Summer Breeze Brasil 2024 se consolida como o principal evento de música pesada no país

texto por Paulo Pontes
fotos por Fernando Yokota e Equipe MHERMES ARTS

Em sua primeira edição, em 2023, o Summer Breeze Brasil já havia demonstrado que não estava pra brincadeira: a parada era séria com o festival alemão aportando em terras tupiniquins para ficar (com mais intensidade, diga-se de passagem). Não a toa, o festival teve um upgrade em 2024: foram três dias de muita música (e calor) pra headbanger nenhum botar defeito. E se no ano passado o desejo era que o Summer Breeze Brasil se tornasse rotina no nosso calendário de festivais, esse desejo se realizou. Antes mesmo do fim da maratona 2024, a organização já fez o anúncio do Summer Breeze Brasil 2025 (para a nossa alegria).

Foto de Fernando Yokota

A segunda edição foi perfeita? Claro que não. Algumas reclamações começaram antes mesmo do início do evento, lá no mês de dezembro, logo após uma mudança significativa no lineup. O Mercyful Fate (disparado uma das atrações mais aguardadas do festival), que num primeiro momento foi escalado para a sexta-feira (26/04), teve sua apresentação alterada para o domingo (28/04), no encerramento do evento. O problema é que ingressos já haviam sido vendidos e muitas pessoas foram às redes sociais em protesto por terem adquirido entradas para a sexta, justamente pra ver a banda liderada por King Diamond. Aí já viu, né?!

Foto: Equipe MHERMES ARTS

Mas, por outro lado, se a edição 2024 teve problemas pontuais, como esse mencionado (ainda que, pra falar a verdade, a mudança tenha feito total sentido), também vale destacar os acertos (e as melhorias em relação ao ano anterior), como a atualização do Waves Stage, que dessa vez permitiu acesso a todos os presentes (em 2023 só quem adquiriu ingressos do lounge puderam ver os shows desse palco) e a melhoria significativa nos banheiros espalhados pelo festival, entre outros. No final, o saldo foi bem mais positivo do que negativo.

Foto de Fernando Yokota

Assim como aconteceu na edição anterior, o que vimos foi um lineup bem heterogêneo (como um bom festival nesses moldes deve ser), indo do rock and roll ao thrash metal (talvez mais bandas de black metal em 2025 possam contribuir pra uma diversificação ainda maior). E é aquilo, festival não dá pra ver tudo, ainda mais com quatro palcos e, em muitos casos, com três shows rolando simultaneamente (galera, não adianta reclamações do tipo “pô, banda tal no mesmo horário de banda tal é sacanagem”, na Europa isso também acontece e escolhas precisam ser feitas. É foda, mas faz parte). Então, vamos ver o que deu pra acompanhar em cada um dos dias.

Foto de Fernando Yokota

Dia 1 – Sexta – 26 de abril

Pra começo de conversa, vale mencionar que, exceto pequenas alterações, como o palco Waves do lado de fora do teatro e a área kids que teve uma leve mudança de lugar, a estrutura geral estava muito parecida com a do ano passado. A retirada da credencial de imprensa no Portão 8 do Memorial da América Latina rolou sem maiores problemas, apesar de uma leve falha de organização (a maioria das pessoas não sabia qual era a fila para cada tipo de credencial). Mas são coisas que podem rolar no primeiro dia de um festival. Ponto positivo para a decisão de utilização da mesma credencial nos três dias, o que poupou tempo no sábado e no domingo.

O que era esperado aconteceu: o público na sexta (principalmente nas primeiras horas de fest) foi menor que os outros dois dias. Certamente, a venda de ingressos para o primeiro dia foi fator primordial para a organização decidir voltar aos moldes de 2023 e anunciar que, em 2025, o Summer Breeze Brasil volta a acontecer em dois dias, sábado e domingo (2 e 3 de maio).

Nestor / Foto de Fernando Yokota

A banda responsável por abrir os trabalhos, às 11h, no palco Ice Waves, já com um sol forte — o que nos leva já cedo ao primeiro copo de cerveja —, sobre o Memorial, foi a mais nova sensação do hard rock sueco: Nestor. Formada por Tobias Gustavsson (vocal), Jonny Wemmenstedt (guitarra), Marcus Âblad (baixo), Martin Johansson (teclado) e Matthias Carlsson (bateria) e com apenas um álbum na bagagem, o ótimo “Kids In A Ghost Town” (2022), a banda surpreendeu com uma excelente presença de palco e com músicas que empolgaram geral. Destaque pra “On the Run”, “Victorious” (executada ao vivo pela primeira vez) e pro cover de “I Wanna Dance With Somebody”, de Whitney Houston. Quem curte Europe, Def Leppard, Bon Jovi, entre outros nomes nessa pegada, precisa dar uma chance pro Nestor.

Flotsam and Jetsam / Foto de Fernando Yokota

Lembra o lance de que esse é um festival heterogêneo? Então, poucos minutos depois (inclusive, vale um parênteses pra falar sobre a pontualidade dos shows — teve até apresentação levemente adiantada —, atraso, ainda que pequeno, só no último show do festival), os norte-americanos do Flotsam and Jetsam estrearam no Brasil no palco ao lado, o Hot Stage. Foi um bom show, talvez um pouco prejudicado pelo horário/dia em que foi escalado, já que o público ainda estava “morno”.

Dr. Sin / Foto de Fernando Yokota

Corrida rápida lá pro outro lado da Avenida Mário de Andrade pra conferir o Dr. Sin no Sun Stage. É sempre bom ver esses caras em ação. Com certeza, a maior banda de hard rock da história do Brasil. A atual formação conta com os irmãos Busic, Andria (vocal e baixo) e Ivan (bateria e vocais) mais Thiago Melo (guitarra). Com um bom público para às 13h, em um palco secundário, o trio foi muito bem recebido e colocou a galera pra cantar as clássicas “Time After Time”, “Miracles”, “Fly Away”, “Fire”, “Isolated” e “Emotional Catastrophe”. Além disso, a banda incluiu no setlist uma faixa inédita, que será lançada em breve, “Only the Strong Survive”, e de quebra registrou o momento para um vindouro videoclipe.

Black Stone Cherry / Foto de Fernando Yokota

Ali no Sun, na sequência, rolaria o show da banda inglesa Tygers of Pan Tang, mas como a vida é feita de escolhas, após bater um papo rápido com o pessoal do Dr. Sin, era hora de atravessar a passarela pra conferir o Black Stone Cherry. E que show. Nem os problemas técnicos iniciais (guitarra sendo trocada na primeira música, peças da bateria caindo e sendo repostas rapidamente pelos roadies) conseguiram estragar. Dá pra cravar que foi o primeiro grande som (em termos de qualidade sonora mesmo) do Hot Stage. A banda já abriu com “Me and Mary Jane” e ganhou o público. Daí pra frente, meu amigo… Rolou “Burnin”‘, “Again”, “Blind Man”, “White Trash Millionaire”, entre outras, inclusive as novas “Nervous” e “When The Pain Comes”. O fim veio com “Lonely Train”, uma pedrada lá do primeiro álbum autointitulado (2006). Um puta show de uma banda relativamente nova, que a cada ano se firma como uma das grandes no cenário da música pesada.

Exodus / Foto de Fernando Yokota

Se o som do Hot Stage estava foda no show do Black Stone Cherry, não dá pra dizer o mesmo do que rolou no Ice Stage durante boa parte do show do Exodus, que subiu ao palco às 15h50 (com o sol trincando — galera do bar trabalhou nos três dias, viu?!). As guitarras estavam “magrinhas” e estava sobrando grave da bateria (inclusive, grave em excesso não faltou em muitos shows durante o festival; mas aí são detalhes que podem ser resolvidos tranquilamente na próxima edição). Outro detalhe que influenciou negativamente no show dessa que é uma das maiores instituições do thrash metal mundial atende pelo nome de Steve “Zetro” Souza. Infelizmente, ele não aguenta mais e acaba empurrando pra traz a banda, que é competente de sobra. Foi um show ruim? Não! Mas poderia ter sido infinitamente melhor.

