textos por Bruno Leonel
“Unlimited Love”, Red Hot Chili Peppers (Warner)
Após 10 anos de turnês e dois álbuns que dividiram opiniões (“I’m With You” e “The Getaway”), os Peppers se despediram do injustiçado guitarrista Josh Klinghoffer e anunciaram a volta de Frusciante para a banda – sua terceira era no grupo, depois de já ter pedido pra sair duas vezes. Os fãs e saudosistas se animaram e a expectativa pelo próximo álbum cresceu. Situação perigosa? Muito e que no fim serviu apenas como uma grande jogada de marketing pra alavancar um disco fraco, inofensivo, super lotado e loooongo (17 faixas, dentre as quase 50 que a banda afirma ter gravado, em 73 minutos de som). “Unlimited Love” parece um “recompilado” de antigas ideias e material subaproveitado em discos anteriores do quarteto. Até um catadão de “lados-b” do “I’m With You” poderia ter resultado em um disco melhor. Rick Rubin retornou depois de não ter produzido o último álbum, o ruim “The Getaway” (2016), feito com Danger Mouse, mas até essa parceria soa sem inspiração, pois não há nada aqui que brilhe. Poucas dinâmicas, poucos destaques e pelo menos umas seis ou sete faixas que não fariam a mínima diferença se fossem descartadas. Algumas escolhas de produção parecem duvidosas também: a voz de Anthony Kiedis, por exemplo, soa muito “auto tunada” e estranha em momentos como “Here After Ever” e “Bastards of Lights”. As melhores faixas são as que tentam sair “um pouco”, veja bem, pouco, do convencional: “Whatchu Thinkin'” e “One Way Traffic”. Ainda assim, o público comprou a ideia e, além de bater um número 1 na Billboard (quem?), o álbum se tornou um dos vinis mais vendidos dos últimos 30 anos. Isso talvez diga muito mais sobre os fãs da banda, e de rock em geral da atualidade, do que sobre o álbum. Afinal, em pleno ano de 2022 o grande público conseguiu elevar a moral de um disquinho conservador, mediano e sem riscos. Talvez público e banda se mereçam. Será que só assim para o rock voltar a emplacar em paradas então?
Nota: 4,5
“Never Let Me Go”, Placebo (Rise Records)
Oitavo disco de estúdio da banda – que hoje é uma dupla, após a saída do baterista Steve Forrest em 2015 – “Never Let Me Go” é o primeiro disco de inéditas do Placebo em quase nove anos. Ele começou a ser gravado em 2019 com Adam Noble na produção, mas teve os trabalhos interrompidos devido à pandemia do Coronavírus. Durante o hiato da gravação, a banda andou ativa online, publicando alguns bons shows do acervo na íntegra, no canal oficial do Youtube, e também lançando uma série de vídeos em homenagem aos 20 anos de “Black Market Music”, disco de 2000 que inseriu eletrônica e até rap no acervo do grupo. Esses revivals acenavam que a banda poderia estar revisitando o passado e que elementos do som clássico seriam inseridos neste novo disco… o que não aconteceu exatamente. O disco de 2022 soa como uma continuação meio pálida da sonoridade da banda, com climas soturnos, sintetizadores e a voz característica de Brian Molko como destaque, no entanto, dá a impressão aqui de que o grupo não se preocupou em (ou não quis) oferecer muito mais além disso. Suas 13 faixas parecem meras emulações de elementos já mostrados antes, e melhor, em trabalhos como “Sleeping With Ghosts” (2003) ou “Meds” (2006). Há bons momentos como no single “Beautiful James”, na intimista “Happy Birthday in the Sky” e na climática ”Chemtrails”, mas no geral o disco soa acomodado, sem grandes momentos envolventes. O conjunto é mais consistente e variado do que o fraco “Battle For the Sun” de 2009, e inferior ao penúltimo “Loud Like Love” (2013). É sempre bom ver Molko e cia em atividade, mas para o time brilhar em campo, correr riscos e trazer ousadia para o jogo era importante também.
Nota: 6
“Air“, Sault (Forever Living Originals)
Vivendo uma safra bem inspirada, o misterioso e oblíquo coletivo britânico de neo soul/ r&b Sault lançou em 2021 o elogiado “Nine”, que apareceu em diversas listas de melhores do ano mesmo tendo ficado disponível para stream e compra por apenas 99 dias (!!!). Agora, em 2022 eles lançam um novo candidato para as listas de melhores de fim de ano, “Air”. Deixando um pouco de lado os grooves e ambientações darks do trabalho anterior, este sexto álbum de estúdio é repleto de cordas, harpas e texturas épicas que parecem beber de nomes como Brian Eno e até Hans Zimmer. O grupo, que conta com diversos músicos e colaboradores nunca mencionados – mas que envolve nomes como o respeitado produtor “Inflo” Dean Josiah Cover (Jungle e Adele), a rapper Melisa “Kid Sister” Young entre outros –, bebe de fontes como o r&b dos anos 70 e 80, atualizando-os com cores e abordagens mais plurais. Com temática das letras inspirada por questões e conflitos raciais, o grupo faz uma mistura de estilos como o dub, gospel e até o trip-hop. Em um mosaico sonoro bem competente, o coletivo atualiza elementos black clássicos para uma roupagem moderna que em 2022 consegue soar viva, nunca datada, saudosista ou tentando cativar meros ouvintes nostálgicos (uma lição que nomes como Silk Sonic ainda precisam entender). São vários os destaques, desde a épica faixa título passando pela melódica “Heart”, num clima quase cinematográfico, e pela épica “Solar”, com mais de 12 minutos, e chegando na envolvente “Time is Precious”, com um coral sensacional em uma das melhores faixas já registradas pelo coletivo. Ótimo trabalho que, em apenas 45 minutos, consegue soar gigante pela quantidade de elementos. Obscuro também na relação com a mídia, o grupo nunca deu entrevistas e nem se apresentou ao vivo. Ter esperanças nunca matou ninguém…
Ouça: Spotify, Bandcamp, Youtube
Nota: 8
– Bruno Leonel (fb/silva.leonel.900) é blogueiro e integra a banda Crappy Jazz.
Se você for para pra pensar, talvez o último disco do RHCP que não dividiu opiniões foi o Blood Sugar Sex Magik.
Rapaz, pior que, alguns reviews da época não foram lá favoráveis a ele também. Muita gente chamou de “pop punk” barato pra baixo…
O RED HOT apostou no seguro, não inovou e nem fez nada de muito impacto.Mas gostei do álbum.Se tivesse um repertório mais enxuto , talvez fosse melhor.