texto por Paulo Pontes
fotos por Fernando Yokota
Duas bandas clássicas, duas noites repletas de peso e diversão. Foi o que o público de São Paulo pode conferir na “United Forces”, turnê que reúne Hammerfall e Helloween e que esteve na cidade nos dias 8 e 9 de outubro, no Espaço Unimed. A passagem das duas potências do power metal mundial pelo Brasil também rendeu um show em Ribeirão Preto, no dia 6, quarta-feira.
Quem inicia os trabalhos é o Hammerfall, que na tour aparece como “convidado especial”, e no dia 9, domingo, não foi diferente. Após o sistema de som da casa aquecer o público com “Run to the Hills”, clássico do Iron Maiden, eis que surgem no palco (com um atraso de 30 minutos para o horário anteriormente divulgado, 18h) Joacim Cans (vocais), Oscar Dronjak (guitarra), Pontus Norgren (guitarra), Fredrik Larsson (baixo) e David Wallin (bateria) com “Brotherhood”, faixa que abre o bom “Hammer of Dawn”, disco lançado pelos suecos no começo de 2022.
Aqui já vale destacar um problema que, infelizmente, acompanhou praticamente toda a apresentação do grupo: a guitarra de Oscar Dronjak, que estava com um volume bem mais baixo em comparação aos outros instrumentos. Isso prejudicou um pouco a audição principalmente nos momentos em que Oscar executava seus solos. Entretanto, também é importante mencionar como Pontus Norgren é preciso e segurou muito bem todo o show com um timbre de guitarra matador.
Na sequência, veio a cadenciada e pesada “Any Means Necessary”, única representante do álbum “No Sacrifice, No Victory” (2009). Apesar de curto, o setlist do Hammerfall é bem abrangente e deixa poucos discos de sua extensa carreira de fora da apresentação. De seus 12 álbuns de estúdio, apenas quatro não tiveram músicas incluídas no set, e a terceira já foi logo do disco de estreia (“Glory to the Brave”, 1997): “The Metal Age”. Para alegria dos fãs de longa data.
“Hammer of Dawn” fez os fãs cantarem junto os trechos de coro presentes na música (algo bem presente nas faixas do Hammerfall). Tudo é meticulosamente ensaiado no show dos suecos, inclusive a interação do carismático Joacim Cans com o público, que praticamente repetiu algumas falas do dia anterior, segundo relato de alguns colegas que foram ao Espaço Unimed no sábado (8). Claro que isso não é um problema, já que tudo é muito bem executado e soa muito natural.
Então veio a única alteração em relação ao setlist da noite anterior. Enquanto no sábado a banda apresentou a já clássica “Renegade”, do álbum homônimo de 2000, no domingo ela foi substituída por “Blood Bound”, faixa do disco “Chapter V: Unbent, Unbowed, Unbroken” (2005). A mesma mudança também ocorreu nos shows realizados na Costa Rica e no México.
Daí pra frente foi mais uma saraivada de peso com outras quatro faixas, “Last Man Standing”, Let the Hammer Fall”, “(We Make) Sweden Rock” e “Hammer High”, mais um pot-pourri de músicas do aclamado “Crimson Thunder”, de 2002. A banda não saiu do palco para o bis e encerrou a apresentação com “Hearts on Fire”. O cativante refrão da música foi cantado a pleno pulmões por todos os presentes, que, apesar do problema relacionado à guitarra de Oscar Dronjak, se divertiram com um show curto, mas intenso, proporcionado por uma banda que ainda tem muita lenha para queimar.
Por falar em diversão, após uma pausa que durou cerca de 30 minutos (e que serviu para os últimos acertos no palco, tanto de cenário quanto de som), o público pode presenciar uma das bandas mais divertidas do heavy metal atualmente, principalmente após o retorno de Michael Kiske (vocais) e Kai Hansen (guitarra e vocais): Helloween.
É impressionante como a banda ganhou gás, força e realmente se diverte (e diverte aos fãs) em seus shows. Pode soar exagerado, mas trazer novamente ao Helloween os dois integrantes da formação original, sem fazer qualquer substituição de outros integrantes, foi uma das melhores decisões que uma banda de metal tomou nos últimos anos. Além de Kiske e Hansen, completam a formação Andi Deris (vocais), Michael Weikath (guitarra), Sascha Gerstner (guitarra), Markus Grosskopf (baixo) e Dani Löble (bateria).
Para deleite dos fãs, além do peso que as três guitarras oferecem, agora a banda conta com três grandes vocalistas, que, ao intercalarem as faixas, dão fôlego e descanso um para o outro. Isso faz com que a banda consiga introduzir nas apresentações músicas de praticamente todas as suas fases.
O show — que, assim como o do Hammerfall, teve apenas uma alteração no setlist em relação ao dia anterior — começou com “Skyfall”, faixa que faz parte do último lançamento dos alemães, o álbum autointitulado de 2021. Na primeira música o público já sente um gostinho do que vai rolar na apresentação, já que os três vocalistas dão as caras aqui; e os três estão cantando muito. Apesar de recente, o público estava bem familiarizado com seu refrão, que tem toda aquela pegada melódica que a gente já conhece.
A segunda música foi aquela que traz (na opinião desse que vos escreve) um dos refrãos mais cativantes (talvez o mais cativante?) da história do power metal mundial: “Eagle Fly Free”, do clássico “Keeper of the Seven Keys, Pt. II”, de 1988. Se já não tivesse conquistado o público na faixa de abertura, aqui não teria erro. Dava até pra emendar com mais uma música do novo disco que tava tudo bem… foi o que a banda fez com “Mass Pollution” (ainda teriam mais duas do disco de 2021). Essa tem tudo para figurar por muito tempo no setlist dos caras. Andi Deris continua extremamente carismático e sabe muito bem comandar o público, “Mass Pollution” provou isso.
Em seguida, mais duas músicas que intercalaram os vocais de Kiske e Deris e levaram os fãs à loucura: “Future World” e “Power”, respectivamente. “Angels”, única que não foi tocada na noite anterior, substituída por “Save Us”, foi bem executada, mas não empolgou tanto. Pequena pausa para Andi Deris “apresentar” aquele que, segundo ele, foi “o homem que começou tudo isso aqui, em 1983”. Era o momento do medley do álbum “Walls of Jericho” (1985) com os vocais de Kai Hansen. Deris não estava errado, se o power metal tem um pai, o nome dele é Kai Hansen. Sua voz característica contínua afiada assim como seus solos e riffs. A sequência foi “Metal Invaders”, “Victim of Fate”, “Gorgar”, “Ride the Sky” e “Heavy Metal (Is the Law)”. O público foi ao delírio.
Dois banquinhos foram posicionados à frente do palco para que Kiske e Deris dividissem os vocais na balada “Forever and One (Neverland)”. Foi o momento mais tranquilo da noite, que fez com que alguns presentes irem ao banheiro ou buscarem suas bebidas. A execução foi belíssima. Na sequência todos saem do palco, permanecendo apenas o guitarrista Sascha Gerstner para seu solo. A banda toda retorna para a execução da melhor música presente no disco autointitulado de 2021: “Best Time”. Essa sim será figura carimbada nos shows dos alemães por muitos anos, pode ter certeza. Tem riff forte, refrão marcante, além da presença dos três vocalistas.
As clássicas “Dr. Stein” e “How Many Tears” precederam o primeiro bis da noite, que contou com “Perfect Gentleman” (uma das músicas mais legais que o Helloween apresenta ao vivo) e a longa “Keeper of the Seven Keys”, que emocionou os fãs com suas variações e melodias. Ao final da faixa, a banda foi apresentada enquanto Sascha dedilhava sua introdução. Mais uma vez o guitarrista fica sozinho no palco e então sai para que o público chame a banda para o segundo bis. “I Want Out” encerra a noite com muito papel picado, refrão cantado em uníssono e alegria estampada no rosto de todos. Assim, o Helloween entrega mais um espetáculo cheio de diversão, técnica e emoção para os fãs em São Paulo. “Happy Happy Helloween!”.
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/