entrevista por Pedro Salgado, especial de Lisboa
Um dos desafios que é colocado ao músico popular contemporâneo consiste em estar à altura ou até mesmo superar a barreira de um disco anterior aclamado e inspirado. De alguma forma, era essa a questão que se colocava sobre o álbum,“Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” (2023), lançado a 20 de outubro, que sucede ao celebrado “Little Electric Chicken Heart” (2019) e dominará a conversa que mantenho com Ana Frango Elétrico numa sala do piso superior do espaço cultural Bota (Base Organizada da Toca das Artes), situado na freguesia lisboeta dos Anjos. “A minha imposição passava por fazer um disco para mim própria. Quando isso acontece estamos sendo verdadeiros e originais e por ser para todos é para todo o mundo”, começa por me dizer, estabelecendo igualmente uma ponte com o trabalho anterior: “Eu queria dialogar com ‘Little Electric Chicken Heart’ e as baladas da minha discografia, que neste álbum têm a função de fazer uma conversa. Por mais que os discos sejam diferentes ou doidos, a própria comunicação entre eles é de ser antagonista e protagonista, rival e opositor. O que me move dentro de mim são as minhas oposições e a reinvenção. Por isso, oponho-me tanto que tudo faz mais sentido”.
As pesquisas sonoras e as referências de vida que Ana transportou consigo fazem com que “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” seja um trabalho vibrante, renovando heranças musicais setentistas e oitentistas com uma pegada dançante de puro frescor e apresentando igualmente uma faceta baladeira de fino recorte emotivo e poético. O irresistível single “Electric Fish” representa o pináculo do groove e da fruição do álbum e desenvolve um paralelismo com a disco assertiva “Dr. Sabe Tudo”, colando a exploração rítmica desenvolvida e assumindo a função de retorno no contexto do trabalho. Em faixas como “Nuvem Vermelha” (marcada principalmente pela influência da harpista e compositora norte-americana Dorothy Ashby), “Insista Em Mim” ou na magnífica “Camelo Azul”, o disco entra num território amoroso, cinematográfico e igualmente sedutor, enquanto a envolvente “Coisa Maluca” parece situar-se a meio caminho dos diferentes estados de alma exibidos.
Com o desenrolar da entrevista, Ana Frango Elétrico revela a sua verdadeira essência: uma personalidade cativante, espirituosa e atenta que assume igualmente a importância do seu papel como produtora. “Descobri recentemente que me considero uma pessoa construtivista suprematista russa, no sentido em que o sentimento é a força motriz. Eu também analiso uma boa produção como tendo diferentes tonalidades, timbres, começos e finais. Por isso, nunca faria um disco inteiro sozinha ou um trabalho só de baladas. O álbum para mim é como um filme e tem a sua dinâmica e esse aspecto é muito importante”, conta. Relativamente ao título “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”, faz uma confissão: “O você é um pronome neutro e significa todo o mundo ao mesmo tempo e acedemos à cabeça do outro de uma forma profunda. Eu quis trazer isso para o disco assim como na preposição que é tão pessoal para mim como para quem está a ler o título” e prossegue: “Acho que o nome é flertivo e é quase uma consequência do respeito ao pronome e de que emocionalmente sou sua”. A partir daí, “o álbum foi-se descobrindo através do título” e exibindo diversas facetas como o romantismo, a sexualidade ou a nostalgia.
Outro aspeto importante do trabalho e que o valorizou bastante foi a presença de diversos convidados. Desde os arranjos de cordas de Dora Morelenbaum e de metais, por Marlon Sette, sem esquecer a incrível secção rítmica composta pelo baixista Alberto Continentino e pelo baterista Sérgio Machado. “As colaborações neste álbum tiveram a ver com o que eu imaginava para ele e com os músicos que se relacionavam com determinadas faixas e também havia uma aposta de ter por perto pessoas que eram importantes na minha vida. Eu contei com o Sérgio Machado, o Alberto Continentino e o Guilherme Lirio como base para utilizar nas várias faixas e conduzi o processo dando liberdade aos músicos, mas direcionando cada canção. Nós gravámos as bases sem ensaios e as coisas decorreram de forma direta no estúdio durante seis dias”, explica.
