Textos por Renan Guerra
“Pang”, Caroline Polachek (Sony Music)
Caroline era uma das metades do Chairlift, duo nova-iorquino de synthpop que lançou três ótimos discos entre 2008 e 2016. Caroline, junto do Chairlift e em carreira solo, já colaborou com gente como Charli XCX, Solange e Blood Orange, além de constar nos créditos do excelente álbum auto-intitulado de Beyoncé. Todo esse currículo colocava as expectativas pelo disco solo de Caroline Polachek lá no alto e, mesmo assim, “Pang” ainda se mostrou uma excelente surpresa, que expande as explorações pop da artista para outros níveis. Polachek consegue fazer um álbum que ainda traz o universo de synthpop de seu antigo duo, mas que conversa com as explorações atuais da PC Music e dialoga com o art pop, relembrando os momentos mais acessíveis de Björk nos anos 1990. De produção cuidadosa e detalhista, no final das contas o que mais se destaca é a compositora Polachek: é encantador como ela consegue transformar relacionamentos, amores e embaraços da vida adulta em canções pop perfeitas, com refrões pegajosos e sacadas geniais. “Caroline Shut Up”, “So Hot You’re Hurting My Feelings” e “Ocean of Tears” são exemplos simbólicos da poética da artista e de como ela consegue transformar em canções as nossas dores mais íntimas. “Pang” é disco para dançar e chorar na pista.
Nota: 8,5
“Crushing”, Julia Jacklin(Polyvinyl Record)
“Crushing” é o segundo disco da australiana Julia Jacklin. Com menos de 30 anos, Julia já abriu shows de gente como First Aid Kit e Okkervil River, recebeu elogios da Vogue, NME e do The New York Times, e lançou um disco ao lado de sua banda Phantastic Ferniture. Uma espécie de estrela da música independente em seu país, Julia é um nome que precisa ser reconhecido mundialmente e “Crushing” vem colaborar com esse crescimento. O álbum foi produzido por Burke Reid – responsável pelos dois discos da também australiana Courtney Barnett – e tem um clima de confidência que relembra clássicos de nomes como Fiona Apple e Cat Power. Jacklin é sincera em suas composições e constrói sonoridades complexas, mas ainda assim pops, o que pode ser visto em faixas como “Head Alone”, “Don’t Know How To Keep Loving You” e “Body”. “Crushing” passeia entre o indie e o folk, mas com flertes interessantes com o pop, provando que Julia é uma artista complexa e cheia de qualidades que vale a audição atenta. Vale conferir também os videoclipes de Jacklin, pois eles habitam uma espécie de hiper-realidade, em que o banal ganha aura de surreal, meio filme do Wim Wenders, meio fotos de Lars Tunbjörk – esse último uma referência importante para Julia.
Nota: 9
“Essentials’, Erika de Casier (Independent Jeep Music)
A dinamarquesa Erika de Casier vinha dando pistas do que seria seu disco de estreia com singles grudentos desde 2017, como “What U Wanna Do?” e “Do My Thing”. “Essentials”, seu debut, tem a cara de um disco de veterana, pois tem um domínio muito sábio entre o retrô e o moderno: Erika consegue trazer um clima que parece sampleado da virada do século, entre os anos 90 e o início dos anos 2000. G-funk, R&B e eurodance servem de base para que Erika crie cenários e ambiências relaxantes, que parecem quase oníricas. Há uma aura esfumaçada, como se Erika cantasse num bar qualquer perdido na noite especialmente para a gente, em momentos de troca de confidências, como em “Good Time”, “Intimate” ou “Photo of You”. Erika faz parte do coletivo Regelbau, responsável por revigorar a cena eletrônica da Dinamarca, em especial, de Copenhagen; porém “Essentials” vai bem além das explorações eletrônicas e mostra uma artista complexa, que consegue flertar com universos como o de Beyoncé ou Sade, porém sempre de forma muito única. Erika de Casier consegue unir um saudosismo acolhedor com sonoridades que prevem o futuro do pop. Erika é aquele nome do qual não devemos tirar o olho.
Nota: 9,5
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz.