entrevista por Thiago Sobrinho
André Travassos é o Moons e vice-versa. Quer dizer… Não mais. Em “Thinking Out Loud“, segundo trabalho da banda formada pelo músico mineiro ex-Câmera e um dos principais nomes da atual cena alternativa de Belo Horizonte, novas peças foram se encaixando ao que era uma onemanband, ou o “trabalho de um homem só” – e que pode ser flagrado em “Songs of Wood & Fire“, o disco de estreia lançado em 2016.
“Aconteceu ao longo de 2017 e teve algumas fases. Nós fizemos shows em vários formatos até chegar nessa formação atual de seis integrantes”, explica André sobre o movimento que fez o Moons tornar-se a banda que acaba de lançar “Thinking Out Loud” pela Balaclava Records, um disco bonito com ecos de Nick Drake, Bob Dylan e, numa referencia mais atual entre outros ícones da folk music, os caras do Fleet Foxes.
Na composição do novo trabalho (e o encarte é bastante explicito quanto à formação mutante da banda: “On this recording Moons were…”), André Travassos contou com Bernardo Bauer (voz e baixo), Digo Leite (voz, gaita, banjo e violão), Felipe D’Angelo (voz, teclado, piano e guitarra), Jennifer Souza (voz e guitarra), Tiago Eiras (bateria e percussão) e Victor Magalhães (teclado, piano e synths) além de Guri Assis, Leonardo Marques (que divide a produção), Rodrigo Garcia, Rodrigo Viana e Thiakov.
Tudo aconteceu em um sítio em Brumadinho, nos arredores de Belo Horizonte. “Foram dias de muita música! Quando não estávamos improvisando ou trabalhando nas músicas na sala que virou nosso estúdio, estávamos cozinhando na beira do fogão a lenha ouvindo música ou tocando violão”, relembra Travassos. “Todo esse ambiente reflete diretamente nas músicas”, garante o músico, que conversou com o Scream & Yell. Confira o bate papo:
Quase dois anos após lançar “Songs of Wood & Fire”, o Moons está de trampo novo: “Thinking Out Loud”. Mas, desta vez, enquanto uma banda e não um projeto solo. Qual foi desse salto de passar de ser apenas você para seis integrantes?
Foi um processo muito natural como tudo que rolou no Moons até então. A princípio, a minha ideia era apenas de gravar um disco e registrar algumas composições que eu tinha em um formato mais orgânico e minimalista do que fizemos durante seis anos no Câmera. Mas ai veio o convite pra fazer um show de lançamento e me empolguei, reuni alguns amigos para me acompanharem e essa turma acabou virando a banda que gravou o “Thinking Out Loud”, que é resultado da consolidação desse encontro.
Como rolou esse movimento? Foi de uma hora pra outra ou as peças foram se aconchegando pouco a pouco?
Ele aconteceu ao longo de 2017 e teve algumas fases. Nós fizemos shows em vários formatos até chegar nessa formação atual de seis integrantes. E foi necessário trocar o tecladista e baterista, pois ambos foram moram em Porto. Mas a química rolou muito fácil, tanto musicalmente quanto pessoalmente. É legal pensar que o Moons foi o catalisador do encontro dessas pessoas que até então eram meros conhecidos. Desde então muitos de nós temos colaborado nos discos uns dos outros, como no próximo disco do Bernardo Bauer, e no disco do Rodrigo Damati, ex-Maglore, que vem ai.
Isso tudo aconteceu enquanto o disco era gestado ou as 10 faixas do álbum são fruto de um trabalho coletivo?
O disco foi todo composto em grupo, basicamente em duas imersões que fizemos em um sítio nos arredores de BH. A primeira imersão era na verdade para ensaiarmos para os shows do “Songs of Wood & Fire”, mas muitas ideias surgiram e pensamos que valia a pena, num futuro, fazer uma segunda para termos mais material para um segundo disco.
Inclusive, a pré-produção do álbum foi feita num sítio em Brumadinho, nos arredores de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Quanto tempo vocês ficaram por lá?
Isso mesmo! Foram duas idas, uma em julho e outra em janeiro, onde ficamos o final de semana todo fazendo jams e lapidando as ideias que já tínhamos!
Como transcorreram os dias nesse sítio ao lado dos outros músicos? Quais reflexos você acredita que esses momentos tiveram no trabalho?
Foram dias de muita música! Quando não estávamos improvisando ou trabalhando nas músicas na sala que virou nosso estúdio, estávamos cozinhando na beira do fogão a lenha ouvindo música ou tocando violão. Tudo isso acompanhado de nossas namoradas/esposas e cachorros em um clima muito família. Todo esse ambiente reflete diretamente nas músicas, é muito diferente de compor um disco na cidade depois de pegar trânsito. Tudo tem sua beleza, mas essa leveza do clima do campo, da vida em comunidade refletiu de uma maneira muito bonita no resultado final. Cada vez que tocamos essas músicas é sempre muito nostálgico lembrar de todos esses bons momentos que passamos lá no sítio!
Embora agora o Moons seja uma banda, ele segue na premissa do primeiro disco de ter o violão como carro chefe das canções. Isso significa que, por ora, as distorções e efeitos de guitarra do Câmera, sua antiga banda, continuarão escanteados do seu processo de composição?
Não existe uma regra, mas creio que sim. O violão é o meu instrumento preferido e melhor amigo.
A faixa “Moons Reprise” conta com um diálogo do filme “Paris, Texas”, do diretor Wim Wenders. Antes de falar sobre essa cena, me diz a importância desse filme para você e como foi que ele entrou na sua vida.
Esse filme é sublime. Ele fala nas entrelinhas o tempo todo. Pelo menos para mim, as principais mensagens do filme não estão nos diálogos e no enredo em si, mas sim nas imagens, nos vazios e nos silêncios. O Matheus Fleming (guitarrista do Câmera) é um grande fã do Wim Wenders. No primeiro disco do Câmera já usávamos um trecho de um filme dele como sampler nos shows. Ai um dia me deparei com esse filme e foi paixão a primeira vista. Toda vez que assisto é uma emoção diferente!
Aliás, a trilha sonora é assinada pelo Ry Cooder. Ela continua sendo uma referência para as composições do Moons?
Ry Cooder é um monstro sagrado da música e vai ser sempre uma inspiração. Ele e o Angelo Badalamenti, por serem grandes compositores de trilhas sonoras, trabalham as músicas de maneira muito imagética e é isso que nos fascina!
E esse diálogo entre os personagens Jane e Travis? Qual o motivo de o incluir no álbum como uma faixa e de que forma ele se conecta com a narrativa de “Thinking Out Loud”?
Essa é uma cena emblemática do filme, quando a Jane finalmente coloca para fora todos os sentimentos que guardou ao longo dos anos que esteve longe do Travis. É de uma sinceridade tocante. É um desabafo que se assemelha com o ato de compor uma canção e colocar para fora sentimentos e sensações. Mas foi também uma forma de homenagear esse filme tão fundamental da minha vida!
Agora com o disco lançado, como tem sido tocar essas músicas em cima do palco? Como essas novas faixas e as do primeiro álbum estão se comportando ao vivo? Elas têm tomado caminhos diferentes das versões que ouvimos em estúdio?
A gente tem buscado trazer o clima do disco para cima do palco, pensando com muito cuidado na ordem das músicas durante o show e até mesmo trazendo algumas músicas do primeiro disco para essa linguagem mais etérea do “Thinking Out Loud”. Essas mudanças foram muito naturais e necessárias para trazer um dinamismo maior para o show! A gente toca o “Thinking Out Loud” quase que na íntegra. Nossos shows tem uma característica bem intimista e contemplativa, assim como os discos. A gente se preocupa muito de levar todo esse clima para o palco, desde a intensidade da banda, da iluminação, etc. São noites de muitos #moments!
– Thiago Sobrinho (fb.trsobrinho) é jornalista do A Tribuna em Vitória, Espírito Santo. A foto que abre o texto é de Yannick Falisse / Divulgação