Sobre o seu modo de trabalho, que em “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” atingiu um novo ponto de superação, Ana Frango Elétrico relativiza a observação que lhe é feita de ser uma perfeccionista. “Eu não sou assim com um ‘take’. Se ele tiver um pequeno erro, mas é mágico e está-me mostrando amor, raiva, paz ou qualquer coisa que eu gostaria que passasse, isso é o mais importante. No entanto sou obsessiva com o disco. Eu faço-o desde o início da minha carreira e no álbum ‘Mormaço Queima’ (2018), que é um disco estranho e anti-indústria, eu pretendia ser respeitada por fazer aquilo que sou. Neste momento, reverencio parte da indústria fonográfica e quando digo isso estou a referir-me à engenharia de som, à gravação, música, compositores e aos cantores e quero esforçar-me para fazer o meu melhor”, conclui.
De Lisboa para o Brasil, Ana Frango Elétrico conversou com o Scream & Yell. Confira:
Quando começou a compor o seu novo disco, “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”, em 2021, você tinha a intenção de expressar noções e sentimentos sobre um amor não-binário, mas a sua visão como produtora e a vontade de renovar influências musicais brasileiras dos anos 70 e 80 também se impôs. O que procurou alcançar objetivamente com este trabalho?
Em primeiro lugar, este disco é mais sobre interrogações, dúvidas, micro mutações e neologias pessoais do que qualquer coisa que seja exclamativa ou tenha um ponto de chegada específico – apesar de eu já ter uma ideia muito forte sobre o que queria desde o começo. O resultado do álbum está bastante ligado ao que eu pretendia. Sinto que é o primeiro disco que fiz como desejava. De alguma forma, é um trabalho em que procurei ser bastante verdadeira comigo, com as minhas referências de vida e com as minhas pesquisas. Há sempre uma aproximação aos outros álbuns nem que seja por antagonismo. O meu primeiro disco, “Mormaço Queima” (2018), é um anti-álbum, anti-processo e anti-cantora e no meu segundo trabalho, “Little Electric Chicken Heart” (2019), sou eu a querer ser produtora e digo: “Se vocês querem que fique nesta indústria está bem, então eu vou fazer um álbum, mas é uma experimentação”. Por isso, sinto que o “Little Electric Chicken Heart” está ligado a uma pesquisa que foi feita em cima de Nora Ney, Johnny Alf, Dorothy Ashby ou Anita Oday, entre outros, e que está um pouco situado nos anos 50. Apesar de ser em torno das minhas composições, tem a ver com um som e uma investigação. Se você escutar o novo trabalho, apercebe-se da sua sonoridade incomum, mas é de uma maneira menos cabeça dura do que o álbum anterior, porque o tom desse disco determinou muitas coisas. Em “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” (2023), as imposições resultaram do que eu queria fazer e experimentar. É um trabalho onde aproveitei o espaço de produtora de mim mesma. Quando eu produzo outras pessoas não tenho tanta liberdade, embora coloque uma visão pessoal e também dê as minhas opiniões enfaticamente, mas estou a serviço de um artista e quero que ele fique feliz. Por isso, procuramos chegar a um ponto comum e ele confia igualmente na perspetiva que apresento, já que me chamou por essa razão. No “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” tive uma liberdade estética muito grande na parte musical e visual e o maior objetivo era fazer experiências. A contribuição desse disco relaciona-se com a sonoridade e a questão ‘queer’ e quando a menciono refiro-me à divergência. Sinto que no Brasil não entendem assim e no ‘press release’ mudei a expressão para não-binário, que é como me identifico, para as pessoas entenderem melhor. Nos Estados Unidos da América, deduzem esse conceito não só pela sigla ‘Q’, mas como ‘queerness’, o estranho e o divergente. Acho que o álbum engloba esse tópico e a estética que lhe está associada. Quando dizemos isso não falamos em estética gay ou sapatão. É óbvio que possuem as suas, mas noto que no disco eu falo em ‘queerness’ esteticamente. O objetivo deste álbum está relacionado com a sua contribuição e com a pesquisa sonora e de timbre, bem como o fato de eu como artista ‘queer’ ter autonomia para me expressar e assumir o comando da minha identidade no momento atual da indústria musical, algo que foi vetado até meados dos anos 90. Por isso, a potência do meu trabalho é sentir que posso afirmar-me, ter o controle estético da minha obra e sobre quem eu sou neste momento social da indústria. Isso reflete-se na direção musical e na produção artística.
