Três shows no Sesc Pompeia: Siso, Test + Deaf Kids, Silvia Machete

Siso no Projeto Capsula, do Sesc Pompeia (10/1/2025)
texto de Marcelo Costa / fotos de Sergio Fernandes

Com um ótimo EP de estreia e três discos solos repletos de personalidade, o mineiro Siso já é um veterano do cenário independente nacional. Por isso, ter a oportunidade de vê-lo experimentar as canções de seu vindouro quarto álbum num pequeno ambiente íntimo (o Espaço Cênico do Sesc Pompeia), apenas acompanhado de sua guitarra, é uma maneira emocionante de acompanhar o processo de canções cruas buscando forma. Primeiro convidado do Projeto Capsula, idealizado pelo produtor João Abtibol para abrigar “a música que acontece agora”, Siso abriu seu set de maneira intensa com a ótima inédita “A Palavra Furacão” emendando duas faixas de seu EP de estreia, “Apocalipse” (versão forte que honra a original de José Mauro e Ana Maria Bahiana) e “Homem”, perfeitas para introduzir quem já conhecia seu trabalho nesse show, afinal são músicas que no EP “Terceiro Molar” (2016) exibem um arranjo mais eletrônico e aqui surgem desnudas, cruas, cortantes. Do novo repertório chamam a atenção “Um Corpo Que Cai”, parceria com Felipe Neiva, canção com levada dançante irresistível que remete a cumbia; a climática “Sabia, Sabiá”, uma parceria com Virgo Virgo (que se apresenta no Capsula na sexta 17/1), e, ainda, “Quebra Mundo”, parceria com Luiza Brina que dá título a esse show experimento. Se, no meio do processo desse novo disco, Siso cruzar seu caminho com sua guitarra, dê atenção a ele: a chance de você se surpreender é grande. Enquanto isso, procure seu trabalho nas redes. Vale a pena.


Test + Deaf Kids no Sesc Pompeia (10/1/2025)
texto de Marcelo Costa / fotos de Fernando Yokota

Para celebrar 15 anos das duas bandas, nada como subir em um dos palcos mais emblemáticos da cidade, o da Choperia do Sesc Pompeia, e com a casa lotada (mais de 650 ingressos foram vendidos antecipadamente). Para esta noite especial, Douglas Leal, Marian (Deaf Kids), João K e Barata (Test) desenharam um cenário típico de fim do mundo com uma infernal luz baixa vermelha pintando o palco sombrio. Vez em quando, lasers rasgavam o quadro, como se algum curto-circuito estivesse clamando atenção. Especialistas em sons extremos, o que Test e Deaf Kids promovem juntos no palco é uma catarse que, sim, em muitos momentos exploram o volume e o gutural, mas em outros surpreendem por destacar a força da percussão tocada com excelência por Marian, acompanhado aqui e ali por Douglas (que arrisca uma flauta em certas passagens tanto quanto pesa nos riffs, nos berros e solta segundos de eletronices house), enquanto espasmos de eletrochoque eram emitidos pela guitarra de João e acelerados por Barata na bateria. É um experimento provocante que pode levar a pensamentos invasivos como o do fotógrafo Fernando Yokota, que, durante o show, ficou “imaginando que se o Cinema Novo e Glauber Rocha estivessem acontecendo hoje não seria difícil de imaginar alguma das músicas que eles tocaram aqui em algum dos filmes” ou deste resenhista que sentia o caos sonoro como uns passos tortos à frente do que o Sepultura estava fazendo até “Roots” (1996), o extremo de guitarra e voz aliado a uma base percussiva que terceiros mundistas dominam (pra desespero anglo-saxão) resultando em som pra bater a cabeça e deixar a plateia – incluindo a presença de Bnegão, Laura Diaz (Teto Preto), Fernanda Lira (Crypta) João Gordo e Juçara Marçal (cuja versão atual de seu show também soa “batuque violento de terreiro“) – em transe numa noite linda de desgraceira hipnótica pra deixar todo mundo chapado. Showzão!


Silvia Machete no Sesc Pompeia (11/1/2025)
texto de Marcelo Costa / fotos de Fernando Yokota

“Depois de muitos anos fazendo uma personagem muito tropicalista, no ‘Rhonda’ eu criei uma personagem mais perto da minha personalidade e da sonoridade que eu gosto”, explicou Silvia Machete à Sarah Quines aqui no Scream & Yell em 2022. De certa forma, também é possível entender “Rhonda” (2020), o disco, como uma resposta sombria de Silvia àquela alegria nonsense de seus primeiros discos, algo que, inusitadamente, encontrou um público, e resultou em “Invisible Woman” (2024), um disco “mais feliz”, segundo a cantora. No palco, porém, todas essas Silvias se encontram, para delírio do público, e mesmo quem já foi a vários shows de Machete não poderia prever tantas surpresas (hilárias) como a desta noite no “Sexy” Pompeia. ”Sentimental Thief” e “Room Service” abriram o show de maneira cool. Em “Bad Connection”, ela saudou “ladies and germs”, misturou inglês, espanhol e francês e ofereceu seus dotes de “very sexy hot english teacher” para uma plateia totalmente em suas mãos. No blues “Soon”, fez descer um microfone do teto até dois palmos do chão e, deitada, apresentou sua competentíssima banda entre cruzadas de pernas. Tarefa cumprida, deixou Rhonda cantar a canção até ser surpreendida por um guitarrista, que “invadiu” o palco para solar ferozmente. Quando público e banda já estavam acostumados com o intruso, outro guitarrista surge da plateia para duelar com o primeiro intruso e o guitarrista da banda. No auge dos solos, ela saca um sandubão e começa a se saciar no microfone, para berros e gargalhadas gerais. Ao final, a explicação: “I love guitar heros. Guitar heroes make me hungry”. Aplausos. Ainda teve biscoitinho da sorte distribuído para a plateia com refrão de música, o “número do bambolê e do cigarro” e, para fechar a noitada com chave de ouro, uma versão poderosa do hino do momento, “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, num daqueles shows que te mandam pra casa com a alma sorrindo leve.

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

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