Sebastian Bach / Foto de Diego Padilha – Equipe MHERMES ARTS

Se na edição 2023 o público pode conferir a performance arrasadora do Skid Row com o vocalista sueco Erik Magnus Grönwall (já fora da banda por problemas de saúde), na edição de 2024 quem deu as caras foi Sebastian Bach, responsável pelos vocais nos anos de ouro da banda. E o show do “Tião” nos leva a duas conclusões: a primeira é que ele continua sendo um puta frontman; a segunda, por outro lado, é que ele já não consegue segurar um show inteiro com a mesma intensidade do começo ao fim. Foi um bom show, com a maioria dos clássicos de sua antiga banda, mas não o suficiente pra nos levar a crer que um possível retorno ao Skid Row seja a melhor opção pra banda. Seria foda ver a banda reunida para, de repente, uma turnê focada nos dois primeiros álbuns (talvez tocados na íntegra)? Seria. Ele aguentaria? Não! Mas aí entra outro questionamento: os fãs ligariam? Também não. Valeria pela festa. Então, quem sabe. Fato curioso e inusitado: nos primeiros segundos do show, o telão ao fundo exibiu a capa do último disco do Black Stone Cherry, que havia se apresentado anteriormente no Hot, mas loga a situação se resolveu (aparentemente Sebastian nem percebeu o erro) e a capa do vindouro novo álbum de estúdio do cantor “Child Within the Man”, apareceu no telão.

Mr. Big / Foto de Fernando Yokota

Ah, o sol. Após o show do “Tião” ele já não castigava mais o público e deixou o clima mais agradável e propício para as próximas atrações. Então surgiu a primeira decisão realmente difícil de tomar em relação aos shows simultâneos. Enquanto o Mr. Big subia ao Ice Stage, os “Vampiros de Helsinki”, The 69 Eyes, subiam no Sun Stage. Mas os finlandeses estavam na minha lista de “shows para ver em 2024”, então corri pro Sun. E vou te falar, se arrependimento matasse, eu ainda estaria aqui, tão vivo quanto agora, porque foi, sem dúvidas, um dos melhores shows do Summer Breeze 2024. Mesmo que tenha rolado um inconveniente após a quarta música do show, “Death of Darkness”, que levou a banda a cortar, no mínimo, uma faixa do set (provavelmente “Drive”). O que aconteceu é que, desde o início da apresentação, era visível um incômodo do vocalista Jyrki 69 com um problema técnico (aparentemente em seu retorno, já que para o público o som estava impecável). Isso fez com que Jyrki 69 deixasse o palco após “Death of Darkness”, voltando somente após o problema ser resolvido (uns 10 minutos depois). Nesse meio tempo, teve Supla (?!) aparecendo no palco (o Papito foi responsável por apresentar a banda), teve o guitarrista Pasi Moilanen executando pequenos solos e teve silêncio, reação negativa de parte da plateia e dúvidas sobre a continuidade do show. Mas ele rolou (ainda bem). No total foram 10 músicas, entre elas “Devils”, “Feel Berlin”, “Never Say Die”, “Brandon Lee” e “Lost Boys”.