Com o pop “Electric Fish” você arranca o disco num tom festivo e escutamos um crossover que recorda Jamiroquai, Rita Lee e Earth Wind and Fire. Escolheu-o como primeiro single pelo seu imediatismo ou para simbolizar o seu momento artístico atual?
Acho que se trata de uma escolha conjunta da equipe que tem o selo Risco (Brasil), a Mr. Bongo (Inglaterra) e o Think! Records (Japão). Sinto que foi um desejo principalmente da Mr. Bongo por querer abordar o inglês como língua e de ser acessível para o lançamento que pensávamos a nível mundial. Acredito que a música cumpriu essa função que é o mais importante. Apesar de eu ser uma pessoa que odiava o fato da primeira canção do disco ser o single. Mas, engoli a língua. Também quis deixar de lado os meus “achismos exacerbados” ligados ao meu primeiro disco antagonista, “Mormaço Queima”, contra a indústria e contra tudo. Achei que era bom para mim e para todos e decidi avançar. Acho que o fonograma comunica-se também com a faixa “Mulher, Homem, Bicho” de alguma forma. Ele dialoga com essa música e com uma presença que virá e depois segue-se “Insista Em Mim” que a complementa de certa maneira. É difícil escolher um single para o meu novo disco, porque ele não tem uma unidade de produção e é muito diversificado. Acredito que cada música daria um single. Eu tenho sempre uma preocupação estética no álbum. Neste trabalho, eu tinha canções e o meu processo é em torno da canção, porque eu gosto bastante dessa forma nem que ela seja doida. De certa forma, quis esticar as possibilidades das músicas. As faixas dançantes que são com bateria orgânica têm uma importância fundamental no álbum que passavam por eu tentar descobrir os limites da música orgânica. Por isso, “Electric Fish” é decisiva nesse sentido. Mais importante do que ser o single, ela tinha uma grande importância como primeira canção na minha discografia. Até então os meus começos de disco eram dinâmicos e neste trabalho eu quis começar num registo ‘in your face’ e depois descer e subir variando as conduções. Antes de saber qual era a faixa escolhida, eu queria abrir com essa música. Mesmo sendo cantada em inglês e gerando algumas dúvidas iniciais.
Em “Camelo Azul” você revela maior ousadia quando canta: “Seu cheiro me lembra meu lado feminino, mas hoje sou menino /Seu cabelo é brega sua jaqueta amarela / Me deixe transar com você”. Qual é o seu comentário sobre a canção?
