Especial: Aos 50 anos, os temas de “The Lamb Lies Down on Broadway”, disco clássico do Genesis, mantêm sua relevância

texto especial de Bruno Moraes

“Tire seus dedos dos meus olhos”. Estas são as primeiras palavras do encarte do disco “The Lamb Lies Down on Broadway” da banda britânica (até então) de rock progressivo Genesis. Essas seriam as primeiras palavras da obra para alguém segurando o long play em 22 de novembro de 1974, quando ele chegou pela primeira vez às prateleiras de lojas de discos.

O texto do encarte, impresso nas duas faces internas da capa de papelão do vinil, é disposto em vários parágrafos entremeados com fotomontagens em preto e branco, se assemelhando a um artigo de jornal ou revista impressa. Não correspondendo às letras das músicas, que estão dispostas nos envelopes de papel que protegem cada disco de vinil, o estranho texto do encarte é uma narrativa complementar à história contada nos quatro lados do álbum duplo.

Surreal, satírico e místico, o texto de abertura de “The Lamb Lies Down on Broadway”, escrito por Peter Gabriel sem participação dos outros membros da banda, já começa a pregar peças em quem lê nesta primeira frase: ao segurar a capa do vinil com a mão aberta no centro, esconde-se com os dedos uma fotografia do protagonista da história, Rael, tapando os olhos da figura que, na foto em questão, já não tem a boca.

Depois de se tocar da piada de Gabriel (não é de se imaginar que tenha sido uma constatação rápida em um mundo sem internet) e retirar os dedos dos olhos e possivelmente dos ouvidos de Rael, seria possível prosseguir com a leitura a caminho de casa e da sua vitrola. No processo de (tentar) entender a narrativa do álbum na sua totalidade, quem devora com atenção percebe que Rael – que usa sua boca, ou a de Peter Gabriel, para cantar cheio de bravatas e macheza a maior parte das canções – é uma figura que combina com o isolamento total evocado pelos olhos, boca e ouvidos tapados da piada de abertura.

A história de “The Lamb Lies Down on Broadway” é a de uma banda de jovens artistas que se conheceram numa escola privada inglesa e, após cinco álbuns de estúdio e uma turnê mundial, decidiram gravar um álbum extremamente ambicioso. Um épico contemporâneo e, novamente, místico, concebido em meio a uma turbulência tão intensa de aspectos técnicos, artísticos e pessoais que a banda se separou depois da turnê do disco.

É, também, como diz a abertura, a história de Rael, e não da figura sobrenatural que assina o encarte. Considerado um dos melhores álbuns de rock progressivo de todos os tempos (Top 9 na lista da Rolling Stone), um dos 1001 discos para se ouvir antes de morrer e chamado de “o ‘Ulisses’ dos álbuns conceituais” pela renomada New Yorker, o final da história de “The Lamb Lies Down on Broadway” justifica o fato de que, ao se tapar os olhos de Rael, é outra figura que protesta – esta coincidência entre os olhos de Rael e os de outros seres é uma mensagem importante para os tempos atuais. Mas, calma: melhor começar… pelo início.

Da mesma forma que a versão original do álbum, em vinil duplo, esta reportagem terá duas partes. Comecemos então com a agulha repousando suavemente sobre os primeiros sulcos do Lado A.

Lado A: Da Gênese à Revelação

Em 1967 nascia o Genesis, composto por alunos da escola interna de Charterhouse, em Surrey, Inglaterra. Era o mesmo ano em que Jimi Hendrix e os Doors lançavam seus dois primeiros álbuns, tão relevantes para a expansão estética do rock quanto os contemporâneos “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” dos Beatles e os também estreantes “The Velvet Underground and Nico”, “The Piper At the Gates of Dawn” do Pink Floyd e “Surrealistic Pillow” do Jefferson Airplane. No internato, destinado apenas a garotos vindos de famílias de elite e classe média-alta, os músicos que depois viriam a se tornar o Genesis se conheceram, vindos de outras duas bandas: Peter Gabriel, Tony Banks e Chris Stewart eram, respectivamente, o vocalista, o tecladista e o baterista da Garden Wall. Anthony Phillips e Mike Rutherford tocavam no Anon, respectivamente responsáveis pela guitarra e contrabaixo.

