texto por Paulo Pontes
As expectativas eram altas. Até porque estamos falando de um dos maiores festivais destinados à música pesada do mundo. Na Alemanha, seu país de origem (e até então o único a sediar o fest) o Summer Breeze já existe há 25 anos. Só por aí já dá pra imaginar a grande responsa que a produção brasileira tinha em mãos, né? Se por um lado o Brasil já está acostumado a receber festivais que vão além de um único dia e que contam com diversos palcos (como é o caso do Lollapalooza, só para citar um exemplo), por outro, ainda não havíamos experienciado a mesma situação com um festival exclusivamente de rock e heavy metal, daqueles habitualmente europeus.
Sim, já tivemos excelentes eventos de grande porte, caso do Monsters of Rock e do recente Knotfest, mas ambos em formatos diferentes. Ou seja, já estava na hora (talvez tenha até passado, mas nunca é tarde, não é mesmo?) de os fãs brasileiros da música pesada serem agraciados com um festival com uma configuração bem mais grandiosa. E, quer saber? Valeu a espera. Nos dias 29 e 30 de abril, o Memorial da América Latina, em São Paulo, recebeu a primeira edição do Summer Breeze Brasil. Foram mais de 30 bandas distribuídas em quatro palcos (alguns com shows em horários simultâneos) além de palestras, seminários, exposições e uma estrutura de respeito, com bares, banheiros, praça de alimentação, área kids, espaço para tatuagens, meet & greet, entre outros.
O lineup manteve os padrões europeus e passeou pelas mais diversas vertentes da música pesada, indo do hard rock ao grindcore, passando por heavy metal tradicional, thrash metal, death metal, power metal (inclua aqui outros “metal” e possivelmente eles foram representados). Dentre as bandas: Krisiun, Sepultura, Skid Row, Stone Temple Pilots, Avantasia, Blind Guardian, Parkway Drive… e por aí vai. É claro que, em um evento desse tamanho, com alguns shows e atrações rolando no mesmo horário, o público precisa fazer escolhas (este que vos escreve, por exemplo, precisou). Em determinados casos (mais do que eu queria), era curtir uma banda foda e deixar outra (igualmente foda) para uma próxima. Faz parte, tá valendo e foi um final de semana extremamente divertido. Já adianto que, para uma primeira edição, a produção do Summer Breeze Brasil está de parabéns (ainda que alguns pontos precisem de atenção). Bora!
Primeiro dia — Sábado
Antes de falar sobre os shows, vale a pena detalhar como ficou a configuração dos palcos: os dois principais eram o Hot Stage e o Ice Stage, posicionados estrategicamente um ao lado do outro, com shows intercalados (com pouquíssimos minutos de diferença); atravessando a passarela localizada sobre a Av. Mário de Andrade, do outro lado do complexo do Memorial, estava o palco Sun Stage, menor que os outros dois e sem a adição de telões; já o Waves Stage (palco exclusivo para quem adquiriu o ingresso nas modalidades Summer Lounge Card e Summer Lounge Pass) ficou no interior do Auditório Simón Bolívar. Pronto!
Dá pra dizer que o Voodoo Kiss, responsável pelo pontapé inicial do primeiro Summer Breeze Brasil, no palco Hot Stage, é a banda do dono da festa. Isso porque foi o baterista Achim Ostertag que, em 1997, criou o Summer Breeze Festival, em Abtsgmünd. Fato curioso é que o grupo alemão foi formado em 1995, pausou as atividades em 2000 e retornou em 2022 para lançar seu disco de estreia. O heavy metal tradicional do Voodoo Kiss serviu apenas como pré-aquecimento para um público ainda bem reduzido e morno. Com um único álbum (que não é lá essas coisas), ainda por cima tão recente e pouco divulgado por aqui, não dava para esperar tanta interação por parte da galera. Mas logo nesse início já deu pra sentir a potência do som que viria pela frente nos dois palcos principais: volume alto e com boa mixagem (ainda que com algumas falhas técnicas em um show ou outro. Chegaremos lá).
O show do Voodoo Kiss começou pontualmente às 11h e foi até às 11h55, mas… lembra do lance de ter que fazer escolhas? Então… Lá no Sun Stage, do outro lado do Memorial, João Gordo subiria ao palco para tocar as músicas do disco “Brutal Brega”, às 11h30, e foi pra lá que boa parte do público se deslocou. E, olha, foi um show divertidíssimo! A proposta do disco por si só já é maravilhosa: músicas (já clássicas) do que se convencional chamar de “brega”, só que devidamente embrulhadas em uma sonoridade punk/hardcore com os vocais sujos de João Gordo. E ao vivo fica ainda melhor. “Isso aqui era uma brincadeira minha da pandemia, não era pra eu estar aqui. Mas deu certo e vocês tão aqui curtindo”, disse Gordo em determinado momento da apresentação, que contou com a participação do público em canções como “Fuscão Preto”, “Ciganinha”, “Tenho”, “Sandra Rosa Madalena” e “Pepino”. O encerramento veio em grande estilo, com a clássica “Tropicana (Morena Tropicana)” de Alceu Valença. Se a abertura do Hot Stage foi bem morna, não dá pra dizer o mesmo do Sun Stage. Foi muito menos brega que brutal (Gordo se apresentaria com o Ratos de Porão no dia seguinte… em Porto Velho!).
Corrida rápida para o Ice Stage pra pegar pelo menos o finalzinho do show do Benediction. Os britânicos foram responsáveis pelas primeiras rodas na plateia com o seu death/black metal. Também aproveitei para dar uma hidratada na sala de imprensa (o sol pegou firme até o final da tarde nos dois dias de festival). Às 13h05, foi a vez de Marc Martel subir ao Hot Stage. A ideia era ver só o comecinho do show e correr para o Sun Stage, onde a Crypta tocaria a partir das 13h15. Mas bastaram poucos minutos para Martel (um dos mais deslocados em todo o lineup do festival, diga-se de passagem) conquistar o público (a partir daí, fiquei apenas em frente aos dois palcos principais: Hot e Ice). O setlist (além do carisma e da voz do canadense) contribuiu muito. Ao lado de Tristan Avakian (guitarra), Mike Cohen (baixo), Oskar Hugdahl (bateria) e Brandon Ethridge (teclados), Marc Martel brindou a plateia com clássicos do Queen, em um tributo que foi de “Tie Your Mother Down” até “We Are the Champions”, passando por outros 11 sucessos da banda. Repertório impecável, bandaça de apoio e um vocalista que, sem esforço, possui um timbre muito parecido ao de seu maior ídolo, Freddie Mercury. Grande show!
Poucos minutos depois, no palco ao lado (Ice), rolou um “Tributo a Andre Matos”, com integrantes de três bandas que fizeram parte da carreira do vocalista: Viper, Shaman e Angra. O primeiro a subir no palco foi o Viper, inicialmente prejudicado por falhas técnicas no som. Foram apenas três músicas, “Under the Sun”, “A Cry From the Edge” e “Living for the Night” (a mais celebrada pelos fãs). Na sequência, a galera “Shaman + Angra” (alguns chamaram de ShamAngra), sem Luis Mariutti e Ricardo Confessori — este último responsável pelo mais recente fim da banda, pela terceira vez —, apareceu com Alírio Netto (voz), Hugo Mariutti (guitarra), Rafael Bittencourt (guitarra), Felipe Andreoli (baixo) e Rodrigo Oliveira (bateria) para tocar duas músicas do Angra: “Lisbon” e “Make Believe”.
Ainda teve tempo para que Luis Mariutti (baixo) e Fabio Ribeiro (teclados) subissem ao palco para a execução de três faixas do Shaman e, ao final, Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli e Felipe Machado subiram novamente para encerrar o show com “Carry On” (Angra). No geral, foi um tributo a Andre Matos, com grandes clássicos que fizeram parte da carreira do músico, mas com muito pouca cara de homenagem, sabe?. Alírio foi o que mais falou sobre Andre (e nem foi tanto assim) e os telões não mostraram sequer uma imagem do cantor. Além disso, em alguns momentos ficou nítido o sentimento de “piloto automático” e até mesmo improviso (principalmente em “Carry On”, que soou um pouco “embolada” na equalização dos instrumentos).