The 69 Eyes / Foto de Diego Padilha – Equipe MHERMES ARTS

Era hora de atravessar novamente a passarela pra conferir o grande headliner da noite: Gene Simmons Band. Antes, uma passada rápida na sala de imprensa pra dar aquela hidratada e comer alguma coisa. O show do eterno “The Demon” teve poucas surpresas e foi recheado de clássicos de sua antiga banda (a esmagadora maioria presente na turnê de despedida do Kiss), além de alguns covers (“Communication Breakdown” do Led Zeppelin e “Ace of Spades” do Motörhead, com direito a uma homenagem ao saudoso Lemmy Kilmister). A banda de apoio de Gene é excelente, com os guitarristas Brent Woods (que mais cedo havia tocado com Sebastian Bach) e Jason Walker (que cantou todas as partes anteriormente atribuídas a Paul Stanley no Kiss — e mandou muito bem), além do baterista Brian Tichy. Foi uma grande festa, quase um ensaio, que, no geral, agradou o público. Rolou frases em português, uma participação questionável da cantora Miranda Kassin em “I Was Made For Lovin’ You” e garotas no palco em Rock and Roll All Nite, que (surpreendendo um total de zero pessoas) encerrou a apresentação. Fim do primeiro dia, mas só o começo do Summer Breeze Brasil 2024.

Gene Simmons Band / Foto de Fernando Yokota

Dia 2 – Sábado – 27 de abril

A fila do lado de fora já apontava o óbvio: o sábado seria responsável por levar um público maior ao Memorial da América Latina. Dos três, foi o dia mais lotado (o que faz pensar que o festival esteja ficando grande demais para o espaço escolhido). Provavelmente, tivemos aqui a junção de dois grupos de fãs específicos: os que curtem o famigerado power metal (representado por Gamma Ray, Angra — ok, eles vão além desse rótulo — e Hammerfall) e os que preferem o chamado metal sinfônico (com pitadas de gothic rock), aqui representados por Lacuna Coil, Epica e Within Temptation.

Nervosa / Foto de Fernando Yokota

Em frente ao Ice Stage, um público em quantidade significativa se posicionou pra conferir a primeira atração do dia, a Nervosa. O sol no sábado castigou mais do que na sexta, e já estava pegando firme às 11h da manhã, quando as meninas subiram ao palco. O show foi muito bom, apesar de algumas falhas técnicas. A primeira aparentemente era no retorno no palco, a segunda, já na nona música (foram 13), foi com a guitarra de Prika Amaral, que estourou uma corda. Não havia guitarra reserva para que ela continuasse o show (?!). Com isso, as quatro últimas músicas foram executadas com apenas uma guitarra, e Helena Kotina segurou até o fim. Minutos depois, no Hot Stage, foi hora de mais thrash metal com o pessoal do Forbidden. Mais um grupo que fez sua estreia por aqui. Debaixo de sol forte (12h05), eles fizeram bonito e não decepcionaram, com um setlist calcado nos dois primeiros discos de estúdio (“Forbidden Evil” e “Twisted Into Form”).

Gamma Ray / Foto de Fernando Yokota

Às 13h10, foi a vez do power metal dar as caras no Summer Breeze, e ele veio com seu “pai”, Kai Hansen e sua banda, Gamma Ray. O setlist foi matador, com os maiores clássicos da banda, que conta agora (na verdade, desde 2015) com o vocalista Frank Beck, que divide a função com Hansen. Um show do Gamma Ray que começa com “Land of the Free” tem como dar errado? Rolou “Last Before the Storm”, “Rebellion in Dreamland”, “Master of Confusion”, “Heaven Can Wait”, “Somewhere Out in Space” e um final apoteótico com “Send Me a Sign”. O que atrapalhou bastante a apresentação do quinteto (e outras bandas durante o fest) foi o sol, que claramente deixou parte do público mais contida; o mesmo aconteceu no próximo show, mas com um público ainda maior.

