por Adriano Costa
O diretor australiano David Michôd provocou uma ótima primeira impressão na sua estreia em 2010 com um filme de ficção: “Reino Animal” (“Animal Kingdom”) é um trabalho intenso, potente, com muita tensão e um teor de desalento na violência embutida. Terceira maior bilheteria da história da Austrália, “Reino Animal” foi premiado na categoria Drama no Sundance e chegou até mesmo a levar uma (merecida) indicação ao Globo de Ouro e ao Oscar na categoria Melhor Atriz Coadjuvante (Jacki Weaver).
Quatro anos depois, David Michôd surge com “The Rover – A Caçada” (“The Rover”, 2014), assinando não apenas a direção, mas também roteiro, adaptado de uma história do ator Joel Edgerton (de “Guerreiro” e que trabalhou com o diretor em “Reino Animal”). A trama se ambienta em um mundo levado a bancarrota dez anos antes. O motivo que levou a essa quebra não é explicado, mas é nesse cenário que se inicia o filme e é nele que encontramos Eric tomando um café em uma birosca praticamente no meio de um deserto.
Com um olhar que mistura cansaço, desânimo e tédio, Eric (Guy Pearce, de “Amnésia”, repete a parceria com Michôd após trabalhar com o diretor em “Reino Animal”) ouve seu carro sendo roubado do lado de fora, e sai correndo para tentar evitar o furto. Quando chega ao local, o trio comandado por Henry (Scoot McNairy, de “Argo”) já havia partido com seu carro deixando para trás uma picape detonada por um acidente após um assalto que não deu certo. Eric, então, pega a picape e a perseguição que dá nome ao filme tem seu começo.
Durante a perseguição, o irmão de Henry, Rey (Robert Pattinson, o ídolo teen da saga “Crepúsculo”), entra todo quebrado e machucado no caminho do personagem principal. Ele se junta nessa caçada pelos próprios motivos, lá não tão inteligentes. Com uma paisagem desértica – de locações na Cordilheira Flinders e em Maree, na Austrália – impressa durante os pouco mais de 100 minutos do filme, “The Rover – A Caçada” apresenta figurantes destroçados, sujos, com medo e pânico instalado nos rostos.
De outro lado da história, “The Rover – A Caçada” apresenta uma força de segurança (militares? mercenários contratados?) que não está nem aí para a situação e só quer fazer a obrigação que lhes foi passada – tentar manter a ordem – e receber o dinheiro. Um rastro de mortes vai sendo deixado pelo caminho enquanto a trama se desenrola com Eric decidido a recuperar seu carro (o motivo de sua busca será respondido apenas no final, e não de modo satisfatório).
Em “The Rover – A Caçada” fica nítido o talento de David Michôd para situações de violência, em que o limite humano já foi ultrapassado e não há mais lugar para tolerâncias e compaixões. No entanto, apesar da boa atuação de Guy Pearce e de Robert Pattinson (mostrando que pode ir além do que já conquistou em termos de qualidade), o filme não consegue surpreender o espectador. O ritmo lento e compassado usado para contrapor a brutalidade prejudica mais do que ajuda e transforma “The Rover – A Caçada” em um trabalho inconstante de um diretor que já foi comparado a Martin Scorsese (pela Time Out), mas ainda precisa caminhar muito para honrar essa comparação.
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop
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Dormi com vinte minutos de filme… e eu não estava com sono.