Sem muito respiro, eis que surge no Hot Stage o reformulado Skid Row, agora com o vocalista Erik Grönwall (ex-H.E.A.T). E deu muito certo. Em 2022, a banda lançou o ótimo “The Gang’s All Here”, que rendeu duas músicas ao set: “Time Bomb” e a faixa que dá nome ao disco. Para sua apresentação no Summer Breeze, o Skid Row optou por músicas mais pesadas (deixando de lado inclusive um de seus maiores sucessos, “I Remember You”), e isso fez toda a diferença. Erik dominou o palco, interagiu com o público e foi muito bem recebido por todos (será que agora os fãs esquecem um improvável — e talvez desnecessário — retorno de Sebastian Bach?). Vale destacar ainda a performance da dupla de guitarristas Dave “Snake” Sabo e Scotti Hill, que continua afiadíssima e entrosada.
Às 16h20, no Ice Stage, “Polícia”, dos Titãs, tocada no sistema de som, anunciava o que estava por vir. O Sepultura subiu ao palco quebrando tudo com “Isolation”, do disco “Quadra”, com uma qualidade sonora impecável e o volume lá em cima (aliás, o volume nos dois palcos estava bem alto, o que agradou os presentes, mas, aparentemente, desagradou a vizinhança). A performance contagiou o público, principalmente com os clássicos, mas também foi interessante conferir ao vivo (pela primeira vez) a faixa “Ali” (Quadra), com a participação especial do DJ Babylons P. No mais, “Territory”, “Refuse/Resist”, “Arise” e “Roots Bloody Roots” fizeram a alegria da galera.
A pancadaria continuou no Hot Stage, que às 17h25 recebeu o Lamb of God (se os vizinhos já estavam incomodados com o “barulho” antes da apresentação da banda… ah, meu amigo, aqui a coisa tomou outras proporções). Randy Blythe (vocal), Mark Morton (guitarra), Phil Demmel (guitarra), John Campbell (baixo) e Art Cruz (bateria) estavam “endiabrados” no palco, especialmente o vocalista. E o público respondeu à altura. Rolou até um agradecimento especial ao Sepultura (influência nítida no som dos norte-americanos) e o baterista Art Cruz chegou até a tocar a introdução de “Refuse/Resist” antes de “Laid to Rest”.
Decidir entre as duas próximas atrações foi uma tarefa difícil. No Sun Stage, o Accept, uma verdadeira instituição do heavy metal, tocaria às 18h30; no Ice Stage, o Stone Temple Pilots (por sua vez uma instituição do grunge) se apresentaria no mesmo horário. A escolha partiu do princípio “já vi o Accept, mas não o STP”. Fiquei no Ice. Não foi o que fez a maioria do público que curtiu o Lamb of God. Assim, o Stone Temple Pilots se apresentou para uma plateia relativamente pequena para sua importância. Mas isso não impediu a banda de fazer um puta show, ainda que não tão agitado e pesado quanto ao das bandas anteriores, claro. Dean DeLeo (guitarra), Robert DeLeo (baixo), Eric Kretz (bateria) e Jeff Gutt (voz) abriram o show com “Wicked Garden”, seguida das clássicas “Vasoline” e “Big Bang Baby”. Jeff tem uma boa presença de palco (lembrando até mesmo os momentos mais “contidos” de Scott Weiland) e manda muito bem nos vocais. Além disso, o cara, super carismático, foi para a grade cumprimentar os fãs em duas situações diferentes. O encerramento veio com “Plush” e “Interstate Love Song”.