Sete anos depois, o Genesis havia passado pela gravação de quatro álbuns e algumas mudanças de formação. O quinteto que hoje é considerado a fase clássica do Genesis, consistindo, desde o álbum “Nursery Cryme” (1971), dos veteranos Gabriel (vocais, flautas e tamborim), Banks (teclados e violão acústico) e Rutherford (contrabaixo e violão de doze cordas, às vezes combinados em um instrumento de dois braços) junto aos então recém-chegados Steve Hackett (guitarra elétrica e acústica) e a Phil Collins (bateria e eventuais e proféticos vocais) havia se consolidado como um nome forte do rock progressivo. Com álbuns marcantes como o próprio “Nursery Cryme”, “Foxtrot” (1972) e o às vezes subestimado “Trespass” (de 1970 e ainda com o fundador Anthony Phillips nas guitarras e o terceiro baterista, John Mayhew), a banda conquistou espaço como um dos principais expoentes do estilo pastoral do rock progressivo inglês, que trazia uma forte influência do folk britânico na sonoridade e nos temas, histórias fantásticas da Europa e da Inglaterra antiga, medieval, elizabetana, vitoriana e de tantas eras passadas. Não raramente, os temas históricos ou fantásticos do passado eram alegorias para o momento presente da ilha que já foi centro de um império brutal, agora em queda.

A banda também havia ganhado muita confiança em seu talento artístico desde os primeiros singles e do álbum de estreia “From Genesis to Revelation” (1969), no qual ainda buscavam uma identidade. Demonstrando carisma, inventividade e veia teatral admiráveis, Peter Gabriel levava aos palcos narrativas, esquetes e mudanças de figurino, com um número de personagens icônicos como a Raposa, a Flor, Britânia, o Velho Rei Cole e tantos outros mais. À época de concepção de “The Lamb Lies Down on Broadway”, o Genesis havia encerrado sua primeira grande turnê internacional, levando esse universo mágico para os palcos de países como Alemanha, Suíça, Canadá e Estados Unidos na primeira turnê propriamente dita da banda pela América do Norte, uma vez que, anteriormente, eles tinham realizado apenas dois shows no continente, na Universidade de Brandeis em Massachusetts e no Philharmonic Hall de Nova York, durante a turnê do disco “Foxtrot”. A recepção explosiva de “Selling England by the Pound”, quinto disco do grupo, fez com que a banda levasse suas ideias, sonoridade e estética exageradamente britânicas para cidades como Montreal, Los Angeles, Detroit e Nova York. A plateia tinha a possibilidade de saber o que esperar do Genesis ao vivo, devido ao álbum “Genesis Live” (1973), que reúne músicas de duas apresentações em sua terra natal durante a turnê do álbum “Foxtrot”.

Quem não podia antecipar o impacto de conhecer melhor os Estados Unidos – ex-colônia e atual império, herdeiro do espaço tirânico da Inglaterra – eram as jovens estrelas de Surrey. Em especial, andar pelas ruas de Nova York, um dos órgãos vitais daquele novo império, fez com que ideias diferentes começassem a germinar nas mentes do Genesis, em especial a de Peter Gabriel. Em maio de 1974, retornando à Inglaterra para fazer os últimos dois shows da turnê (em Bristol e Londres), era óbvio para a banda e para Tony Stratton-Smith, dono da gravadora Charisma Records, que era hora de pensar no próximo álbum de ideias mirabolantes e música potente e cuidadosamente composta.

Os álbuns do Genesis até então vinham se tornando cada vez mais voltados a um conceito central, embora nenhum tivesse uma narrativa única. “Selling England By The Pound”, por exemplo, contava uma série de histórias sobre as zonas rurais e urbanas da Inglaterra. Era um disco onde uma reflexão sobre o estado econômico e cultural do país dividia espaço com um conto satírico sobre uma briga de gangues, uma meditação sobre as transformações trazidas pelo tempo e até mesmo uma história de amor que colidia Shakespeare e a juventude do princípio dos anos 1970. Fazia sentido que o próximo disco se aventurasse por intensificar ainda mais a abordagem de construir um álbum com um tema central. Faltava apenas decidir qual seria este tema.

