Posts from — setembro 2009
Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens
“O Richard Schickel (escritor e há muito tempo crítico da revista Time) escreveu um ensaio muito bom a meu respeito, dizendo que em determinado ponto o público me abandonava. E achei que foi a única coisa que ele errou. Fui eu que abandonei o meu público; ele não me abandonou. O meu público era muito bom, e, se eu continuasse a cumprir com a minha parte do contrato, ele não demonstraria nenhum sinal de querer me abandonar e ser algo mais do que uma boa platéia afetiva. Eu é que tomei um rumo diferente, e uma boa parcela desse público ficou incomodada, se sentiu traída. Não gostaram quando fiz “Interiores” e “Memórias”. Um crítico disse que “Interiores” foi um ato de má-fé. Achei que foi uma reação exagerada. Tentei fazer um filme específico, e se não funcionou, não funcionou. Respeito plenamente as opiniões das pessoas para quem não funcionou. Mas não foi feito com má-fé.
Depois, “Memórias” decepcionou as pessoas, e ao longo dos anos o público ficou mais e mais incomodado comigo, sem saber direito como seria o meu próximo filme, e menos seguro de que iria gostar. Muita gente ainda acha que os meus melhores filmes ficam pela época de “Annie Hall” e “Manhattan”, mas mesmo que esses filmes ocupem um lugar caloroso em seu coração – o que me deixa muito satisfeito – estão errados. Filmes como “Maridos e Esposas”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Tiros na Broadway”, “Zelig” e até mesmo “Um Misterioso Assassinato em Manhattan” e “Poucas e Boas” são muito superiores. Claro, isso é questão de opinião, mas eu tenho a minha, assim como os outros têm as deles.
Agora, é verdade que depois de alguns filmes eu parei de pensar em popularidade e no público, ou no que escreviam sobre os meus filmes, mas não por arrogância, nem algum sentimento de superioridade. Só porque essa parte do processo – a chamada gratificação – não estava me deixando feliz, nem satisfeito. As pessoas muitas vezes tomam erroneamente a minha timidez por indiferença, mas não é. Eu precisava de um centro espiritual e, sendo ateu, isso é difícil de encontrar. Então experimentei uma sensação de apatia em relação ao sucesso ou fracasso, e, é triste dizer, em relação à vida em geral. Tanto o sucesso quanto o fracasso provaram não significar muito para mim do jeito que pensei que fossem significar quando comecei. Nenhum dos dois contribui para a solução dos verdadeiros problemas da vida.
O lado bom de ser, como dizem os meus amigos, “imune à crítica”, é ser incapaz de gozar o prazer que um sucesso retumbante traz. Isso não quer dizer que eu deteste dinheiro, mas, resumidamente, apesar de toda a bajulação do mundo, a gente continua incomodamente finito (encolhe os ombros, depois ri). Então, como eu estava dizendo, a minha timidez e a minha inabilidade em afastar a nuvem negra que vem com a incapacidade de lidar com a realidade fazem as pessoas pensarem que sou distante e inatingível, mas não sou nem um pouco alheio, nem recluso – que é outra descrição nada exata de mim. Por outro lado, não quer dizer que eu não concordaria com boa parte da crítica mais severa ao meu trabalho se ouvisse críticas. Tenho um olhar muito crítico sobre o meu trabalho e o de outras pessoas. Antes eu lia a meu respeito, mas parei de vez, porque é uma perda de tempo, não ajuda em nada o absurdo de ler que você é um gênio cômico ou que tem má-fé. Quem precisa pensar sobre tamanhas bobagens?”
Woody Allen em um dos melhores trechos do livro (aqui) de Eric Lax.
Leia também:
– “Match Point”, de Woody Allen, por Marcelo Costa (aqui)
– Os filmes prediletos de Woody Allen em todos os tempos (aqui)
– A cinematografia de Woody Allen de 0 a 10, por Marcelo Costa (aqui)
setembro 15, 2009 No Comments
Dois momentos de genialidade de Roger Federer
Em 2001/2002 editei durante mais de um ano o site Esportes-E, então parceria do Banco do Brasil com a Zip.Net, que passou para responsabilidade do UOL quando estou comprou o portal. Foi um bom tempo em que acompanhei as notícias de todos os atletas patrocinados pelo banco, como Gustavo Kuerten, então no auge (em 2001, e começando a cair em 2002). Não tinha como não se apaixonar por tênis vendo o Guga jogar.
A parceria do UOL com o BB acabou, me desliguei dos dois e segui a vida deixando de acompanhar tênis como naqueles dias. Não lembro o motivo, mas voltei a ver alguns jogos no último mês culminando no título de Roger Federer em Cincinatti sobre Novak Djokovic, uma partida fácil com alguns momentos de genialidade. Claro, nada comparado ao penúltimo ponto do suíço contra Djokovic na semifinal do US Open, no domingo, um daqueles momentos absurdos de genialidade.
O segundo vídeo é de uma outra partida, em que Andy Roddick arremessa sua raquete em Federer, na brincadeira, após uma jogada fenomenal do suíço, que conseguiu alcançar uma bola praticamente indefensável e foi além: a devolveu com uma curva sensacional matando o ponto de forma espetacular. O vídeo fala por si só. Enquanto isso, neste momento, Roger Federer caminha para vencer mais uma vez o US Open seguindo firme como o número 1 do mundo.
Ps. Hehe, sequei o Roger Federer sem querer. Postei no momento em que o suíço dominava o segundo set da final do US Open. Do nada, após um desafio de Del Potro em que realmente a bola tinha beslicado a linha, Federer desmontou emocionalmente e o argentino virou o segundo set em 7 a 6 no tiebreak. No fim, o argentino interrompeu o terceiro grand slam seguido no ano de Roger Federer e o que seria o sexto título consecutivo do US Open vencendo o quinto set por 6 a 2 após mais de quatro horas de jogo. O que não quer dizer que os vídeos abaixo deixem de ser sensacionais… hehe
setembro 14, 2009 No Comments
Receita de Sopa Parisiense de Cebola
No Top Ten de Pratos que pedi para Lili fazer de nossa viagem para a Europa (postado aqui), surpreendeu uma inocente sopa de cebola tomar o primeiro lugar. E olha que ela era apenas a entrada de um almoço em uma brasserie simplezinha perto do Fórum Les Halles chamada L’Entrecote Des Halles (Rue Saint Denis, 38) . Como nem só de caldo verde vivem os dias frios, resolvi experimentar uma sopa de cebola. E não é que existe mesmo uma variação parisiense?
A primeira tentativa, no meio da semana, foi aprovada pela Lili, mas ficou um pouco salgada. Culpa das torradinhas de cebola que comprei. Elas precisam ser torradas normais, ok. A receita pedia vinho branco seco, mas apostei no vinho tinto carmenere, e gostei. Essa foto acima já é da segunda tentativa, quase acertada, do sábado à noite. Faltou ficar mais uns cinco ou dez minutos no fogo, para engrossar. Mesmo assim ficou ótima, diz Lili. Receita abaixo.
Ingredientes
– 4 cebolas grandes cortadas em rodelas
– 4 colheres (sopa) de manteiga
– 4 colheres (sopa) de farinha de trigo
– 5 xícaras (chá) de caldo de carne
– 1/2 colher (chá) de sal
– 1 pitada de pimenta-do-reino
– 1/2 xícara (chá) de vinho branco seco
– 8 fatias de pão francês tostadas
– 8 fatias de queijo tipo suíço
Preparo
Frite as cebolas na manteiga em uma panela sobre fogo médio. Mexa sem parar de 2 a 3 minutos até que dourem. Junte a farinha de trigo e cozinhe por 1 minuto.
Acrescente o caldo de carne, o vinho, o sal e a pimenta-do-reino. Aqueça ao ponto de fervura. Abaixe o fogo e cozinhe lentamente em panela parcialmente tampada por meia hora. Aqueça o forno.
Coloque a sopa em 4 cumbucas refratárias e deposite-as em uma assadeira. Coloque 2 fatias de pão em cada uma delas e cubra com 2 fatias de queijo. Leve ao forno quente e asse até o queijo derreter.
Sirva imediatamente, colocando as cumbucas sobre pratinhos individuais.
Rendimento: 4 porções
Leia também:
– Receita de Caldo Verde (aqui)
setembro 14, 2009 No Comments
Edições especiais do Radiohead
Chegaram na sexta-feira aqui em casa os três volumes que faltavam da série “Collectors Edition”, do Radiohead. No primeiro pacote lançado em janeiro vieram os três primeiros álbuns (”Pablo Honey”, “The Bends” e “Ok Computer” – veja aqui). Agora é a vez de “Kid A”, “Amnesiac” e “Hail To The Thief” baixarem nas lojas em belíssimas edições de luxo. Agora só fica faltando “I Might Be Wrong – Live Recordings” do catálogo da Parlaphone, já que “In Rainbows” foi lançado pela própria banda.
“Kid A” ganhou um segundo CD imperdível (com 13 registros ao vivo, 12 deles inéditos em programas como no Evening Session, da BBC Radio 1, no Lamacq Live in Concert e no Canal + Studios, em Paris) e um DVD que poderia ser dispensável, se os três vídeos da banda tocando “The National Anthen” (com direito a um septeto de metais – assista aqui), “Morning Bell” e “Idioteque” ao vivo no Jools Holland não fossem fenomenais.
“Amnesiac” ressurge na capa de pano vermelha da edição de luxo, mas dentro traz o encarte com a capa original e um segundo CD com todos os b-sides dos singles “Pyramid Song”e “Knives Out” mais seis registros inéditos ao vivo nos estúdios do Canal +, em Paris. O DVD aqui é caprichado com 47 minutos de duração que compilam quatro clipes do álbum, dois registros no Top of The Pops e mais quatro números da mesma sessão matadora no Jools Holland (a integra aqui).
Fechando o pacote, “Hail To The Thief” aposenta no segundo CD a ótima coletânea japonesa “Com Lag” (escrevi dela aqui) com suas dez faixas presentes aqui e acrescenta uma demo de “There There” mais “Go To Sleep” ao vivo no programa de Zane Lowe e “Sail To The Moon” em registro na BBC Radio1. O bom DVD junta quatro clipes do álbum, quatro registros vivo no Jools Holland (incluindo “There There” – assista aqui) mais “2+2= 5? ao vivo em Earls Court. E um poster da edição especial.
Com estas seis edições “Collectors Edition”, a Parlaphone raspa o tacho de tudo que o Radiohead lançou quando em contrato com o selo. Estão aqui todos os b-sides da banda entre 1992 e 2003, todos os videoclipes oficiais, o registro ao vivo de um show inteiro no Astoria em 1994, o registro em áudio de um show inteiro no Canal +, de Paris, em 2001, mais 16 vídeos ao vivo no Jools Holland entre 1995 e 2003 mais apresentações no Top of The Pops, no 2 Meter Session (assista “Fake Plastic Trees” aqui e “High and Dry” aqui) e outras coisas perdidas. Material de primeirissima qualidade. Abaixo, o tracking list de cada um dos CDs.
Kid A
Disc: 1
1. Everything In Its Right Place
2. Kid A
3. The National Anthem
4. How To Disappear Completely
5. Treefingers
6. Optimistic
7. In Limbo
8. Idioteque
9. Morning Bell
10. Motion Picture Soundtrack
Disc: 2
1. Everything In Its Right Place
2. How To Disappear Completely
3. Idioteque
4. The National Anthem
5. Optimistic (Lamacq Live In Concert)
6. Morning Bell (Live At Canal+ Studios, Paris)
7. The National Anthem (Live At Canal+ Studios, Paris)
8. How To Disappear Completely (Live At Canal+ Studios, Paris)
9. In Limbo (Live At Canal+ Studios, Paris)
10. Idioteque (Live At Canal+ Studios, Paris)
11. Everything In Its Right Place (Live At Canal+ Studios, Paris)
12. Motion Picture Soundtrack (Live At Canal+ Studios, Paris)
13. True Love Waits (Live In Oslo – I Might Be Wrong)
Disc: 3 – DVD
1. The National Anthem (Live On Later With Jools Holland)
2. Morning Bell (Live On Later With Jools Holland)
3. Idioteque (Live On Later With Jools Holland)
Amnesiac
Disc: 1
1. Packt Like Sardines In A Crushed Tin Box
2. Pyramid Song
3. Pulk/Pull Revolving Doors
4. You And Whose Army?
5. I Might Be Wrong
6. Knives Out
7. Morning Bell/Amnesiac
8. Dollars & Cents
9. Hunting Bears
10. Like Spinning Plates
11. Life In A Glasshouse
Disc: 2
1. The Amazing Sounds Of Orgy
2. Trans-Atlantic Drawl
3. Fast-Track
4. Kinetic
5. Worrywort
6. Fog
7. Cuttooth
8. Life In A Glasshouse (Full Length Version)
9. You And Whose Army? (Live At Canal+ Studios, Paris)
10. Packt Like Sardines In A Crushed Tin Box (Live At Canal+ Studios)
11. Dollars & Cents (Live At Canal+ Studios, Paris)
12. I Might Be Wrong (Live At Canal+ Studios, Paris)
13. Knives Out (Live At Canal+ Studios, Paris)
14. Pyramid Song (Live At Canal+ Studios, Paris)
15. Like Spinning Plates (Live In Oslo – I Might Be Wrong)
Disc: 3 – DVD
1. Pyramid Song [Videoclipe]
2. Knives Out [Videoclipe]
3. I Might Be Wrong [Videoclipe]
4. Push Pulk/Spinning Plates [Videoclipe]
5. Pyramid Song (Live on Top Of The Pops)
6. Knives Out (Live on Top Of The Pops)
7. Packt Like Sardines In A Crushed Tin Box (Live On Jools Holland)
8. Knives Out (Live On Later With Jools Holland – 09/06/01)
9. Life In A Glasshouse (Live On Later With Jools Holland – 09/06/01)
10. I Might Be Wrong (Live On Later With Jools Holland – 09/06/01)
Hail To The Thief
Disc: 1
1. 2 + 2 = 5
2. Sit Down. Stand Up
3. Sail To The Moon
4. Backdrifts
5. Go To Sleep
6. Where I End And You Begin
7. We Suck Young Blood
8. The Gloaming
9. There, There
10. I Will
11. A Punch Up At A Wedding
12. Myxomatosis
13. Scatterbrain
14. A Wolf At The Door
Disc: 2
1. Paperbag Writer
2. Where Bluebirds Fly
3. I Am Citizen Insane
4. Fog (Again) (Live)
5. Gagging Order
6. I Am A Wicked Child
7. Remyxomatosis (Cristian Vogel RMX)
8. There There (First Demo)
9. Skttrbrain (Four Tet Remix)
10. I Will (Los Angeles Version)
11. Sail To The Moon (BBC Radio 1’s Jo Whiley’s Live Lounge – 28/05/03)
12. 2 + 2 = 5 (Live At Earls Court)
13. Go To Sleep (Zane Lowe – 08/12/03)
Disc: 3 – DVD
1. There, There [Videoclipe]
2. Go To Sleep [Videoclipe]
3. 2 + 2 = 5 [Videoclipe]
4. Sit Down Stand Up [Videoclipe]
5. 2 + 2 = 5 (Live At Belfort Festival)
6. There, There (Later With Jools Holland – 27/05/03)
7. Go To Sleep (Later With Jools Holland – 27/05/03)
8. 2 + 2 = 5 (Later With Jools Holland – 27/05/03)
9. Where I End And You Begin (Later With Jools Holland – 27/05/03)
Leia também:
– Os três primeiros do Radiohead em edições remasterizadas (aqui)
setembro 13, 2009 No Comments
“Sting”, “Duck Soup” e “Match Point”
“Golpe de Mestre”, George Roy Hill(1973)
“Golpe de Mestre” (“Sting”) é um belo exemplo de onde um roteiro perfeito pode levar um filme. É claro que além do roteiro, outros elementos entram na equação, mas o diretor George Roy Hill se cercou bem e saiu da cerimônia do Oscar de 1974 com 7 estatuetas batendo, entre outros, “Gritos e Sussuros”, de Bergman, que concorreu como Melhor Filme (o norte-americano também levou a melhor sobre o sueco na categoria diretor, mas Sven Nykvist, o fotógrafo de Bergman – e posteriormente, de Woody Allen – foi premiado).
Mais da metade do crédito de “Golpe de Mestre” recai sobre o roteiro soberbo, mas a dobradinha formada por Paul Newman e Robert Redford (que já havia brilhado muito em “Butch Cassidy and The Sundance Kid”, em 1969) também tem sua parcela de genialidade aliada à trilha sonora mágica de Marvin Hamlisch (também premiada no Oscar), que optou pelo ragtime ao invés do blues, que marcava o período (anos 30) radiografado pelo filme, aumentam o valor desta obra perfeita.
Ps. Quem é fã do excelente filme argentino “Nove Rainhas” precisa ver “Golpe de Mestre”. O filme do portenho Fabián Bielinsky continua genial, mas é uma versão atualizada de “Golpe de Mestre”.
“Diabo a Quatro”, Leo McCarey (1933)
O grande achado do passeio matinal de sábado foi um Box oficial com cinco filmes dos Irmãos Marx (pela bagatela de R$ 39,90), o que vai me permitir colocar em ordem a obra dos caras aqui em casa. Eu só havia assistido à reedição de “Diabo a Quatro” (“Duck Soup”) no cinema uns quatro anos atrás, e até acho que vi algum dos outros perdido em algum noite insone, mas comento assim que eles passarem pelo DVD player. Comecei novamente por “Diabo a Quatro” (para matar saudade).
No filme, Rufus T. Firefly (Groucho Marx) é escolhido por imposição da “alta burguesia” (hehe) como líder de um pequeno e fictício país, a Freedonia, o que resulta em uma deliciosa e ácida sátira a estados e regimes totalitários (não à toa, Mussolini proibiu o filme) com momentos clássicos (como a apresentação de Rufus T. Firefly, o duelo do espelho, as gags do carrinho de amendoim e o ótimo final). “Diabo a Quatro” apareceu na sexagésima posição da lista de Melhores Filmes de Todos os Tempos da American Institute além de ser apontado como a quinta melhor comédia.
“Match Point”, Woody Allen (2005)
Palavras de Woody Allen: “Tive uma sensação positiva assistindo ao filme quando terminei. Senti assim: pois é, este é um bom filme. Se eu tivesse feito uma carreira com filmes assim, eu me sentiria melhor comigo mesmo”. Mais outra: “Tive muita sorte com esse filme. Tudo que costuma dar errado num filme, deu certo nesse. Não sei se algum dia consigo repetir isso ou fazer um filme tão bom”. A última: “Match Point deu mais dinheiro do que qualquer outro filme que fiz na vida”. Trechos do livro “Conversas com Woody Allen”, de Eric Lax.
O cineasta tem um carinho imenso por “Match Point”, e não é coisa de carinho pelo filho mais novo: na mesa de edição de “Scoop”, a obra seguinte, ele já falava que o filme não funcionava tão bem quanto ele tinha imaginado ao escrever o roteiro. O fato é que “Match Point” é um filme absurdo de bom cujo ponto de partida – sorte pode ser melhor do que sabedoria – permite ao diretor tratar com maestria seu apreço pela visão de um mundo sem Deus (e conseqüentemente, sem culpa e perdão) e falsos finais felizes (escrevi mais aqui). Um dos melhores filmes de um dos maiores diretores de todos os tempos.
Ps. “Match Point” arrecadou 85 milhões de dólares, maior sucesso de bilheteria da carreira de Woody Allen até então. A marca foi batida com “Vicky Cristina Barcelona”, que alcançou 93 milhões de dólares em todo o mundo.
setembro 11, 2009 No Comments
A simplicidade de um bom molho pesto
Apesar de não termos passado por Genova, na região italiana da Ligúria, em nosso mochilão de julho, provamos a principal especialidade do lugar, o popular molho pesto, em Florença, na Toscana, e em um pequeno restaurante em Roma, no Campo del Fiori. Embora existam variações, o molho pesto é composto de folhas de manjericão amassadas com azeite de oliva, pinoles (uma noz comum na Itália), alho e sal mais queijo parmesão ou pecorino.
O al pesto de Florença estava bem melhor que o de Roma, o que se explica, afinal as especialidades romanas são os molhos carbonara (molho engrossado com uma mistura cremosa de ovos, queijo e cubinhos crocantes de guanciale – bacon não-defumado italiano, preparado com as bochechas do porco) e alla matriciana (massa al dente mergulhada num molho de tomate condimentado com cubinhos de pancetta e guanciale), que já fiz aqui.
Em Florença, o restaurante ficava no caminho do Mercato Centrale (Via Sant’Antonino, 19R) e entramos atraídos por um cartaz que oferecia a tentadora especialidade da casa: Bistecca alla Fiorentina, uma saborosa costeleta de lombo bovino. Lili aprovou o pesto e adorei a costeleta. Em Roma, no Campo del Fiori, fomos os dois de pesto, e ficamos decepcionados. Melhor mesmo foi o spaguetti alla matriciana acompanhado de uma salada caprese divina na Taverna dei Fiori Imperial (Via Madonna dei Monti, 16).
Para aproveitar este feriadão em casa decidimos arriscar uma receita de molho pesto para um gnocchi de batatas. Peguei a receita (aqui) do livro da amiga Alessandra Porro e ela pareceu simples, sem muita chance de errar, desde que tivéssemos os ingredientes certos. Compramos manjericão, nozes e sai atrás de um bom queijo parmesão ralado. Lili fez o “trabalho árduo” (espremer o alho, tirar a casca das nozes e picar o manjericão) e a mim coube misturar tudo conforme a receita pediu. E ficou… sensacional.
É sério. De todos os pratos e molhos que já fizemos em casa este, sem dúvida, foi o que mais nos agradou (ok, os tournedos com ervas moram em meu coração). Lili ficou encantada e o almoço acompanhado de um vinho chileno foi divino. Fizemos toda a receita, o que permitiu alguma sobra para o almoço do dia seguinte. E quem diz que conseguimos esperar? Eu havia comprado pão bola com cobertura de queijo no almoço, e o recheamos com o divino molho pesto (que também pode ser servido como acompanhamento no churrasco e com carnes em geral). Uma delícia.
A receita abaixo é “control c control v” da postada pela Alessandra no blog “Guia para a sobrevivência do homem na cozinha”, versão online do livro que está esgotado. Divirta-se. E vicie.
Espaguete al pesto
Para 4 pessoas
-6 dentes de alho
-1 colher de chá de sal
-1 xícara de chá de folhas de manjericão fresco
-3 colheres de chá de nozes sem casca
-80 gramas de queijo pecorino ou parmesão ralado
-½ xícara de chá de azeite
-Pimenta do reino
-500 gramas de espaguete
1) Descasque os dentes de alho, passe pelo espremedor e coloque em uma tigela. Adicione a colher de chá de sal e misture muito bem.
2) Triture as nozes (no liquidificador, com um pilão ou com as mãos) e junte ao alho com o sal.
3) Lave as folhas de manjericão. Seque e pique em pedaços bem pequenos. Coloque também na tigela. Acrescente o queijo e o azeite e misture muito bem até obter uma pasta homogênea. Tempere com um pouco de pimenta do reino e deixe descansar fora da geladeira. Isto é o pesto.
4) Leve ao fogo uma panela com cinco litros de água e uma colher de sopa de sal. Quando a água ferver jogue o espaguete aí dentro. Misture algumas vezes.
5) Escorra quando estiver al dente, coloque em uma travessa e junte os temperos . Mexa bem e sirva imediatamente.
Obs.:
-O pesto é também servido como acompanhamento no churrasco, com carnes em geral e com o bolito (cozido italiano). Pode ser guardado em geladeira por uma semana.
-Nozes: A receita originalmente leva uma noz chamada pinolli que não é muito fácil de se achar no Brasil. Use as nozes comuns, porém é preciso retirar, além da casca, a pele que a recobre. Faça assim: Leve uma panelinha com água ao fogo. Quando começar a ferver coloque as nozes e conte até 30. Retire da água, deixe esfriar e tire a pele. Ou então compre nozes já sem pele e casca.
-Queijo: Por favor, não use queijo de pacote que é mais seco que areia e não tem gosto de nada.
setembro 7, 2009 No Comments
Truffaut, Kevin Smith e Michael Lehmann
“Uma Jovem Tão Bela Como Eu”, François Truffaut (1972)
Apontado por muitos como o filme mais descompromissado de Truffaut, “Uma Jovem Tão Bela Como Eu” (“Une Belle Fille Comme Moi”) é uma comédia leve repleta de ironia e farsa que narra a história de um sociólogo inocente (André Dussollier) que pretende escrever uma tese sobre mulheres criminosas e, para isso, entrevista uma presidiária (Bernadette Lafont) esperta e maliciosa. O encontro de duas personalidades tão distintas permite a Truffaut brincar com a imaginação do espectador. Camille, a presidiária, conta uma história em off para Stanilas Previne, o sociólogo, mas as imagens em flashback mostram outra situação – com muito humor. Inspirado no livro “Such a Gorgeous Kid Like Me”, de Henry Farrell, “Uma Jovem Tão Bela Como Eu” pode ser o filme mais fraco de Truffaut, mas é cinema de alta qualidade.
“Barrados no Shopping”, Kevin Smith (1995)
Segundo longa da autodenonimada “Trilogia de New Jersey” (precedido pelo ótimo “O Balconista” e com seqüência no esperto “Procura-se Amy”) “Barrados no Shopping” (“Mallrats”) é o mais fraco dos três primeiros filmes do diretor Kevin Smith (capa do Scream & Yell On Paper #5), com alguns vácuos entre piadas e certa falta de acabamento na cinematografia, o que não tira o brilho de algumas ótimas passagens. O título nacional pega embalo na boa participação de Shannen Doherty (a Brenda da série “Barrados no Baile”) no elenco, que ainda conta com atuações quebra-galho de Ben Affleck e um perfeito Jason Lee. Sem contar Stan Lee, a lenda viva, que dá o ar de sua graça em um dos grandes momentos de uma comédia romântica que tem os pés atolados na cultura pop e no besteirol, e entretém enquanto faz rir.
“Feito Cães e Gatos”, Michael Lehmann (1996)
Possivelmente, uma das minhas comédias românticas prediletas, “Feito Cães e Gatos” (“The Truth About Cats and Dogs”) é um embate interessante entre beleza e inteligência inspirado em Cyrano de Bergerac, mas às avessas: aqui é a mulher que teme não ser aquilo que o homem deseja, e por isso “adapta-se” no corpo de sua vizinha, uma loura alta, de olhos claros e que é impossível não ser percebida. A tal loura é Uma Thurman, divertidíssima na visão rasa da mulher bela e burra, mas que convence conforme se aprofunda o personagem. A “outra” é a fofa Janeane Garofalo, brilhante em uma ótima atuação. Ela é uma veterinária que dá conselhos em uma rádio, e que acaba por chamar a atenção de um ouvinte, que a convida para jantar. Ela não vai, e manda a vizinha no lugar, e dá início a uma excelente comédia de erros.
O diálogo: “Combinadas, somos a mulher perfeita”, diz Noelle (Uma). “Não, somos o prisioneiro político perfeito. O que fazemos bem é ter convicção e passar fome”, responde Abby (Janeane).
setembro 6, 2009 No Comments
Os filmes prediletos de Woody Allen
por Marcelo Costa
Primavera de 2005. O repórter, amigo e biógrafo Eric Lax pergunta para Woody Allen quais são os melhores filmes já feitos na história do cinema. Um ou dois meses depois, Woody manda o que ele chama de “lista de insônia” de filmes favoritos, com um bilhete:
“Quando acordo durante a noite, para aplacar o meu pânico existencial, faço listas mentais. Isso às vezes me ajuda a voltar a dormir. Quase sempre as listas são de filmes – acrescento ou subtraio títulos, substituo. Meus gostos não me parecem nada excepcionais, a não ser na área de comédias de enredo faladas, na qual pareço ter pouca tolerância para qualquer coisa, certamente não para os meus próprios filmes.
Quinze dos meus filmes americanos favoritos (2005)
(sem nenhuma ordem particular):
– “O Tesouro de Sierra Madre”, John Houston (The Treasure of the Sierra Madre), 1948
– “Pacto de Sangue”, Billy Wilder (Double Indemnity), 1944
– “Os Brutos Também Amam”, George Stevens (Shane), 1953
– “Glória Feita de Sangue”, Stanley Kubrick (Paths of Glory), 1957
– “O Poderoso Chefão II”, Francis Ford Coppola (The Godfather: Part II), 1974
– “Os Bons Companheiros”, Martin Scorsese (Goodfellas), 1990
– “Cidadão Kane”, Orson Welles (Citizen Kane), 1941
– “O Delator”, John Ford (The Informer), 1935
– “A Colina dos Homens Perdidos”, Sidney Lumet (The Hill), 1965
– “O Terceiro Homem”, Carol Reed (The Third Man), 1949
– “Interlúdio”, Alfred Hitchcock (Notorious), 1946
– “A Sombra de Uma Dúvida”, Alfred Hitchcock (Shadow of a Doubt), 1943
– “Uma Rua Chamada Pecado”, Elia Kazan (A Streetcar Named Desire), 1951
– “Relíquia Macabra / O Falcão Maltês”, John Houston (The Maltese Falcon), 1941
Doze dos meus filmes europeus favoritos e três filmes japoneses favoritos (2005)
– “O Sétimo Selo”, Ingmar Bergman (Det Sjunde Inseglet), 1956
– “Rashomon”, Akira Kurosawa (Rash?mon), 1950
– “Ladrões de Bicicleta”, Vittorio De Sica (Ladri di Biciclette), 1948
– “A Grande Ilusão”, Jean Renoir (La Grande Illusion), 1937
– “A Regra do Jogo”, Jean Renoir (La Règle du Jeu), 1939
– “Morangos Silvestres”, Ingmar Bergman (Smultronstället), 1957
– “8 1/2″, Federico Fellini (8 1/2), 1963
– “Amarcord”, Federico Fellini (Amarcord), 1973
– “Trono Manchado de Sangue”, Akira Kurosawa (Kumonosu-j?), 1957
– “Gritos e Sussurros”, Ingmar Bergman (Viskningar och Rop), 1972
– “A Estrada da Vida”, Federico Fellini (La Strada), 1954
– “Os Incompreendidos”, François Truffaut (”Les Quatre Cents Coups), 1959
– “Acossado”, Jean Luc Godard (À Bout de Souffle), 1959
– “Os Sete Samurais”, Akira Kurosawa (Shichinin no Samurai), 1954
– “Vítimas da Tormenta”, Vittorio De Sica (Sciuscià), 1946
Tirando “Cidadão Kane” da lista de cima e passando para a debaixo, seria a minha lista de melhores filmes de todos os tempos”, diz Woody Allen
Provando que é um adepto da mutabilidade das listas, quando convidado em 2012 para a votação dos melhores filmes de todos os tempos organizada pela revista Sight and Sound, Woody Allen fez duas mudanças significativas listando 9 filmes presentes das listas acima, mas baixando “Glória Feita de Sangue” para a lista principal e incluindo um décimo filme (o trigésimo primeiro!), de Buñuel, que não havia aparecido nas duas listas de 2005:
Top 10 filmes de todos os tempos, por Woody Allen (2012)
– “O Sétimo Selo”, Ingmar Bergman (Det Sjunde Inseglet), 1956
– “Rashomon”, Akira Kurosawa (Rash?mon), 1950
– “Ladrões de Bicicleta” (Ladri di Biciclette), 1948
– “A Grande Ilusão”, Jean Renoir (La Grande Illusion), 1937
– “O Discreto Charme da Burguesia”, Luis Buñuel (Discreet Charm of the Bourgeoisie) 1972
– “Glória Feita de Sangue”, Stanley Kubrick (Paths of Glory), 1957
– “8 1/2″, Federico Fellini (8 1/2), 1963
– “Amarcord”, Federico Fellini (Amarcord), 1973
– “Os Incompreendidos”, François Truffaut (”Les Quatre Cents Coups), 1959
– “Cidadão Kane”, Orson Welles (Citizen Kane), 1941
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
– Filmografia comentada: os 24 filmes de Federico Fellini (aqui)
– Filmografia comentada: os 25 filmes de François Truffaut (aqui)
– Filmografia comentada: os 26 filmes de Billy Wilder (aqui)
– Jean Renoir: “A Grande Ilusão”, “A Marselhesa” e “A Regra do Jogo” (aqui)
– Jean Luc Godard: “Acossado” é uma obra prima obrigatória (aqui)
– Luis Buñuel: “Uma estranha reunião de fantasmas em Hollywood” (aqui)
setembro 3, 2009 No Comments
Top 100 cenas de nudez no cinema
Quando me passaram o link, na semana passada, entendi que seria uma lista com as 100 melhores cenas de sexo da história do cinema, e já fui direto ao Top 10 conferir se a pegação sensacional de Halle Berry e Billy Bob Thorton em “Monsters Ball“, de 2001, estava entre as cinco mais, mas então percebi que a seleção apenas listava cenas de nudez (e femininas, sorry ladies).
Mas não adianta ficar alegrinho, caro amigo. São 10 vídeos em que o pessoal do Mr. Skin explica as 100 escolhas, e mostra algumas cenas com tarjas (cenas sem tarjas apenas para cadastrados no site). Mesmo assim não deixa de ser interessante, e polêmico. Como não tem Paz Vega em “Lúcia e o Sexo“? E Angelina Jolie está muito melhor em “Pecado Original” do que em “Gia”.
E a número 1 é sério ou é pegadinha?
Veja a lista aqui e depois procure os vídeos no Youtube – ou na sua locadora.
Ps. A foto que abre o texto é a da deslumbrante Eva Green em cena de “Sonhadores” (2003), do Bertolucci (um filme que adoro e que escrevi sobre aqui), um filme que adoro e preciso rever (oitavo lugar na lista do Mr. Skin). Já a foto abaixo é de Juliet Mills fazendo topless na Costa Amalfitana para desespero de Jack Lemon em “Avanti – Amantes À Italiana”, filme de 1972 de Billy Wilder.
Leia também:
– Les Inrockuptibles lista 50 canções para fazer Sexo (aqui)
– 100 Canções Essenciais da MPB (aqui)
– 100 Maiores Canções da MPB segundo a Rolling Stone (aqui)
setembro 1, 2009 No Comments