A última banda a subir no palco Hot Stage (e também a mais aguardada por aqueles que foram a Summer Breeze no sábado) foi o Blind Guardian. Dona de uma discografia de respeito e acostumada a grandes festivais europeus de heavy metal, a banda dominou com facilidade o público e entregou, disparado, o melhor show do dia. O grupo alemão é formado por Hansi Kürsch (vocal), André Olbrich (guitarra), Marcus Siepen (guitarra) e Frederik Ehmke (bateria), e no Summer Breeze contou com a presença dos músicos Michael “Mi” Schüren (teclados) e Johan van Stratum (baixo). Os fãs de longa data foram presenteados com uma abertura épica: “Imaginations From the Other Side”. Logo de cara, já deu pra sentir que seria um grande espetáculo. Hansi cantou muito e toda a banda se mostrou afiada. Destaque para o guitarrista André Olbrich (“o cara não erra uma nota. Incrível!”, soltou um amigo que assistia o show ao meu lado). A qualidade do som estava impecável, fazendo com que o público ouvisse com tranquilidade cada instrumento (pô, aí até a vizinhança deve ter se surpreendido e ficado feliz com a qualidade).
A banda seguiu com outros três clássicos (“Welcome to Dying”, “Nightfall” e “Time Stands Still”) para em seguida tocar na íntegra o álbum “Somewhere Far Beyond”, que completou 30 anos recentemente. E foi no meio dessa parte do set que rolou um dos momentos mais aguardados nos shows do Blind: “The Bard’s Song – In the Forest”. Se tem outra música dentro do heavy metal em que o público pode cantar sozinho, sem que o vocalista se aproxime do microfone (ainda que em alguns trechos Hansi Kürsch faça isso para agraciar a todos com sua voz), eu desconheço. Mesmo a falha de som em um dos violões na introdução não foi capaz de tirar o brilho da performance. Além do disco na íntegra, ainda sobrou tempo para “Lord of the Rings”, “Violent Shadows, “Majesty” e um bis com “Valhalla” (com o público entoando em uníssono o refrão) e “Mirror Mirror”.
O sábado no Summer Breeze Brasil continuaria com o Apocalyptica no Waves Stage, mas, sabendo que no domingo teria mais (e no primeiro horário rolaria um show imperdível), optei por me despedir do Memorial da América Latina após os “bardos” deixarem o palco.
Segundo dia — Domingo
Às 10h30, a caminhada até o Memorial foi tranquila, apesar do sol que já batia forte (e se manteve assim até o final da tarde). A fila do lado de fora já dava a volta no quarteirão. E o domingo começou com dois shows simultâneos: Krisiun, no Hot Stage, e Velvet Chains, no Sun Stage. Como era esperado, a esmagadora maioria do público ficou no Hot (os relatos foram de que o Velvet Chains tocou para uma plateia minúscula no Sun) para prestigiar o trio que há anos levanta a bandeira do death metal nacional mundo afora. O Krisiun, formado por Alex Camargo (voz e baixo), Moyses Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria), conseguiu reunir uma quantidade considerável de público em frente ao palco, tendo em conta tanto o horário quanto a maratona que viria pela frente. A qualidade de som (alto — “acordem, vizinhos”) estava excelente, houve apenas um pequeno problema com o microfone de Alex, solucionado rapidamente. Destaque para “Scourge of the Enthroned”, “Blood of Lions”, “Apocalyptic Victory” e para o cover de “Ace of Spades” (a mais “leve” do setlist).
Em seguida (sob o sol do meio-dia), no palco ao lado (Ice Stage), o Grave Digger trouxe ao Summer Breeze toda a força do seu heavy metal tradicional, mas sofreu com problemas técnicos sérios no sistema de som. Pouca voz (pra não dizer “zero”) e muita bateria. A coisa melhorou mesmo lá pela quinta faixa do setlist (que teve onze). E o final, com a trinca “Excalibur”, “Rebellion (The Clans Are Marching)” e “Heavy Metal Breakdown”, valeu a pena.
