edição da introdução por Marcelo Costa
faixa a faixa com citações de Ed Motta
Após uma pausa discográfica de cinco anos (em que, no entanto, ele esteve pontualmente ativo nas redes sociais, Eduardo Motta está de volta com o seu 14º álbum de estúdio, “Behind The Tea Chronicles” – o anterior, “Criterion of The Senses, Lost Connection to Prague” saiu em 2018 pelo selo MustHave/Membran. Abrigado desta vez na major Virgin Music, Ed Motta oferece mais um disco para ser saboreado nos detalhes, com inspirações cinematográficas (George Cukor, nouvelle vague, noir, Carl Dreyer), televisivas (a série britânica “Quatermass Experiment”) e até de quadrinhos (“Little Nemo in Slumberland”).
“’Colombo’, ‘Barnaby Jones’ e ‘Streets of San Francisco’ (no Brasil, ‘São Francisco Urgente’) são as minhas séries favoritas. Mas também gosto da inglesa ‘Quatermass’, a primeira série de ficção científica do mundo e produzida pela BBC, que foi uma inspiração direta para uma faixa do álbum”, diz Ed Motta. “Também me inspirei em filmes antigos: especialmente o filme ‘Gaslight’, de George Cukor, e filmes de Jacques Tati, Jean-Pierre Melville e Basil Dearden, que são alguns dos meus diretores favoritos e me deram muitas ideias”.
No som, electric-jazz-samba, funk e soul, entre outras influências, permeiam as 11 faixas e os quase 45 minutos de duração de um álbum que Ruy Castro definiu, poeticamente, assim: “‘Behind The Tea Chronicles’ é a trilha sonora de um quadro de Edward Hopper, povoado por personagens de Nathanael West, com diálogos de Dashiell Hammett, dirigido por Michael Curtiz, e composta por… Hoagy Carmichael? Não. Por Ed Motta”. Informação e referência pra caramba, certo? Sim, talvez até demais. Então nada melhor que mergulhar no faixa a faixa abaixo, que conta com diversas citações de Ed, e se concentrar na… música.
01. Newsroom Costumers: É um tema que tem uma atmosfera orquestral forte, com influência do soul e da música brasileira nas percussões. Fala de um jornalista que queria ser escritor e se tornou amigo da máfia para crescer no Gran Mondo.
02. Slumberland: É um tema longo, com várias partes, vários eventos e uma orquestração complexa. É muito inspirado no original “Little Nemo in Slumberland”, a HQ lançada em 1905 criada por Winsor McCay, que foi o inventor da animação e influenciou Salvador Dalí, ou seja, influenciou o surrealismo. É uma ode ao surrealismo que influenciou essa estética.
03. Safely Far: É um tema soul-funk: um casal muito nouvelle-vague do cinema francês dos anos 60; Amor sem amor.
04. Gaslighting Nancy: Claro, é por causa do lendário filme de George Cukor, “Gaslight” (no Brasil, “À Meia-Luz”, 1944). É sobre uma cantora que é manipulada pelas pessoas poderosas de uma pequena cidade, que lhe prometem uma carreira que nunca acontece.
05. Of Good Strain: Uma valsa ao estilo Broadway sobre uma cientista médica que é boicotada pela família de um médico muito rico cuja família é dona de vários hospitais. Ele é um médico que mata pessoas, enquanto ela pratica a verdadeira medicina: aquela que cura.
06. Quartermass Has Told Us: É um tema bem funk, o mais funk do álbum. Trata-se de uma sabotagem no espaço sideral e o nome remete à primeira série de ficção científica produzida pela BBC, “Quatermass Experiment” (1953).
07. Buddy Longway: É uma típica street song, com muita fumaça e poeira vermelha no rosto. Buddy Longway é um personagem de quadrinhos franco-belga. Esse tema aparece brevemente no DVD do meu álbum “Poptical”.
08. Shot In The Park: Um shuffle blues. É uma carta de amor a Donald Fagen e Steely Dan. A letra fala sobre o envolvimento entre um mafioso e um homem – ninguém sabe ao certo que tipo de relacionamento eles têm, se são apenas negócios ou outra coisa.
09. Deluxe Refuge: Electric-jazz-samba. É sobre um grupo de investidores e seus negócios obscuros.
10. Tolerance On High Street: Esse tema também fala da máfia. É sobre empresários mafiosos que tentam trabalhar com um artista, mas ela tem problemas com seu namorado delinquente que atrapalha toda a sua carreira. Um tema de filme Noir.
11. Confrere’s Exile: Etéreo. Influenciado pela música impressionista francesa, Stephen Sondheim, musicais. A letra também acompanha esse imaginário etéreo – quase um filme de Carl Dreyer.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.