Angra / Foto de Diego Padilha – Equipe MHERMES ARTS

A galera se posicionou em peso pra conferir o Angra no Hot Stage. A banda já abriu com “Nothing to Say”, emendou “Angels Cry” e aí já estava com a plateia nas mãos. A belíssima “Tide of Changes”, do novo disco, “Cycles of Pain” (2023), é daquelas que tem tudo pra permanecer no setlist da banda ao longo dos anos, pois tem um refrão foda, muita técnica e uma referência à clássica “Carolina IV”. Foi corajoso por parte da banda encaixar em um set de 12 músicas, quatro do novo trabalho, ainda mais por ser um festival. Mas todas foram bem recebidas (apesar do calor que deu uma desgastada no público). O final foi com a dobradinha “Carry On” e “Nova Era”… Nem precisa falar nada, né?

Lacuna Coil / Foto de Fernando Yokota

Quase sem pausa entre um show e outro, o Lacuna Coil subiu ao Ice Stage e entregou um baita show foda, cheio de carisma, com uma música atrás da outra (foram 16), com direito ao cover de “Enjoy the Silence”, do Depeche Mode e os maiores clássicos da banda. O que dava certo desespero de ver era a banda trajando roupas claramente quentes e com maquiagem carregada debaixo de um sol escaldante de frente pro palco. Mas o calor não atrapalhou. Tanto Cristina Scabbia quanto Andrea Ferro têm uma presença de palco muito forte e seus vocais intercalados garantem peso e melodia na medida certa. Scabbia aproveitou um momento para agradecer aos fãs, principalmente pela oportunidade de retomar os shows após a pandemia que vivemos há pouco tempo. Aqui também rolou música tocada pela primeira vez ao vivo, “In The Mean Time”, recém lançada pelos italianos. Showzaço!

Hammerfall / Foto de Fernando Yokota

O Hammerfall executou seu set no Hot Stage entre o final da tarde e o início da noite (privilegiados pela ausência do sol — pelo menos na segunda metade do show). A banda havia se apresentado ali pertinho, no Espaço Unimed, em 2022, ao lado do Helloween. No geral, o setlist foi bem parecido. A diferença mais significativa ficou por conta do single “Hail to the King”, lançado dias antes do início do Summer Breeze. Ver um show do Hammerfall, pra quem curte o estilo, é sempre divertido. A banda é muito boa, o vocalista Joacim Cans manda muito bem ao vivo e as músicas têm aqueles refrãos que fazem a galera cantar junto. Ao lado do Angra, a apresentação foi, até ali, a que concentrou o maior número de pessoas em frente ao palco (o número seria ainda maior nos dois últimos shows).

Epica / Foto de Fernando Yokota

Neste momento, a ideia era atravessar a passarela pra conferir o show do Dark Tranquillity, mas, vencido pelo cansaço (e também por certa vontade de ver o Epica) fiquei onde estava. Pelos comentários, a apresentação do Dark Tranquillity foi excelente, mas o Epica também não fez feio. Esse show trouxe boas doses de efeitos visuais, fogos, fumaça, chuva de papel e até uma participação da Cristina Scabbia. De qualquer forma, a essa altura, todos estavam ansiosos pelo headliner da noite, o Within Temptation, que lançou, em 2023, “Bleed Out”, um dos melhores discos do ano.

Within Temptation / Foto de Fernando Yokota
Within Temptation / Foto de Fernando Yokota

É impressionante como, nos últimos anos, a popularidade do Within Temptation tem crescido pelo mundo (a título de curiosidade, a banda soma mais de 2 milhões de ouvintes por mês no Spotify. Dentre as atrações do Summer Breeze, esse número só é menor que o do Killswitch Engage e o do Mr. Big). Ao ouvir as músicas e conferir todo o show, fica fácil entender a escolha da banda como headliner de um festival desse porte. Foi o melhor som de palco de todo o evento. Tudo estava muito bem equilibrado, com peso, definição. Incrível! A vocalista Sharon den Adel canta muito ao vivo, tem presença, carisma e interage com o público. Em determinado momento, Sharon solicitou que os seguranças prestassem atendimento a uma fã que estava passando mal no meio da plateia. Aliás, não foi raro ver pessoas passando mal durante os três dias de Summer Breeze (provavelmente uma junção do calor com a falta de hidratação, principalmente para as pessoas que ficaram muito tempo em frente aos palcos para garantir um bom lugar).