Peguei alguns minutos do show do H.E.A.T, no Hot Stage, e a banda também enfrentou problemas técnicos (muita oscilação no volume dos instrumentos), mas por pouquíssimos minutos. Logo no início do show, deu pra sentir que o público estava junto com a banda, que se entregou no palco. O vocalista Kenny Leckremo, que voltou ao grupo após a saída de Eric Grönwall — que, lembre-se, estava no Summer no dia anterior com o Skid Row —, se mostrou extremamente feliz por estar no palco, era nítido. Os fãs retribuíram. Mas, vi poucos minutos do show, pois, no Waves Stage (o espaço exclusivo no Auditório), rolaria o show da banda Vixen (marcado para às 14h10), um dos grandes nomes do final dos anos 80 e início dos anos 90 (daquela safra maravilhosa de grupos de hard rock). No caminho até lá, uma cena chamava a atenção das pessoas no entorno: na área kids, algumas crianças estavam “aprendendo “ a tocar “We Will Rock You”, clássico do Queen, em baterias infantis. Um daqueles momentos que marcam, principalmente quem curte rock e tem filhos. Lindo!
Bem, o show do Vixen rolou, claro, mas vi apenas duas músicas. O motivo? No horário previsto, para o início, a banda estava passando o som e acertando detalhes técnicos. Isso durou até às 14h35. Ou seja, quase meia hora de atraso. As coisas foram se acertando no decorrer das duas primeiras músicas, “Rev It Up” e “Waiting for the Big One”. Quem ficou até o final elogiou muito a apresentação da Vixen, mas com o show que estava pra rolar do outro lado da passarela, resolvi deixar o Waves Stage. No meio do caminho, deu pra pegar um pouquinho da apresentação performática do Finntroll, no Sun Stage. Black metal + folk europeu + corpse paint + fantasia de elfo: taí um resumo da banda finlandesa. Bora subir a passarela porque a coisa ia esquentar lá no Hot Stage (até que demorei pra fazer o trocadilho, né?). Às 15h15, uma das maiores bandas da história do thrash metal ia dar as caras: Testament..
Chuck Billy (vocal), Eric Peterson (guitarra), Alex Skolnick (guitarra), Steve DiGiorgio (baixo) e Chris Dovas (bateria) subiram ao palco com o jogo ganho e com os dois pés na porta. A banda abriu o set com “Rise Up”, seguida de “The New Order” e “The Preacher”. Destaque para Chris Dovas, que entrou na banda há pouco tempo e já se encaixou perfeitamente à sonoridade do Testament. Além disso, o que dizer da técnica de Alex Skolnick? O cara é, com toda certeza, um dos melhores guitarristas do estilo.
Após o Testament, foi hora de deixar as coisas mais tranquilas no palco ao lado, com o The Winery Dogs. O power trio, formado por Richie Kotzen (voz e guitarra), Billy Sheehan (baixo) e Mike Portnoy (bateria) — que time foda! —, encarou a tarefa de tocar no Ice Stage no intervalo de duas bandas de thrash metal, já que na sequência o Kreator faria seu show no Hot Stage. E encarou com muita personalidade. As habilidades técnicas de cada um dos músicos em estúdio sempre foi indiscutível e ao vivo a coisa não é diferente. Destaque para Richie Kotzen, que canta muito enquanto executa trechos complexos nas seis cordas. Dentre as músicas executadas, vale mencionar “Captain Love”, “I’m No Angel”, “Desire” e “Elevate”.
Enquanto o The Winery Dogs encerrava sua apresentação no Ice Stage, uma cortina com o logo do Kreator tomava conta do Hot Stage. Quando ela foi ao chão, às 15h25, o que o público presenciou no Summer Breeze Brasil foi uma aula de produção de palco e thrash metal. Os alemães foram os primeiros a utilizar fogos (não vi, mas o Parkway Drive também fez uso), além de um boneco demoníaco atrás da bateria e outras decorações de palco. Caso até aquele momento a vizinhança não tivesse reclamado novamente da música alta, ali foi a hora. Quem estava em frente ao palco adorou, pode ter certeza. Mille Petrozza (voz e guitarra), Jürgen “Ventor” Reil (bateria), Frédéric Leclercq (baixo) e Sami Yli-Sirniö (guitarra) foram os responsáveis pela uma hora mais insana, violenta e maravilhosamente bem executada do dia. Sorte do público, que estava abarrotado de pessoas com camisetas da banda (com certeza, era uma das mais aguardadas no domingo). Foram apenas dez músicas, mas dez músicas do cacete, entre elas: “Hate Über Alles”, “Enemy of God”, “Satan Is Real” , “Hordes of Chaos (A Necrologue for the Elite)”, “Violent Revolution” e “Pleasure to Kill”, que encerrou um show que entra fácil no top 3 do Summer Breeze Brasil.