Eu canto essa canção há muitos anos, guardei-a durante bastante tempo e só a gravei recentemente. A música foi composta pelo Victor Conduru, que é um grande amigo meu do colégio. Ele é filósofo, compõe pouco, nem violão tem e segue uma linha meio Baden Powell. Senti que era a hora de gravá-la, porque ela é muito bonita e eu identifico-a quase como minha. Quando canto, tenho vontade de cantar algo que soe como meu. Eu procuro encontrar-me na música no momento em que a interpreto e é isso que acontece nessa canção. Agrada-me a parte poética e as minhas coisas têm essa coisa ordinária que estão ligadas ao registo de tempo e fotografia. Se eu vou falar do metrô eu falo do cinema e essa faixa fala de cigarro e cerveja. Sinto que me revejo na frase que você citou e nesse lugar cinematográfico em termos de imagem. Também havia a vontade de fazer algo com classe e um arranjo de madeiras. Neste disco, em vez de ter um arranjador, eu tive a flexibilidade que talvez seja fundamental para que as mudanças nas músicas sejam de alguma forma verdadeiras e orgânicas no sentido homogênio e lixado do termo (risos). Por isso, chamei pessoas mais relacionadas com aquele arranjo como o Vovô Bebê e a Aline Gonçalves que trabalham com madeira e a Aline toca muito bem clarinete e flauta. De certa forma, veio dessa vontade e da identificação completa que tinha tudo a ver com o álbum. Porque essa frase talvez seja a única no disco que fala exatamente “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua”.
Com o single “Mulher, Homem, Bicho”, lançado durante a pandemia, você venceu o WME Awards 2021 como Melhor produtora musical. O que representou para si este prémio e em que medida o trabalho que desenvolveu na canção influenciou a sua visão musical presente?
É um ponto importante, porque acho que a faixa “Mulher, Homem, Bicho” é quase parte do álbum. Só não o é porque foi gravada à distância e lançada um ano antes de eu pensar em gravar o novo disco. No entanto, sinto que ela já é um pensamento sobre o álbum em todos os sentidos. Mais na produção do que no timbre e som, porque haviam limitações devido à pandemia. Principalmente, é uma pesquisa sobre a produção, ritmos, ideias e formas. Ela é quase um trailer do disco e está muito relacionada com o lado poético. A canção é fundamental e está ligada ao fato de ver-me como eu a partir dos outros, porque a letra é da Ava Rocha, que me decifrou maravilhosamente. Eu propus-lhe uma letra que fosse uma Rita Lee sapatão, a Ava deu-me retorno e eu adaptei-a para uma música pensando nisso e na produção. No caso dela, foi uma faixa que eu fiz cinco dias antes de entrar no estúdio e compus pensando no que eu imaginava sobre a parte da estrutura, dos ritmos e das ideias. Hoje em dia eu componho de uma forma direcionada relativamente ao que estou imaginando sobre o fonograma.
Você inicou um tour europeu que arranca em Portugal (com shows em Coimbra no Salão Brazil e Lisboa na Musicbox – saiba como foi o show). Que receptividade espera da parte do público português e qual é o seu conhecimento sobre a cena musical portuguesa?
Confesso que a minha expectativa é voltar, porque, de alguma forma, o show vai ser mais doido do que o disco. A banda é reduzida e não vou trazer o meu tecladista. Será um power trio comigo nos teclados e às vezes no sintetizador. Por isso, há que confiar em mim e nas canções. Ao contrário do álbum vai ser uma atuação para mostrar mais as músicas do que o fonograma. Eu gostaria de voltar e fazer um espetáculo fonográfico. Para isso, eu precisaria de estrutura, mas não tive tempo nem suporte para preparar tudo como se fosse um concerto. Sinto que vai ser um show mais livre. É algo que é muito legal também e recorda-me as atuações que fiz há anos atrás. Não sinto medo, porque tenho muita prática de experimentação, ela é aberta e inclusivamente a minha banda morre de rir. Eles sabem que depois do ensaio, na hora do show, eu posso mudar a forma, decidir fazer mais refrão, não tocar música ou acabar e voltar. O David Byrne fala que você tem de se adaptar sempre ao lugar e ao público durante o espetáculo. Vai ser uma atuação em aberto, mais solta do que no disco, o que não é necessariamente um problema, e espero que gostem (risos). Sobre a cena musical portuguesa não conheço muita coisa. Lembro-me apenas do Bruno Pernadas, que gosto bastante. Eu conheci a música dele através do Spotify e na verdade demorei a descobrir que ele era português, porque chamava-se Bruno e cantava em inglês. Mas, esse desconhecimento não é restrito a Portugal porque eu não conheço a música europeia. Acho que isso sucede porque consumo muita música brasileira, soul, pop e jazz americanos e também gosto bastante de algumas coisas japonesas e alguns artistas africanos. No entanto, aceito dicas.
Você faz parte de uma nova geração de músicos brasileiros como Tim Bernardes, Zé Ibarra e Rubel, que estão a obter um reconhecimento artístico considerável. Como antevê o vosso papel no cenário musical futuro do Brasil?
É uma questão truculenta (risos). Acho que é um pouco delicado colocar-nos como o futuro de alguma coisa quando há tanta gente a fazer coisas interessantes e não tem visibilidade ou espaço. Você falou de três caras que são parceiros, queridos amigos e eu admiro-os bastante. Talvez o nosso papel fosse de continuar a abrir um espaço para outros artistas que não estão em voga. Numa entrevista que dei antes, estava dizendo que esteticamente divirjo de algumas pessoas, inclusivamente de projetos onde eu trabalho. Acho que continuam bebendo e mostrando uns brasis específicos e talvez um pouco estereotipados. Quando nós vimos para a Europa apresentando e colocando isso como o futuro acho que não é verdade. Para mim, o novo negócio é o rap. Há um pessoal no Rio de Janeiro atualmente a fazer um grime incrível, mas não sai no jornal nem passa na rádio. Eles não têm visibilidade nenhuma. Eu questiono-me sobre os lugares onde acedemos e também temos a responsabilidade em não deixar que achem que só existimos nós. A função devia ser essa porque há muita diversidade. Eu espero que venha muita mais gente e que seja interessante. Falo de pessoas com novas identidades em que a originalidade e a individualidade sejam coisas importantes e não reproduzam o que já conhecemos. A contribuição dos outros não sei qual será, mas a minha é de abrir caminho e mostrar outras possibilidades nem que sejam loucas. Sinto que devemos reverenciar os nossos mestres, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, mas nem eles estão a fazer tropicalismo hoje em dia. Temos de nos lembrar disso e tomar um pouco de cuidado quando fazemos revisitações, principalmente a nível estético. Há um disco do Dadá Joãozinho que saiu agora, “Tds Bem Global” (2023), com que eu me identifico, bem como o trabalho do Bruno Berle. Eles fazem mais coisas eletrônicas do que eu, mas não tem a ver com isso e sim com o conceito, estética e política. Sinto que a minha carreira é doida e o pessoal faz uma piada comigo de que eu sou o mainstream do underground, porque a galera do underground diz que já passou por essa fase e fez shows para duas, 60 ou 200 pessoas. Eles acham que eu sou mainstream, mas eu não sou nem tenho público mainstream. Sinto-me um pouco num não lugar. Mas, também gosto de tomar decisões estéticas e políticas que façam sentido. Por isso, você não me vai ver reproduzir esteticamente o tropicalismo, porque eu acho que é um mau serviço vir tocar aqui assim e dizer que isso é a música brasileira. Sei que é bom para vocês meter-nos numa caixa e apresentar-nos como a nova música brasileira, mas é perigoso. No documentário do Tom e da Elis citam Johnny Alf, mas ele morreu pobre, enquanto Tom Jobim estava bebendo whisky em Las Vegas ou Los Angeles. Temos que aprender alguma coisa com isso e a Alaíde Costa com a idade que está só foi ovacionada agora, porque houve um produtor que recordou que ela é parte da bossa nova. Entendo a sua pergunta, mas será correto continuar pondo caixas, que fecham e só cabem alguns? Devemos lembrar que o jornalismo, curadoria, coletânea, e o poder de aquisição e do meio de comunicação estão a escrever história e preocupa-me quando me colocam num determinado patamar como se fosse só isso. Nunca é só isso. Nunca foi só aquilo também. Há pessoas que são esquecidas e há gente que ganha dinheiro e outra que morre de fome a fazer a mesma coisa. É muito delicado e temos de nos consciencializar quando falamos de história.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell desde 2010 contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui.