OS MELHORES DE 2020 DO SCREAM & YELL

“Por que a gente gosta de cantores? Onde se esconde o poder das canções? Talvez se origine da mera estranheza de se existir canto no mundo. A nota, a escala, o acorde; melodias, harmonias, arranjos, sinfonias, ragas, óperas chinesas, jazz, blues: o fato de essas coisas existirem, de termos descoberto os intervalos mágicos e as distâncias que produzem o pobre punhado de notas, todas ao alcance da mão humana, com as quais construímos nossas catedrais sonoras, é um mistério tão alquímico quanto a matemática, ou o vinho, ou o amor. Talvez os pássaros tenham nos ensinado. Talvez não. Talvez sejamos, simplesmente, criaturas em busca de exaltação. Coisa que não temos muito. Nossas vidas não são o que merecemos. De muitas dolorosas maneiras elas são, temos de admitir, deficientes. A música as transforma em outra coisa. A música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo”.

Quem acompanha o Scream & Yell já deve ter se deparado com esse trecho do livro “O Chão Que Ela Pisa”, de Salman Rushdie, em ao menos uns cinco textos meus (pode ser mais, admito), e retorno a essa pequena pérola de beleza textual porque em 2020, o ano mais difícil de nossas vidas em sociedade, a música (e a arte como um todo) me ajudou a não pirar. Creio que cada um dos 123 convidados dos Melhores do Ano Scream & Yell 2020 também se apoiou, em algum momento, em canções, discos, filmes, séries, livros, lives e podcasts, utilizando a Cultura (com C maiúsculo e dourado) como forma de escape de um cotidiano cada vez mais tóxico em um país cada vez mais inabitável. Creio que você, que está aqui lendo isso, também encontrou em alguma forma de cultura uma espécie de ombro amigo nestes tempos difíceis. É a arte transformando as nossas vidas em outra coisa, nos mostrando um mundo que merece os nossos anseios. Colocando um pouco de humanidade em um dia a dia cada vez mais desumano.

Bem, não foi fácil, não será fácil, mas a gente segue em frente esperando por vacina e pelos derradeiros momentos sagrados de encontrar os amigos na beira de um palco num show, na caminhada interminável entre um palco e outro num festival, na fila do cinema, no boteco, em situações que valorizávamos muito sim, e que por isso nos fazem tanta falta em meio a esse quase eterno confinamento. Enquanto isso, fazemos uma das coisas que a gente mais gosta (e falo muito por mim aqui), que é relembrar o que de melhor aconteceu no ano que passou em termos de Cultura em listas de Melhores do Ano. Aqui, como de praxe, reunimos um grande número de convidados apaixonados por cultura pop num grande boteco virtual em que cada um elenca suas obras favoritas do período, sem pré-lista, sem regras pré-estabelecidas, confiando apenas na boa e velha… memória. E com todos os votos abertos!

Juntando 124 votos (com muito convidado debutando e trazendo novos ares para a votação – obrigado pela presença) de uns aqui e outros acolá apontamos os 7 Melhores de 2020 em diversas categorias: Melhores Discos, Filmes, Músicas e Lives (que ocupa o lugar de shows neste ano) além de Melhor Livro, Podcast (que estreia neste ano) e o Melhor da TV. Por que 7? Curtimos essa coisa meio cabalística do número, mas também gostamos de ser diferentes. Assim como em todas as outras votações anteriores, não colocamos na conta final os votos de quem vota no próprio trabalho, mas mantemos os votos ali. Os vencedores, por sua vez, são eleitos por citação, independente de aparecer em 1º ou 5º na cédula do votante. Mas neste ano, para desempatar algumas categorias em que havia algum empate, usei o velho método de somar os pontos dos empatados (5 para 1º lugar, 4 para 2º lugar e por ai vai) e ver quem se saia melhor (até por isso, o 25º disco internacional está dividido entre dois discos que receberam o mesmo número de votos repetindo as mesmas posições). E viva Fiona Apple, o nome mais citado em toda a votação.

Por fim, gosto de imaginar que você que está fuçando todas as listas dos votantes irá encontrar um disco (filme, livro, podcast) muito especial que foi pouco falado por todos os outros, fazendo com que o imenso trabalho de convidar, receber votos, contar, recontar e erguer esse especial de mais de 130 páginas seja recompensado. É só Cultura Pop, mas ela pode nos acalentar nos momentos difíceis, nos distrair de todo o caos, nos trazer um pouco de paz, e muitas vezes, nos mostrar como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo. Os vencedores estão ai embaixo. Cuide-se. Proteja-se. Divirta-se. E até janeiro de 2022…

Marcelo Costa (editor Scream & Yell)

2 thoughts on “OS MELHORES DE 2020 DO SCREAM & YELL

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.