por Herbert Moura
O Silence Four foi um fenômeno muito curioso da cena musical portuguesa do final da década de 90. Durante cerca de três anos de atividade, entre 1998 e 2000, eles lançaram apenas três álbuns, sendo que o primeiro deles, “Silence Becomes It” (1998), se revelou um dos mais vendidos da história da música portuguesa, conquistando seis discos de platina pela venda de 240 mil cópias do álbum!
Ao contrário do que seria de esperar, a banda não se separou por inimizade ou conflito entre seus membros, mas apenas porque todos estavam precisando de uma pausa após o imenso trabalho que tiveram devido a seu incrível e súbito sucesso. Na sequência da pausa, cada um voltou a seus projetos individuais. Note-se: só dois dos quatro integrantes seguiram na música.
O vocalista e “frontman” David Fonseca vem criando um percurso que pode fazer dele o “David Bowie” português, com passagens por diversas áreas da música pop – sendo até capaz de se atrever ao jazz, como tentou em uma ocasião numa homenagem a Scott Walker – e reinventando continuamente sua imagem. Já o baixista, Rui Costa, seguiu também ligado a outros projetos musicais, mas nunca com o mesmo sucesso.
Influência de seu tempo
O próprio David Fonseca já veio ao Brasil tentar sua “sorte” mostrando que a música portuguesa é muito mais que o fado. Conforme o próprio explicou em uma entrevista ao Estadão, em 2011, suas influências originais vinham do Pixies, do R.E.M., do Breeders e de outros experimentos anglo-saxônicos. Era um jeito de sair fora da “cidade pequena no centro de Portugal”, Leiria (a 130 km de Lisboa), onde nasceu.
A banda causou alguma polêmica, na época, por cantar quase totalmente em inglês, o que era totalmente incomum em Portugal. Fonseca, que continua cantando grande parte de seu trabalho na língua de Shakespeare, defende que isso surgia naturalmente em função de suas influências e que foi com naturalidade que o Silence Four começou trabalhando nessa base.
O “último fenômeno”
Noutra ocasião, Fonseca se referiu ao Silence Four como o “último fenômeno” da música portuguesa. Numa nota de humildade, o vocalista refere que seu projeto ainda nasceu em um tempo de cultura de massas, antes do aparecimento da internet e em que era mais fácil todo o mundo – ou, nesse caso, todo um país – estar ouvindo a mesma música e o mesmo artista.
David observa que hoje, com o público mais dividido por segmentos, idades, classes, etc., e com a internet facilitando a divulgação de conteúdos diferentes, é muito mais difícil ter um fenômeno transversal como foi o Silence Four.
“My Friends”, “Borrow”, e outros hinos
Se você experimentar ouvir “Silence Becomes It” verá que, na verdade, e apesar das influências bem assumidas por David Fonseca, a música não se encontra totalmente “datada” ou colocada em um passado distante. O grupo conseguiu criar um toque de intemporalidade que permite ouvir o disco, executado de forma bastante crua e simplista – deixando toda a dinâmica e energia de seus executantes brilhar bem forte – em nossos dias sem dar a sensação de um disco dos anos 80 ou 90.
Além de “Borrow”, seu primeiro single, merecem destaque os temas “My Friends” e “Angel Song”, bem como “A Little Respect”, um cover dos Erasure em um tema de 1987. Como curiosidade, também da cidade portuguesa de Leiria vem Surma, uma interessante “one woman band” com influência islandesa e um estilo muito próprio que já foi entrevistada aqui no Scream & Yell. Ouça ambos!