Três filmes: “Políticamente Incorrectos”, “Amores Solitários”, “O Sabor da Vida”

textos de Marcelo Costa

“Políticamente Incorrectos”, de Arantxa Echevarría (2024)
Laura Vázquez (Adriana Torrebejano) é uma jovem idealista filha de um importante ex-líder político da esquerda espanhola. Pablo Merino (Juanlu González) é um jovem fazendeiro conservador (de casamento marcado) que espera que a Espanha escolha um líder de direita no próximo pleito. Casualmente, nossos dois pombinhos não apenas são social media de seus partidos, como também são esquecidos juntos numa floresta afastada após um ato das duas campanhas. E, apesar de todas as diferenças políticas, irão se apaixonar. O resgate dos dois após dias na mata será amplificado na mídia espanhola fazendo com que cada um deles ganhe uma posição de destaque no pleito político (ainda que colocar cada um deles como número 2 de suas campanhas demonstre certo “foda-se” do roteiro). Arantxa Echevarría tinha uma premissa bem interessante e provocativa nas mãos, mas preferiu usar de sutileza quando deveria optar pelo pastelão (ou ironia, ou mordacidade) para sacanear o contexto político local (e mundial). Daí que sutis alfinetadas como a do esquerdo-macho que abandona mulher e filha pra ficar com as outras mulheres do partido ou do direitista que começa uma nova história de amor enquanto a noiva prepara os detalhes do casamento são leves demais em um filme que apenas tenta utilizar o pano de fundo político para desenhar o cenário de uma comédia romântica… e falha miseravelmente.

Nota: 3


“Amores Solitários”, de Susannah Grant (2024)
Katherine Loewe é uma escritora famosa que está passando por um tradicional momento de bloqueio criativo. Por isso (e também porque seu casamento está despedaçando), ela aceita o convite para um retiro de escritores em um antigo casarão no Marrocos, o que faz de “Lonely Planet” (no original) um filme tanto de cinema turismo (com trilha marroquina muito boa e vários closes em paisagens e curiosidades locais) quando um dramazinho romântico que força um pouco a barra na situação, ainda que, na vida real, seja extremamente plausível. Isso porque Katherine (Laura Dern esbanjando charme aos 57 anos) irá conhecer Owen Brophy (Liam Hemsworth), namorado troféu de uma jovem escritora best-seller também convidada para o retiro, e ainda que nada possa sugerir química entre os dois, um acaso ali, um desencanto aqui e, bem, as peças se encaixam. Segundo filme de Susannah Grant (que debutou na direção com o também bonitinho “Pegar ou Lagar”, com Jennifer Garner, em 2006, mas já tinha sido indicada ao Oscar como roteirista por seu trabalho em “Erin Brockovich”, de 2000), “Lonely Planet” é tão vazio quanto a cabeça de Owen e o coração de Katherine, mantendo uma linearidade no roteiro que soa refém de dois personagens extremamente desinspiradores. Um passatempo esquecível, mas devemos louvá-lo pois… Laura Dern. Assista no mudo e sem legendas.

Nota: 4


“O Sabor da Vida”, de Trần Anh Hùng (2023)
Uma das “polêmicas” do Oscar 2023 foi a ausência do poderoso “Anatomia de Uma Queda” – indicado a cinco Oscars, incluindo Melhor Filme – na categoria Melhor Filme Estrangeiro, sendo preterido pelos franceses (provavelmente por questões políticas) em favor deste “O Sabor da Vida” (“La Passion de Dodin Bouffant” no original), que chegou a entrar na short list da Academia, mas ficou de fora dos cinco indicados. A “confusão” com um dos filmes queridinhos da temporada muito provavelmente atrapalhou a trajetória internacional do filme de Trần Anh Hùng, que, sim, é inferior ao suspense de Justine Triet, mas tem seus méritos. Ambientado em 1885, “O Sabor da Vida” conta a história do chef (fictício) Dodin-Bouffant (Benoît Magimel) e seu relacionamento tanto com a cozinha quanto com a cozinheira Eugênie (Juliete Binoche). Nos primeiros 30 minutos do filme, o espectador irá acompanhar Dodin e Eygênie preparando cuidadosamente e servindo uma obra de arte… ou melhor, uma refeição para um grupo de convidados do chef, longa passagem que é puro deleite gastronômico. Daí pra frente, o romance entre Dodin e Eygênie entra em foco com o roteiro mantendo o mesmo cuidado e delicadeza com que apresentou a meia hora inicial. Conduzindo as duas paixões de Dodin em paralelo, Trần Anh Hùng não evita certa gordura (“Sabor da Vida” seria ainda melhor com 25 minutos a menos), mas nem isso atrapalha um ótimo filme que você não deve assistir de barriga vazia.

Nota: 7,5


– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.

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