Começava aí o primeiro de muitos impasses da história de produção de “The Lamb Lies Down on Broadway”.

Lado B: Composições conturbadas e ratos nas paredes

Em junho de 1974, os membros do Genesis se mudaram temporariamente para a Headley Grange, um espaço de retiro criativo, ensaio e gravação de música, estabelecido na estrutura de uma antiga “workhouse”, termo que denota uma espécie de abrigo administrado pelo poder público britânico, onde pessoas despossuídas poderiam morar e trabalhar, algo entre um abrigo público e uma oficina. Apesar de nem um pouco despossuídos, os ex-alunos do caro internato Charterhouse também morariam e trabalhariam ali, a exemplo de grupos como o Led Zeppelin, que compôs e gravou partes dos álbuns “Led Zeppelin III”, “Led Zeppelin IV”, “Houses of the Holy” e “Physical Graffiti” na Headley Grange, uma “workhouse” em Hampshire – Robert Plant escreveu a letra de “Stairway to Heaven” em um único dia lá. Consciente de que a banda queria trabalhar em um álbum duplo, a Charisma alugou o espaço por três meses. Ainda no primeiro mês começaram as primeiras discussões sobre qual deveria ser o conceito do disco.

Genesis em 1974 na Headley Grange: da esquerda para a direita, Phil Collins, Mike Rutherford, Tony Banks, Peter Gabriel e Steve Hackett / Foto de Michael Ochs

Segundo uma entrevista disposta no livro “The Book of Genesis” (1984), de Hugh Fielder, várias ideias foram trazidas à mesa sobre qual deveria ser esse conceito. Uma das concorrentes mais comentadas pela banda era uma adaptação do livro “O Pequeno Príncipe” (1943), de Antoine de Saint-Exupéry, e Mike Rutherford parecia gostar bastante dessa ideia. O conto infanto-juvenil com mensagens sobre a sociedade materialista e as relações interpessoais poderia até ser adequado para um segundo ou terceiro álbum do Genesis, mas a banda já havia passado por tópicos maduros demais antes de 1974. Na mesma entrevista, reproduzida no artigo “The Annotated Lamb Lies Down on Broadway”, Peter Gabriel classifica a ideia como “muito ultrapassada e sentimental”

Ao invés do “Pequeno Príncipe”, o mesmo Peter Gabriel apresentou uma ideia original e mais provocadora: explorar o contraste vivenciado pela banda nos Estados Unidos em comparação ao universo temático e estético do Genesis até então. Se “Selling England By the Pound” era um disco sobre a Inglaterra, tanto a do passado como a do início da década de 1970, os tempos davam sinal de mudança: “Eu acho que isso foi numa era pré-punk, mas parecia haver algo no ar que me fazia sentir que o disco não poderia ser aquele tipo de coisa pomposa, folclórica, bonitinha e rural”, Gabriel comentou em uma entrevista em 2014, conduzida por John Edgington em comemoração dos 40 anos do disco. “Então eu tinha algo que claramente tinha influência do filme ‘Amor, Sublime Amor’ (1961) em mente, que levaria o disco para uma paisagem mais urbana, mas também com um elemento de ‘O Peregrino’,” completa o artista, fazendo alusão ao romance cristão do Século XVII escrito por John Bunyan, que se utilizava de uma narrativa onírica para apresentar lições sobre a moral e a teologia cristãs.

Impactado também pelo western simbólico “El Topo” (1970), do controverso diretor Alejandro Jodorowsky, que se utilizava da ambientação e de algumas convenções do gênero de cinema de faroeste para contar sua própria alegoria espiritual sobre tentação e transcendência, Gabriel decidiu que sua própria narrativa mística também teria um pouco do experimentalismo psicodélico e surreal do longa-metragem. Enquanto “El Topo” transpunha as metáforas sobre iluminação espiritual para um filme de faroeste, “The Lamb Lies Down on Broadway” centra suas metáforas em um personagem que poderia ser coadjuvante em “Amor, Sublime Amor”, o musical sobre gangues de rua em Nova York, compostas por pessoas de populações marginalizadas devido a sua origem geográfica e racial: Rael era, assim como a gangue dos Sharks do musical de 1961, um jovem porto-riquenho que cresceu em meio à contravenção e à violência nas ruas de Nova York.

Pôster de “El Topo” e cena de” West Side Story”. Da colisão entre a estética surrealista e simbólica do primeiro e o clima urbano e conflituoso do segundo nasce a ideia do álbum.

A ideia de Gabriel é que o disco contasse a história desse personagem tão atípico no cânone de narrativas do Genesis, e que o personagem fosse das ruas da megalópole novaiorquina para uma série de situações bizarras e contraditórias, ao longo do caminho percebendo algo transcendente sobre si próprio e sobre a realidade a sua volta. E, obviamente, se fosse para o disco contar essa história — que o vocalista tinha certeza de que conseguiria convencer os amigos a abraçar — ela deveria ser totalmente concebida e escrita pelo próprio Peter.

Essa segunda ideia já não foi tão fácil de convencer os amigos a abraçar.

Assistindo à entrevistas com a banda, é recorrente que eles frisem o quanto o processo de escrita e composição até ali costumava ser bastante democrático. Mesmo os “novatos” Hackett e Collins conseguiam seu lugar à mesa na hora de propor ideias. O Genesis se orgulhava de ser um grupo de compositores, e o processo colaborativo era um dos pilares do funcionamento do conjunto. A ideia de separar a banda em duas, com Gabriel cuidando da história e de todas as letras, enquanto os outros membros trabalhariam nas melodias que combinassem com cada “capítulo” do estranho conto elaborado pelo cantor, ia contra o modus operandi que funcionara tão bem até ali.

Por fim, este foi o caminho tomado. Mas essa primeira fissura no Genesis foi sendo agravada, e outros problemas começaram a surgir. Certamente estarem todos morando juntos enquanto trabalhavam por horas e engoliam pequenos rancores não ajudava.

O lugar onde isso tudo se deu parecia ajudar menos ainda.

“Eu me lembro de dirigir até Headley Grange. Eu estava com a Andie [Bertorelli], minha primeira esposa. E a Joely (primeira filha) também estava com a gente,” conta Phil Collins, na anedota que abre a icônica entrevista feita em 2007 para o lançamento das versões remasterizadas dos álbuns clássicos do Genesis, atualmente disponível no YouTube (assista abaixo). “E era como adentrar um romance de [Charles] Dickens. Janelas quebradas e ratos por toda parte! O Bad Company tinha usado o espaço, e o Led Zeppelin também (…), mas eu acho que ninguém deu uma limpeza antes de a gente chegar. Então a gente andava e dois ou três ratos passavam correndo. Eles paravam e olhavam pra nós, como quem diz ‘algum problema?!’ (…) E eu estava com a minha filha pra passar essa primeira noite lá. À noite, deitado na cama, era possível ouvir os ratos andando. Era um lugar que não dormia nunca!”

Mesmo após uma boa limpeza, os ratos continuaram por lá. E, na opinião de alguns dos membros, não apenas eles. Logo em seguida, no mesmo vídeo, Steve Hackett comenta: “Eu estava conversando com Robert Plant em algum momento, e ele disse: ‘Sabe? Eu estou convencido de que aquele lugar é assombrado!’ e eu respondi: ‘Eu também!’ Eu ouvia os sons à noite e quase não conseguia dormir. Era um lugar estranho”.

Curiosamente, a próxima situação a agravar as tensões entre a banda também tinha a ver com o terror e o sobrenatural: o diretor de “O Exorcista” (1973), William Friedkin. Em algum momento de 1974, o cineasta havia feito alguns telefonemas e conseguido entrar em contato com Peter Gabriel. Ele contou ao músico que havia lido o conto impresso no encarte do já mencionado “Genesis Live”, de autoria de Gabriel, e gostado muito de suas ideias. Friedkin tinha uma proposta para o músico: trabalhar em colaboração, trazendo ideias para pelo menos o seu próximo filme, que faria parte de um projeto de Friedkin de renovar o estilo de contação de histórias em Hollywood. Pelas conversas ao telefone (para as quais Peter deixava a banda e o novo disco para trás na Headley Grange e saía de bicicleta em direção a uma cabine telefônica, os bolsos cheios de moedas de 10 pence) ficou claro que, se a colaboração de brainstorming desse certo, Gabriel poderia ser parte dessa chamada renovação.

