por Marcelo Costa
“My Cousin Rachel”, de Roger Michell (2017)
Lançado no mercado estrangeiro no meio do ano, e já disponível em canais de aluguel (como o Now) no Brasil, “My Cousin Rachel” é inspirado no livro homônimo de Daphne du Maurier, de 1951, que já havia ganhado uma adaptação em 1952 indicada a quatro Oscars e vertida para o português com o infeliz título de “Eu Te Matarei, Querida!”. Esta segunda versão traz Roger Michell na direção – de filmes médios como “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), “Venus” (2006, que rendeu uma indicação ao Oscar a Peter O’Toole) e “Um Final de Semana em Hyde Park” (2012) – e a estrela Rachel Weisz numa trama apressada pelo roteiro fraco assinado pelo próprio diretor que gira em torno de um rapaz, Philip (Sam Claflin), que desde bebê foi criado (distante de qualquer mulher) pelo primo Ambrose, a quem ele idolatra. Já bem mais velho, Ambrose é obrigado a trocar a nublada Cornualha britânica pela ensolarada Florença devido a uma doença, e na Itália conhece a prima Rachel, e se apaixona. Porém, o cenário logo muda e, cada vez mais doente, Ambrose diz em cartas que acredita estar sendo envenenado pela prima até que morre. Philip quer vingar o primo, mas, tolamente ingênuo, se derrete diante da beleza, charme e esperteza da prima (extremamente moderna para a época vitoriana), que o domina, e essa confusão de sentimentos move a trama mórbida, deixando o espectador dividido entre a ambiguidade dos intentos da prima e os desdobramentos trágicos da história. Entre um e outro surge um filme… médio, mas interessante.
Nota: 6.5
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“Barreiras”, de Laura Schroeder (2017)
Candidato de Luxemburgo ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e produzido por uma equipe majoritariamente feminina, “Barreiras” (“Barrage” no original) é um drama familiar estrelado pela grandiosa Isabelle Huppert (tristemente preterida na categoria de Melhor Atriz do Oscar 2017) ao lado de Lolita Chammah, sua filha na vida real (na quinta colaboração entre as duas). Na trama, após 10 anos sumida, a jovem Catherine (Lolita) retorna a Luxemburgo buscando contato com sua filha, Alba (Themis Pauwels), que durante esse período foi criada pela avó, Elisabeth (Isabelle). Essa tentativa de reaproximação é traumática, já que Catherine deseja muito mais do que pode (em diversas cenas, sua timidez e falta de tato atropela seu desejo materno, como uma garotinha que se tornou mãe sem saber o que é ser mãe). O choque entre mãe, filha e neta é duro e inevitável, mas a direção de Laura Schroeder parece lutar para esvaziar o peso da história auxiliada pelo roteiro esparso assinado pela própria Laura com a romancista Marie Nimier (que fragmenta os personagens dando ao espectador algumas migalhas para que ele visualize internamente o que movimenta essa família) e pela fotografia fugidia de Hélène Louvart. Discreto, “Barreiras” apenas arranha a epiderme da trama que deseja adentrar, mas ainda assim consegue flagrar três mulheres vagando aos trancos e barrancos enquanto se descobrem amarradas numa rotina familiar (e social) que parece insistir em se repetir, e que Catherine deseja encerrar. O final é uma boa surpresa.
Nota: 7
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“O Zoológico de Varsóvia”, de Nick Caro (2017)
O genocídio praticado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial exibe um lado cruel, inexplicável e inaceitável do ser-humano, mas também permite momentos de esperança em pequenas histórias de pessoas que arriscaram suas vidas para salvar as de outras. Vencedor de sete Oscars, “A Lista de Schindler” reconhecia a coragem de um empresário alemão que salvou a vida de mais de mil judeus. Na mesma toada, “O Zoológico de Varsóvia” (“The Zookeeper’s Wife”) lança luz sobre o casal Jan e Antonina Zabinski, que escondeu dezenas de judeus nos porões de sua casa durante a ocupação alemã da capital polonesa, salvando suas vidas. A história só veio à tona em 2007, quando a escritora Diane Ackerman publicou o livro que inspirou o filme, e de lá pra cá o casal ganhou uma mostra permanente em Varsóvia e esta cinebiografia respeitosa com roteiro de Angela Workman, direção da neozelandesa Niki Caro – do belíssimo “Encantadora de Baleias” (2004) – e o brilho de Jessica Chastain no papel de Antonina. Didático (em 1939, um judeu polonês comenta: “Talvez Antonina devesse tocar uma valsa alemã. Estaremos todos aprendendo a marchar com o exército de Hitler em um ano” – e nem ele, nem o mundo, poderia imaginar o quão pior seria), às vezes apressado, mas temível e assustador (e dolorosamente esperançoso), “O Zoológico de Varsóvia” merecia sorte maior nos cinemas do Brasil, tendo pulado as salas e ido direto para DVD e canais de aluguel (como o Now, Telecine e Youtube), mas merece atenção por tudo que representa neste momento conturbado da humanidade. Estaremos vivendo 1939 novamente?
Nota: 7
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– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne