Ao vivo em Porto Alegre, Toy Dolls desfila hits do submundo da cultura pop conectando o público com a alegria de viver

texto por Homero Pivotto Jr.
Fotos de Uillian Vargas

No passado diziam que o Toy Dolls era o Beatles do punk, uma impressão muito reproduzida, embora hoje seja questionável se ela realmente faz sentido. Mas, noves fora, o fato é que o trio inglês é diferenciado. Na temática, o grupo sempre optou por letras debochadas e sarcásticas em detrimento da raiva comum ao estilo a que estão associados. Já o instrumental, ainda que simples, tem lá suas intrincações que revelam a inventividade da banda para além do rótulo sonoro associado aos três acordes. Ao vivo isso vira uma verdadeira festa. Isso ficou comprovado na apresentação que os caras fizeram em Porto Alegre na quarta-feira (13), no Opinião. A abertura ficou por conta dos gaúchos da Rotentix, banda de tradição ramoneira que está entre as mais longevas da cena independente gaúcha (começou em 1992, como Rotten Chicks).

Quem já havia assistido ao Toy Dolls em outras oportunidades contava que o show era primoroso, e isso ficou  comprovado in loco – na primeira vez do resenhista diante de Olga e sua turma. Que baita clima esses senhores criam em ação! Com palco sem firulas — fora os equipamentos, só uma bandeira ao fundo, estampada com a caricatura que representa a banda, inspirada no rosto do guitarrista e vocalista Algar —, o Toy Dolls presenteou o público com uma performance entrosada e divertida.

Antes mesmo de os músicos aparecerem diante do público, a vibe zombeteira já dava o ar nos alto-falantes: a playlist nos minutos que antecedem o espetáculo incluía músicas “engraçadas”, ou provocativas, como a versão torta de ‘My Way’ cantada por Sid Vicious, presente na trilha sonora “The Great Rock ‘n’ Roll Swindle”, dos Sex Pistols. Rolaram mais algumas do mesmo naipe, mas a memória um tanto ébria do escrita na ocasião não permite a lembrança. Seguimos.

O repertório é um desfile de hits do submundo da cultura pop, fazendo a alegria da ‘tiozada’ (a maioria dos presentes parecia já não cozinhar na primeira fervura) saudosa de um show (punk) rock old school clássico. Teve ‘I’ve Got Asthma’, ‘Bitten by a Bed Bug’, ‘The Lambrusco Kids’, ‘Nellie the Elephant’, ‘Dig that Groove’ e ‘Idle Gossip’, só para citar algumas. Mas o destaque mesmo é a execução e a atuação. A entrada com visual punk for fun (paletó vermelho, gravata curta, calça xadrez e coturnos), os indefectíveis óculos de sol coloridos, os movimentos de palco, os instrumentos sendo rodopiados (literalmente) e a guitarra com três braços são pontos marcantes.

Sim, sou desses que se preocupa mais em tentar ambientar como foi um show do que listar as composições tocadas, e o que realmente salta aos olhos é a sintonia entre os músicos. Tommy Goober (baixo) e The Amazing Mr. Duncan (bateria) acompanham o veterano “Olga” desde meados dos 2000 e criaram uma química interessante de se presenciar (em entrevista exclusiva no Scream & Yell, o líder não poupou elogios aos companheiros dizendo que “essa é a provavelmente a formação que vai seguir até o fim da banda”). Que revigorante é um show de punk rock feito com vontade e que nos conecta com a alegria de viver. “Livin’ la vida loca” (infelizmente, a versão maravilhosa do Toy Dolls para o sucesso de Rick Martin não foi tocada), mas, ainda assim, a noite valeu a pena. E muito.

A turnê do Toy Dolls pelo Brasil segue por Curitiba (15, CWB Hall), SP (16, Carioca Club) e Rio  (17, Agyto).

– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal

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