Como as fontes mais abundantes dessa história são os próprios músicos do Genesis, é difícil imaginar qual era a visão de Friedkin para uma “nova” Hollywood, uma vez que o diretor já estava inserido na chamada “Nova Hollywood”, um conjunto de produções que se esforçaram para avançar para além das convenções estéticas, narrativas e morais da Hollywood clássica. O que a banda pode falar com bastante propriedade é que ninguém recebeu bem a ideia de que Gabriel — que já havia pisado em alguns calos ao insistir na realização do seu conceito e em cuidar sozinho das letras — se afastasse por algumas semanas para trabalhar com Friedkin em uma ficção científica que sequer envolveria o resto da banda na trilha sonora, já que o diretor havia ventilado que estava pensando na música cósmica da banda alemã Tangerine Dream. Com os três meses do contrato com a administração da Headley Grange chegando ao fim, cada dia de trabalho era crucial.

O que torna ainda mais absurdo o fato de que Peter pegou um avião e viajou até a Califórnia para se encontrar pessoalmente com o diretor.

Phil Collins conta, na entrevista de 2007: “Nós demos um ultimato para ele: você tem de escolher Friedkin ou ficar com a banda. E aí ele partiu. E Friedkin reagiu dizendo ‘Eu não quero acabar com a banda! Eu nem sei se isso vai dar certo!’ e aí o Peter voltou.” Entre a partida de Gabriel e seu retorno, a banda considerou continuar sem ele. Na mesma entrevista, Collins diz: “Assim que o Peter saiu, minha primeira ideia foi: ‘Bem, os vocais só atrapalham mesmo, vamos fazer um disco instrumental!’”. Collins brinca logo em seguida, sugerindo que isso seria um suicídio artístico. Ter a chance de escutar as gravações de ensaios da época, chamados de “As demos de Headley Grange” (acima) ajuda a entender o entusiasmo do então baterista com a potência instrumental das ideias criadas pela banda até ali. Phil completa, porém: “Mas essa ideia foi descartada, o que foi a escolha certa e… Aí o Peter voltou e pouco depois nós fomos para o estúdio no País de Gales”.

Ao final do período de criação e ensaios, o Genesis tinha bastante material para encher os quatro lados de um disco duplo. As composições iam do enérgico ao meditativo, do atmosférico ao flerte com a música acessível. A ênfase maior nos teclados obrigou Steve Hackett a reinventar sua abordagem, focando-se mais em atmosferas, riffs e acompanhamentos, com uma presença mais esparsa de solos. Olhando para trás, ele não parece totalmente confortável com isso, mas tanto nos registros das sessões da Headley Grange quanto no álbum finalizado, é muito perceptível o quanto a limitação levou a um trabalho de guitarra que se destaca pela originalidade. E faixas como a impactante “Fly on a Windshield” trazem linhas proeminentes de guitarra, que ele (junto a muitos dos fãs) encara com muita empolgação.

Steve Hackett revisitando duas faixas do Lamb com a banda argentina Genetics em 2021

Havia acabado o período de concepção inicial do disco. Peter estava de volta, e ficavam para trás os ratos e o clima sinistro de Headley Grange. Àquela altura, a única assombração com a qual o Genesis sabia que tinha de lidar era o fato de que seu vocalista poderia pular fora a qualquer momento.

Você poderá descobrir o que aconteceu a seguir na segunda parte desta reportagem, na próxima sexta-feira (29). Além de tratar da — também problemática — fase de gravação, o Lado C desta retrospectiva tratará das músicas e da narrativa ficcional presente no disco. Já o Lado D irá focar na turnê de divulgação do disco, e outros aspectos do que aconteceu depois do lançamento.

– Bruno de Sousa Moraes migrou das ciências biológicas para a comunicação depois de um curso de jornalismo científico. Desde então, publica matérias sobre ecologia e conservação da biodiversidade, e está se arriscando pelo jornalismo musical.

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