entrevista de Guss de Lucca
fotos de Fernando Yokota
Em sua terceira passagem pelo Brasil, o Vapors of Morphine mostrou que segue firme na missão de manter o low rock vivo. O estilo, cunhado durante uma entrevista pelo vocalista do Morphine, Mark Sandman, resume a combinação inusitada de um baixo de duas cordas com uma bateria e um saxofone barítono. Apesar do término da banda, em 1999, após a morte de Sandman, o saxofonista Dana Colley segue empenhado em manter o legado do grupo vivo.
No dia anterior, o trio formado por Colley com o vocalista / guitarrista / baixista Jeremy Lyons e o baterista Tom Arey já havia se apresentado para um público menor no pequeno e aconchegante teatro do Sesc Jundiaí. Já na sexta (14) foi a vez do show no Cine Jóia, em São Paulo, que contou com abertura da banda sorocabana Wry.
O Vapors of Morphine abriu a noite com “Have a Lucky Day”, “Good” e “The Other Side”, três canções do primeiro álbum do Morphine, “Good”, de 1992. Apesar da voz de Lyons não ter o aveludado da de Sandman, a clara admiração do músico pela história do Morphine se traduz na empolgação dos fãs a cada canção. E ainda que o objetivo do grupo seja manter a chama do Morphine acesa, o Vapors também possui composições próprias – como a ótima “Drop Out Mambo”, que imprime a marca dessa formação com o uso de uma guitarra no lugar do baixo.
Em um dos momentos aguardados pelos presentes, Colley apresentou seu double sax na clássica “Radar”, do disco “Yes”, de 1995. Na execução, o músico toca, ao mesmo tempo, dois saxofones – outra marca registrada do único membro original do Morphine em atividade.
Próximo do fim, o Vapors fez a alegria de quem esperava pelo hino “Cure for Pain” (ausente do set em Jundiaí), do álbum homônimo de 1993, além de não deixar de fora “Souvenir”, única canção do disco póstumo “The Night“, de 2000 – essa cantada pelo próprio saxofonista.
Depois de um bis com a música mais famosa da banda, “Buena”, cujo público pedira diversas vezes durante a apresentação, Dana Colley iniciou em seu sax a melodia de “French Fries With Pepper”, música que ganhou tons melancólicos com a morte precoce de Sandman em 3 de julho de 1999. Na letra, de 1997, o vocalista diz que gostaria de estar sentado em sua varanda bebendo vinho tinto com batatas fritas apimentadas no dia 9 de setembro de 1999 – um desejo não realizado.
Nesse momento, uma parte pequena do público, formada pelo núcleo duro de fãs de Morphine, respondeu ao chamado de Colley e cantou a plenos pulmões a triste canção. O show havia chegado ao seu fim. Mas não o low rock.
– Guss de Lucca (@gussdeluca) é jornalista, historiador e no passado já foi cartunista do Scream & Yell.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/