente as outras 99 são tão tristes quanto) quando preciso pensar em alguma música é “Workingman’s Blues #2”, de Bob Dylan, que, segundo minha Last Fm, é a música que mais ouvi nos últimos nove anos. Há algumas dezenas de coisas que me fascinam em Bob Dylan, e uma delas é toda beleza que se esconde por trás de uma aparente fragilidade vocal, que, para alguns, se intensificou neste milênio. Como escrevi no texto sobre o show em São Paulo de sete anos atrás, “não há nada mais atual que recusar o amargo, o ardido, o esganiçado, aquilo que não soa limpo (até o punk e o metal soam melodiosos hoje em dia”.

Sempre que esse assunto vem à tona me lembro de Beck, que certa vez escreveu: “Gosto de gente como Bob Dylan, que faz música para sacudir a cabeça das pessoas. Odeio quem gosta de dizer que Bob Dylan canta mal, que o show dele é uma porcaria e tal… Ora, esse cara nem precisava cantar. Todo mundo devia pagar ingresso só para ver o cara que escreve aquelas canções maravilhosas”.

Oque me interessa na voz de Dylan, porém, é o efeito do tempo sobre ela, as marcas de dores, desilusões, decepções. Sempre tenho uma frase na ponta da língua: “viver é acumular tristezas”. Estranho Rod Stewart e Roberto Carlos cantando hoje em dia como se a vida fosse um paraíso, e talvez até seja… para eles, como se a naturalidade da voz simbolizasse uma pele sem rugas (e sem dramas nem histórias), mas para reles mortais viver é, cada vez mais, “pagar uma conta por dia” (uma atualização politicamente correta daquele velho ditado que versava sobre “matar leões”, e que já está devidamente antiquado).

“Workingman’s Blues #2” atualiza para os tempos modernos um velho country de Merle Haggard. Enquanto o original versava sobre como o trabalho comprara o espaço da diversão (na letra, após uma semana de batente e muito cansaço, o cara planeja sair para beber uma cerveja quando o pagamento chegar), “Working Man’s Blues #2? avança criticando não só esse capitalismo que vendeu um sonho e acabou, no fim, comprando a alma de todos, mas também suas conseqüências, entre elas a mais visível: a divisão do povo em ricos e pobres.

Presente no grande álbum “Modern Times”, que Dylan lançou em 2006 (e que foi disco do ano em várias publicações, Scream & Yell incluso), “Workingman’s Blues #2” versa sobre a desilusão com a vida cotidiana, em que o lugar mais amado é “uma doce memória”, não o agora, não o presente, pois atualmente “dormir é uma morte temporária”. Nessa letra melancólica, Bob Dylan narra as desventuras dos trabalhadores, cada vez mais sufocados por um capitalismo voraz (“The buyin’ power of the proletariat’s gone down / Money’s gettin’ shallow and weak (…) They say low wages are a reality / If we want to compete abroad”), que muitas vezes força o individuo a situações que ele não deseja (“Well, they burned my barn, and they stole my horse / I can’t save a dime / I got to be careful, I don’t want to be forced / Into a life of continual crime”). A condução da canção destaca notas tristonhas de piano e um riff mastigado e choroso de guitarra fazendo a cama para a voz de Bob Dylan, absolutamente perfeita ao exibir as cicatrizes do tempo para contar/cantar esse blues lamento dos trabalhadores. É triste, mas é real, dolorosamente real, e sentir dor muitas vezes nos faz agir, tentar mudar a situação, ou, ao menos, refletir sobre ela.

dezembro 6, 2017   No Comments

Quero…

Domingo à noite… e cansaço. Mas até que consegui fazer um bocado de coisas que havia me proposto a fazer na semana que passou: revi alguns Wong Kar-Wai (que renderam a segunda postagem sobre filmes do cineasta, agora focada nos desencontros românticos), fui ao Jazz na Fábrica assistir Eddie Allen distribuir bom humor e boa música (as fotos são da Lili) num repertório que ora fazia a gente se sentir num filme de Woody Allen, ora seguia as belas matizes do blues e do r&B no mood jazz, e também ao Coala Festival (texto só na segunda-feira, mas a galeria de fotos está aqui). Que a semana que começa seja… leve.

Ps1. Quero ver no cinema os novos filmes de Sofia Coppola e Christopher Nolan
Ps2. Quero ver Thundercat no Jazz na Fábrica
Ps3. Quero escrever sobre os discos de Juliana Hatfield, Hurray For The Riff Raff e Joan Shelley
Ps4. Quero diminuir a fila de livros aqui ao meu lado
Ps5. Quero (re)ver “Match Point” e acabar logo a filmografia comentada do Woody Allen
Ps6. Quero beber os últimos lançamentos da Dogma
Ps7. Quero dinheiro na conta 🙂

agosto 13, 2017   No Comments