por Marcelo Costa
“Snowden – Herói ou Traidor”, de Oliver Stone (2016)
Oliver Stone é diretor de alguns clássicos do cinema (“Platoon”, de 1986; “Assassinos Por Natureza”, de 1994; além do roteiro de “Scarface”, de 1983, e, zuzu bem, “The Doors”, de 1991), e ainda que tenha feito pouca coisa digna da fama neste século, é sempre um cara de que se espera algo. Já a história de Edward Snowden é um dos grandes marcos modernos do mundo tecnológico e hiper-conectado, algo que o bom documentário vencedor do Oscar “Citizenfour” (2015) não conseguiu explorar a contento, “culpa” da temática técnica que afastou o espectador comum. Visto por estes dois ângulos, “Snowden – Herói ou Traidor” (apenas “Snowden”, no original), dirigido por Stone, tinha tudo para ser um filmão de ação que iria escancarar toda sujeira que o governo norte-americano joga para debaixo do tapete no mundo virtual. Porém, Oliver Stone carrega a trama de passagens incrivelmente piegas quase transformando a história em um grande pastelão. Ok, o roteiro – que peca por ser baseado no livro “Os Arquivos Snowden – A História Secreta do Homem Mais Procurado do Mundo”, de Luke Harding – aprofunda o “personagem” apresentado em “Citizenfour” (com passado, principalmente), mas Stone, por vezes, parece mais preocupado em focar na guerra virtual que os EUA embarcaram do que no personagem que dá nome ao filme. Só isso já bastaria para questionar o equivocado subtítulo nacional de “Herói ou Traidor”, mas quem conhece a carreira de Stone e assistiu a “Ao Sul da Fronteira” (2009) sabe, de antemão, que, para Oliver Stone, Snowden é um herói. Porém, ao melodramatizar em excesso o personagem, Stone perdeu a mão, o filme e uma grande história. Snowden (e a História) merecia(m) mais.
Nota: 1
“13 Minutos”, de Oliver Hirschbiegel (2015)
Em 08/11/1923, Adolf Hitler tentou aplicar um golpe de Estado contra o governo da Baviera. O golpe falhou, Hitler foi condenado (num julgamento que o favoreceu permitindo a ele amplificar suas ideias) a cinco anos de prisão por conspiração e traição, dos quais cumpriu apenas nove meses e, em cárcere, escreveu o manifesto “Mein Kampf”. A data de 08/11 tornou-se sagrada para Hitler, que todo ano voltava a Munique para comemorar o fracasso do golpe (que abriu caminho para o avanço do partido) na mesma cervejaria em que o ato foi planejado, a Bürgerbräukeller. Na comemoração de 08/11/1939, o partido sofreu um atentado que vitimou oito pessoas e deixou outras 69 feridas. Hitler, porém, saiu ileso: ele havia deixado o local 13 minutos antes. “13 Minutos” (“Elser”, no original) não foca no atentado em si (o título nacional é infeliz), mas na interessante figura de Johann Georg Elser, buscando mostrar como sua visão apolítica se transformou com o domínio (e os atos cruéis do governo) nazista a ponto dele planejar e executar o atentado. Ainda que tenha falhado na tentativa, Elser se transformou num figura marcante para o regime, incomodando Hitler a ponto de, às vésperas de sua queda, o ditador exigir seu assassinato (já no campo de concentração de Dachau). “13 Minutos” é ok, mas (poderia ser melhor e) não tem a força de “A Queda – As Últimas Horas de Hitler” (2004), também de Oliver. Seu maior mérito, no entanto, é trazer a história à tona mostrando que, muitas vezes, um homem solitário pode mudar o curso da história – ou, ao menos, incomodar ditadores.
Nota: 5
“Mulheres do Século 20”, de Mike Mills (2016)
Uma perolazinha quase esquecida na categoria de Melhor Roteiro Original do Oscar deste ano, “Mulheres do Século 20” (“20th Century Women”, 2016), de Mike Mills (não, não é o baixista do R.E.M., mas sim o diretor e roteirista do ótimo “Beginners”, de 2010), que chegou aos cinemas do Brasil apenas no final de março, é um filme primo de “Capitão Fantástico” e “Toni Erdmann” em temas, ainda que menos exótico e surreal do que os dois. Ou seja, é mais um filme a discutir família, neste caso com um delicado viés feminista. Baseado na infância de Mills, “Mulheres do Século 20” flagra uma mãe solteira (a excelente Annette Bening) de Santa Barbara, na Califórnia, em 1979, buscando a melhor maneira de criar seu filho adolescente. Proprietária de uma pensão, ela recruta seus dois inquilinos (uma fotógrafa punk feminista interpretada com punch por Greta “Frances Há” Gerwig e um mecânico e artista com Billy “Almost Famous” Crudup no papel) mais a melhor amiga de seu filho (Elle Fanning) para ajuda-la na missão de direcionar o moleque. O roteiro delicado, didático e metódico de Mills é um dos pontos altos junto com a poderosa trilha sonora punk com Black Flag, Raincoats, Clash, Talking Heads, Suicide, Siouxsie and the Banshees, The Germs e… Neu! (a cena em que mãe e o mecânico ouvem Black Fag é uma dos momentos musicais mais bacanas do cinema em 2016), o discurso de Jimmy Carter sobre a Crise de Confiança, as discussões feministas e a sensação de deixar de fazer parte do mundo num filme que Mills fez para agradecer por tudo que as mulheres do século passado ensinaram a ele. Comovente.
Nota: 8
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
Adorei Mulheres do Século 20!