Within Temptation / Foto de Fernando Yokota

Um momento interessante ocorreu durante a música “Raise Your Banner”, que Sharon dedicou à Ucrânia, inclusive erguendo uma bandeira do país nos primeiros minutos da música. O Within Temptation tem apoiado a Ucrânia, com envolvimento em iniciativas como a fundação Music Saves UA. É claro que, pra variar, a galera do “ah, nada a ver misturar metal com política” se manifestou nas redes. Músicas como “Faster”, “Bleed Out”, “Wireless”, “Supernova”, “In the Middle of the Night” “Mad World” e a clássica “Mother Earth” se destacaram nesse que, até aqui, está entre os melhores shows do ano. Uma banda multifacetada, com composições marcantes e que, com certeza, vai crescer ainda mais; merecidamente. E, assim, encerramos o sábado em grande estilo.

Eclipse / Foto de Fernando Yokota

Dia 3 – Domingo – 28 de abril

A maratona do domingo começou no Ice Stage com o ótimo show da banda de hard rock sueca Eclipse. Liderado pelo vocalista/guitarrista Erik Mårtensson (que além de tudo é um compositor de mão cheia), o quarteto animou a manhã de quem compareceu no Memorial com um som, em sua maioria, alto astral, pra frente.

While She Sleeps / Foto de Fernando Yokota

Na sequência, no Hot, um show que surpreendeu muita gente, principalmente a galera mais fechada para as bandas novas: While She Sleeps. Se tem uma banda que verdadeiramente se entregou, dentro e fora do palco, literalmente, foi essa. O grupo britânico de metalcore elevou o nível do festival em termos de energia, o que acabou contagiando o público, a ponto de fazer integrantes da banda descerem do palco pra curtir no meio da galera. Representantes de uma nova safra da música pesada, o While She Sleeps fez um dos grandes shows do Summer Breeze Brasil 2024. Os caras tinham vindo pra cá em 2022, mas se apresentaram pra um público menor. Agora, num festival do porte do Summer Breeze, com a possibilidade de mostrar seu som pra uma galera pouco habituada, a popularidade do grupo se expande. O que é sensacional pra oxigenação da música pesada no Brasil.

Overkill / Foto de Fernando Yokota

Emendado ali do lado, poucos minutos depois o Overkill surgiu no Ice Stage com seu thrash metal e com a presença do baixista David Ellefson (ex-Megadeth, que havia se apresentando semanas antes na cidade). Confissão: não empolgou (talvez tenha sido culpa da avalanche sonora causada pelo While She Sleeps). Sem falar que a voz do Bobby Ellsworth não estava lá essas coisas (será que um dia foi?). Como o Ratos de Porão iria se apresentar um pouco depois do outro lado da pista, no Sun Stage, melhor ir atrás dos caras. Deu tempo de pegar um pouquinho da apresentação do Battle Beast, e as três últimas músicas, “Master of Illusion”, “King for a Day” e “Beyond the Burning Skies” surpreenderam bastante, com destaque pra vocalista Noora Louhimo.

Foto de Fernando Yokota

O que veio em seguida foi um show avassalador do Ratos de Porão, com músicas clássicas que soam extremamente atuais. A banda abriu com “Alerta Antifascista”, do indispensável “Necropolítica” (2022), seguiu com “Aglomeração”, “Amazônia Nunca Mais”, “Farsa Nacionalista” e por aí vai. Só pedrada. Em determinado momento do show, quando o público começou a puxar um coro de “Ei Bolsonaro, vai tomar no cu”, Gordo respondeu: “Tomar no cu não é castigo pro Bolsonaro. Muita gente gosta de tomar no cu. Eu quero que ele seja preso”.

John Wayne / Foto de Rafael Andrade – Equipe MHERMES ARTS

Após o show, deu tempo de prestigiar o finalzinho do som do John Wayne no Waves Stage. A banda brasileira faz um metalcore de respeito. Aliás, aqui cabem dois comentários: primeiro, legal o Summer Breeze dar espaço para as bandas do underground, que ficaram concentradas no Waves; mas aí vem o segundo ponto, infelizmente, elas acabaram sendo prejudicadas pelos horários que sempre batiam com alguma atração em um dos outros palcos. Mas não dá pra culpar o público e nem a organização, é apenas uma constatação de algo que acontece em festivais com essa configuração.

Death Angel / Foto de Fernando Yokota

Após uma passada rápida nos estandes que estavam no interior do Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro, com produtos variados, como camisetas, meias, bonés e outros acessórios, todos os caminhos levavam ao Sun Stage pra conferir mais um dos grandes shows do Summer Breeze 2024: Death Angel. De longe o melhor show de thrash metal dos três dias de evento. Banda afiadíssima, com Mark Osegueda cantando que é uma barbaridade e uma dupla de guitarristas, Rob Cavestany e Ted Aguilar, com um entrosamento de dar inveja. Foram dez petardos executados de forma primorosa, com participação intensa do público. O Sun ficou pequeno pros caras.

Amorphis / Foto de Alessandra Tolc – Equipe MHERMES ARTS

Tirei um tempo pra dar mais uma volta pelas instalações do Summer, comer alguma coisa — beber uma cerveja, porque ninguém é de ferro — e voltei pra frente do Sun Stage pra conferir a última banda a se apresentar naquele palco, o Amorphis. Bom, somando esse, o anterior e o que estava por vir, foi uma trinca de shows sensacionais, uma sequência inesquecível. Isso porque o Amorphis foi impecável e responsável pela melhor qualidade de som do Sun. Tudo estava ali: teclados, guitarras, baixo, bateria e a voz do Tomi Joutsen. Que extensão vocal absurda tem esse cara. Ele consegue ir do gutural a um vocal limpo belíssimo com uma naturalidade impressionante. E mesmo com o Anthrax (uma instituição da música pesada) se apresentando lá no Ice Stage, o número de pessoas prestigiando o Amorphis foi digno de nota. Não dá para cravar, claro, mas  ninguém deve ter se arrependido de ficar ali.

Mercyful Fate / Foto de Fernando Yokota

A última (e talvez mais aguardada) atração do Summer Breeze Brasil 2024 foi a responsável pelo maior atraso do festival, 10 minutos; parabéns à organização). Mas valeu a pena “esperar”, porque quando a enorme cortina com o logo do Mercyful Fate caiu em frente ao palco, o que vimos foi um verdadeiro espetáculo protagonizado por King Diamond e sua trupe. A banda transformou o Hot Stage numa espécie de templo satânico, com direito a cruz invertida, bode, pentagrama, 666… do jeito que o tinhoso gostaria (se ele existisse).

Mercyful Fate / Foto de Fernando Yokota

Todo o cenário e a caracterização de King Diamond conversam muito com a sonoridade da banda, que atualmente conta com o guitarrista fundador, Hank Shermann, o baterista Bjarne T. Holm, o guitarrista Mike Wead e a baixista inglesa Becky Baldwin. O setlist foi composto basicamente por músicas dos três primeiros lançamentos do Mercyful Fate: o EP homônimo de 1982, “Melissa” (1983) e “Don’t Break the Oath” (1984) mais a adição da nova “The Jackal of Salzburg”. Foi curto? Foi! Uma hora e vinte minutos de show pra uma banda que não aparecia por aqui desde 1999, que tem a responsabilidade de fechar um grande festival, é pouco. Mas foi suficiente e, no final, ninguém reclamou.

Um encerramento digno pra um festival que, em sua segunda edição, se consolida como o maior da música pesada no Brasil. Falta muito pros dias 3 e 4 de maio de 2025?

Mercyful Fate / Foto de Fernando Yokota

– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

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