texto por Homero Pivotto Jr.
fotos de Billy Valdez
“Está entre os melhores shows da turnê até agora. Talvez não tenha sido tão bom quanto o de Córdoba”, sentencia o ramonesmaníaco Marcus Padula sobre o show de Marky Ramone em Porto Alegre, dia 10 de outubro (terça-feira), no Opinião. Marcus, só nesta gira pela América do Sul, presenciou nove performances do baterista. Ou seja: todas da tour “Marky Ramone’s Blitzkrieg South America 2023” até a chegada na capital gaúcha, antecedida por apresentações no Chile, Argentina e Uruguai, em um sequência que teve início dia 29 de setembro.
Conhecido pela velocidade, Marky entregou um desempenho focado na manutenção de um ritmo constante, e não tanto na aceleração. Algo mais próximo do andamento nos álbuns de estúdio do que nas clássicas gravações ao vivo dos Ramones. Ou, talvez, um pique mais pra “Loco Live” (1991, registro ao vivo que marcou a entrada de CJ no baixo, hoje suposto desafeto de Marky, em ritmo acelerado) do que pra “It’s Alive” (1979, primeiro ao vivo dos fast four, em ritmo ainda mais acelerado). O repertório no único show pelo Rio Grande do Sul nesta passagem pelo estado foi focado nos quatro primeiros álbuns, lançados entre 1976 e 1979 — “Ramones” (1976), “Leave Home” (1977), “Rocket to Russia” (1977) e “Road to Ruin” (1978).
Detalhe interessante é que o evento era gratuito para menores de 14 anos que estivessem acompanhados de um comprador de ingresso. Ainda assim, poucas crianças e jovens estavam entre os 1,2 mil (estimativa da assessoria) presentes. O público era majoritariamente de pessoas de meia idade para adiante. Levei meu filho, Benjamin (7 anos), para prestigiar. Porém, já cansado de uma rotina estafante de criança com saúde, jogou a toalha pouco antes dos 30min de show. Com isso, vazou por volta da 12ª faixa de um total de 39 tocadas em 1h20. O horário tardio e o atraso, mesmo que apenas técnico, de 15 minutos, também não colaboraram para a permanência do rapaz no baile, resgatado pelo mãe que estava pelas imediações para o pai poder seguir curtindo um rock.
A atração local que fez as honras da casa foi a Punkzilla, nome escolhido por votação popular. Não foi possível chegar a tempo. Mas, baseado em experiência pregressa com o quarteto in loco, acredito que devem ter feito bonito com seu punk rock provocador – que rendeu até processo de Luciano Hang, da Havan.
Acompanhado de Pela (voz), Martin Sauan (baixo) e Gallo (guitarra), Marky entrou em cena às 22h17 (no relógio do resenhista). Em um set sem intervalo algum — no máximo um 1,2,3,4 entre uma composição e outra — despejou bons temas da cultura pop. O pontapé foi com ‘Rock’n’Roll High School’ e seguiu com ‘Havana Affair’, ‘Commando’, ‘Beat on the Breat’, ‘Rockway Beach’, ‘Cretin Hop’, ‘Listen to my Hear’ (citando algumas das prediletas deste que vos digita) e outras pérolas da discografia ramônica lançadas na década de 1970. Das escapas desse período, tivemos ‘Tomorrow She Goes Away’ e ‘Anxiety’ (composição do próprio Marky), bem como o hit ‘Pet Cemetary’ e a releitura da homenagem criada pelo Motörhead sob o título de ‘R.A.M.O.N.E.S’. O repertório completo pode ser conferido na foto abaixo.
Quanto mais velho eu fico, e mais ciente de o quão desgastante pode ser uma performance de rock’n’roll, mais valorizo artistas com estrada que se preocupam com a entrega. É o caso de Marky Ramone. Temos números para sustentar a percepção: tocou com três nomes históricos do gênero (Dust, Richard Hell and the Voidoids e Ramones), gravou oito álbuns com os fast four, fazendo 1,5 mil shows em seu tempo com a banda (1978-1983/1987-1996), e acelera no high hat a uma velocidade que pode chegar a 250bpm. Em Porto Alegre, entregou 1h20 de apresentação com 39 canções. Marca interessante para o veterano de 71 anos. Hey! Ho! Let’s go!
– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.