Três discos: White Stripes, Hellacopters, Billy Bob Thornton

por Marcelo Costa

“Live”, White Stripes (Bootleg)
Sim, é um bootleg. E dos bons. “Live” flagra o duo Meg e Jack White subvertendo o blues, pagando tributo ao Led Zeppelin e fazendo festa com os singles matadores “Hotel Yorba”, “You’re Pretty Good Looking” e “Fell In Love With A Girl”. As gravações captam o White Stripes ao vivo em rádios inglesas. Primeiro é um show completo, no Maida Vale, para a BBC, em 25 julho de 2001. Depois, mais seis sessões diferentes de rádio em que a porrada e o barulho fazem a vida melhor. Meg ataca seu kit com violência, descendo o braço nos pratos e querendo competir com a guitarra. Jack posa de guitar hero. O resultado é empolgante. Vinte e três faixas que servem como um excelente resumo da carreira do duo.

“Cream of The Crap” – The Hellacopters (Universal/FNM)
Da Suécia para o mundo, com uma passadinha no Brasil via FNM, chega “Cream of The Crap”, coletânea de outtakes, b-sides e raridades do The Hellacopters. A banda assume o epiteto “High Energy Rock and Roll” com riffs rápidos e pesados, solos cortantes, vocais distorcidos, baixo e bateria explosivos. Um pé na garagem, outro no som dos Stones e coração e mente no hard rock sem concessões. “Cream of The Crap” resgata b-sides de singles de 1995 até 1999 lançados por gravadoras como as afamadas Estrus (“Looking At Me”, 1997) e Sub Pop (“Down Right Blue”, 1999), entre outras. A pauleira come solta em porradas como “Television Addict”, de riff poderoso acompanhado pelo famoso tecladinho uma nota só, e “Misanthropic High” em que o vocal se mistura meio a barulheira. O creme do álbum são as covers de “Gimme Shelter”, dos Stones, e “I Got A Right”, dos Stooges.

“Private Radio” – Billy Bob Thornton (FNM)
Artistas que se aventuram na música e músicos que se aventuram no cinema quase sempre resultam em fiascos. Billy Bob Thorton, no mesmo ano que alcançou seus maiores sucessos no cinema (“Vida Bandida”, “O Homem Que Não Estava Lá” e “A Última Ceia”), colocou na praça “Private Radio”, sua estreia na arte em que Bob Dylan é considerado gênio. O resultado, como era de se esperar, é irregular, mas traz boas surpresas. Se por um lado mostra canções monocórdicas que vão de lugar nenhum a nenhum lugar (o duo de canções que abrem o álbum, “Dark and Mad” e “Forever”) também comete acertos como a bela balada “Angelina” (yep, escrita para Angelina Jolie, esposa de Thornton e descrita no encarte como “The story oh how I met the love of my life. Without her I wouldn’t exist”), o folk com stell guitar “Walk of Shame”, a country chapada “Smoke In Bed” (“Smoke in bed, it’s bad for my body – good for my head, I like to lay around the house smoke in bed” diz a letra) e o clássico blues de Leon Payne, “Lost Highway”. Amparado por Marty Stuart, que durante vários anos acompanhou a lenda Johnny Cash, “Private Radio” é descompromissado, mediano, mas se você programar as faixas certas o resultado será ok. Se fosse o álbum de um novato, passaria desapercebido. Mas sendo de uma estrela do cinema, ganha destaque. É a velha máxima: como músico, Thornton continua sendo um excelente ator.

Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne

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