“Marvel: A História Secreta”, de Sean Howe, é quase um livro de negócios, um case caótico e fascinante da editora norte-americana de segunda classe que, entre golpes de sorte e oportunismo, reinventou o mercado de quadrinhos e teve papel central no pop das últimas cinco décadas. Durante essa trajetória, a Marvel conquistou fãs do porte de Federico Fellini, bateu recordes, criou tendências e, apesar de ter chegado a abrir falência nos anos 90, entendeu como ninguém a força da cultura transmídia, botando no bolso a indústria cinematográfica do século 21.
A minuciosa apuração de Howe (trata-se, é bom ressaltar, de uma biografia não autorizada) merece os adjetivos que a Marvel sempre adorou estampar nas capas de suas publicações: AMAZING! ASTONISHING! SENSATIONAL! Na trama, repleta de altos e baixos, se revezam em cena tipos peculiares que compõem uma populosa fauna (vale praticamente como um histórico da folha de pagamento da empresa, o que por vezes deixa a leitura um tanto dispersiva) onde habitam figuras patéticas e anti-heróis – meio que versões destituídas de glamour dos mocinhos problemáticos e bandidos humanizados que a editora apresentou ao mundo.
O autor evita maniqueísmos, tornando impossível tomar partido até mesmo no embate – que percorre praticamente toda a narrativa – entre Stan Lee, eterno embaixador da Marvel, e o desenhista Jack Kirby, que passou a alegar ter criado sozinho todo o elenco clássico da editora (inclusive o Homem-Aranha, que ele nunca assinou). A impressão que fica é que o vilão, se existe, é o próprio mercado das histórias em quadrinhos. Nesse sentido, o livro tem o superpoder da desmistificação: quem um dia sonhou trabalhar nos estúdios da Marvel em seus tempos áureos vai descobrir que aquele era um ambiente competitivo, sufocante e selvagemente capitalista (a ponto de levar funcionários a infartos fulminantes).
Vencedor este ano do Eisner Award, principal prêmio do segmento, na categoria de melhor livro relacionado a quadrinhos, “Marvel: A História Secreta” chega ao Brasil (via Editora Leya e com uma tradução fluída de Érico Assis) quase que simultaneamente ao lançamento nos Estados Unidos. Uma obra para dividir espaço na estante com os clássicos “Homens do Amanhã”, de Gerard Jones, “The ten-cent plague”, de David Hadju, e “A Guerra dos Gibis”, de Gonçalo Junior.
– João Eduardo Veiga é jornalista e já entrevistou o Codeine para o Scream & Yell. Confira.
Leia também:
– Gustavo Duarte: “Mauricio de Sousa e o único que vive de quadrinhos no Brasil” (aqui)
– “Laços”, dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, faz releitura emocional e delicada (aqui)
– “Astronauta – Magnetar”, de Danilo Beyruth, conquista pelo traço detalhista (aqui)
– “MSP Ouro da Casa”: personagens de Maurício de Sousa ganham releitura (aqui)
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– “Daytripper”, de Fábio Moon e Gabriel Ba, provoca coceira… na alma (aqui)
Não sou muito fã da Marvel (sempre acompanhei a DC Comics), mas tive que ler esse livro (que, aliás, é muito bom!) Interessante notar que, como exemplo de modelo de negócios, a Marvel certamente é uma empresa a não ser seguida – mesmo estando onde está hoje. O livro parece defender Jack Kirby e tratar Stan Lee quase que como um supervilão, mas esse é apenas o lado da história de Sean Howe. Indispensável para os fãs de quadrinhos.
Acho que o Stan Lee aparece mais como um fanfarrão do que como o vilão. E também não dá para entender bem qual é a do Kirby — vítima ou ressentido? O mais legal do livro é não fazer muitos julgamentos, todo mundo ali é meio verde, meio podre.
Meu irmão comprou esse livro, mas ainda não tive a oportunidade de ler, pois: 1 – já tenho uma pilha de livros na fila e 2 – muito grande, então vou demorar muito para terminá-lo.
Mas, certamente, o lerei um dia pois sou fã da Marvel desde os anos 90 quando conheci Demolidor, meu super-herói favorito graças ao gênio Frank Miller.
Adquiri um exemplar há quase uma semana. Ótimo. Agora quero outro livro voltado para os pilares das HQs e que – pelo pouco que folheei – acho imperdível: “Will Eisner: Um Sonhador Nos Quadrinhos”.