Logo após o massacre do Kreator, a banda mais aguardada da noite (apesar de não ser headliner, observando o número de pessoas que ficaram para o show, parecia) surgiu no Ice Stage: Avantasia. É incrível (mas não surpreendente, pela qualidade de todo material lançado até aqui) como esse projeto do vocalista e compositor Tobias Sammet tomou proporções avassaladoras. Além de Tobi, o projeto trouxe para o Summer os vocalistas Ralf Scheepers (Primal Fear), Bob Catley (Magnum), Ronnie Atkins (Pretty Maids) e Eric Martin (Mr. Big), além dos vocais de apoio (que em alguns momentos brilharam mais que os principais nomes da noite) Herbie Langhans (Firewind), Ina Morgan e Adrienne Cowan.
Adrienne Cowan, inclusive, foi um dos destaques da noite, principalmente nas faixas “Book of Shallows” e “Farewell”. A moça tem uma versatilidade fora de série, indo dos vocais mais suaves até guturais insanos. Outro que deu um show foi Ralf Scheepers, cantando partes altíssimas ao melhor estilo Rob Halford. Por outro lado, Eric Martin parecia um pouco cansado e com aparente dificuldade de chegar em algumas notas. Bob Catley presenteou a todos com o seu carisma e sua voz inconfundível, especialmente na emocionante “The Story Ain’t Over” (faixa do Avantasia preferida deste que vos escreve). Ao final, ainda que curto para os moldes do grupo, foi um espetáculo que fez a alegria dos fãs, que em sua grande maioria partiu rumo ao Sun Stage para assistir ao Stratovarius — fiz o mesmo.
Não que eu não quisesse ver o Parkway Drive no Hot Stage, muito menos por qualquer tipo de aversão ao chamado metalcore, pelo contrário. É um estilo que gosto muito. Mas o metal melódico do Stratovarius pega no lado nostálgico, aí não teve jeito. E foi nesse momento que boa parte do público reclamou da organização, afinal, enquanto o Hot Stage ficou grande para o Parkway Drive, o Sun ficou pequeno, muito pequeno, para a banda finlandesa (a passarela praticamente parou no trânsito de um lado para outro). Coube ao público se espremer onde dava e assistir ao show em meio às palmeiras espalhadas na Praça da Sombra.
Ficou nítido o cansaço do público durante o show. A galera vibrou mesmo nas faixas clássicas, como “Father Time”, “Speed of Light”, “Paradise” e “Black Diamond”, mas não fez o mínimo esforço (era completamente compreensível) nas mais recentes, como “Survive” e “Unbreakable”. Importante destacar que Timo Kotipelto continua mandando muito bem e segura a onda nas faixas mais altas do setlist. “Hunting High and Low” deu fim à apresentação em grande estilo. Quem estava com as pulseiras do Lounge ainda pode conferir o Evergrey no Waves e passar a régua; quem não estava, partiu rumo o exterior do Memorial da América Latina com o sentimento positivo de ter presenciado um festival de respeito, que tem tudo para fincar suas raízes no Brasil.
Em tempo, tirando a dificuldade que a multidão teve para atravessar a passarela para ver o Stratovarius (fica aí o ponto de atenção para a distribuição das bandas em cada palco — ainda que também não ia fazer qualquer sentido colocar o Parkway Drive em um palco menor), além de problemas técnicos pontuais no sistema de som, não vi grandes filas nos bares, nos pontos de alimentação e nos banheiros, o que mostra o quanto o evento foi bem organizado. Que o Summer Breeze Brasil possa se tornar rotina no nosso calendário de festivais. Os fãs da música pesada agradecem (já os vizinhos…).
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.
Eu sou o Eddie na foto!!!!
Sigam eddie_mosh no isnta!!!!!
Muito foda o Summer!!!