por Leonardo Vinhas
A “barba robusta” e o “cabelo vagabundo” podem assustar – até te fazer pensar que o rapaz que os ostenta faz uma música velha, embolorada. Mas não: o capixaba André Prando se inspira no passado, sim, mas jamais se referencia diretamente nele. Talvez uma ou outra faixa de seu EP de estreia, “Vão” (2014), tenha uma sonoridade saudosista. Porém, o álbum “Estranho Sutil” (2015) mostra a individualidade e a maturidade das suas propostas.
“Estranho Sutil” pode ser baixado gratuitamente em http://andreprando.com.br e é um disco arejado, intenso, e que traz apelo pop sem cheiro de mofo. Nele há letras que funcionam tanto como histórias sobre personagens como comentários sociais: “Amiga Vagabunda”, por exemplo, trata com rara inteligência e sensibilidade aqueles que não querem reproduzir a tal “correria” das grandes cidades. Já “O Circo dos Palhaços Dixavadamente Imorais” esculacha a exigência por felicidade constante. “Alto Lá”, “Inverso Ano Luz” e “Devaneio” têm psicodelia, sim, mas não o escapismo que hoje é tão associado ao conceito. Tem mais a ver com a maneira de organizar e apresentar as ideias, uma contemplação mais alucinada do que há de extraordinário no cotidiano.
A base tudo isso, reconhecidamente, é a influência que gente como Zé Ramalho, Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Alceu Valença, Belchior e outros tantos tiveram na cabeça de um Prando pós-adolescente, e que continuam a exercer impacto no adulto de 26 anos. Sampaio em especial: André chegou a fazer um minidocumentário entrevistando Bicão, amigo e espécie de “curador não oficial” do legado do ex-parceiro de Raul Seixas: ”Bicão – A Última Vez que Você me Filmou” (disponível no Youtube). Ah, sim: “Estranho Sutil” se encerra com “Última Esperança”, tema até então inédito de Sampaio.
André Prando tem público considerável em seu estado, e uma audiência igualmente impressionante – para um músico independente – nos seus vídeos do Youtube. Não é surpresa, portanto, que tenha se tornado um dos primeiros nomes que salta à mente quando se fala do cenário musical capixaba. O fato de esse cenário ser praticamente ignorado no resto do Brasil, a singularidade e o apelo pop das canções de Prando, seus próximos trabalhos e até uma visão mais peculiar do conceito de “psicodelia” são os temas dessa entrevista, concluída via Skype em janeiro de 2017.
Antes dessa sessão, algumas conversas foram feitas, como parte do processo de feitura do álbum “Faixa Seis”, compilação de raridades de artistas independentes a ser lançado pelo selo Scream & Yell em 15 de fevereiro. Prando contribuiu com “Em Chamas no Chão”, uma das preferidas do publico em seus shows recentes. Parte dessas conversas contribuiu para a entrevista abaixo. Mas antes dela, ouça em primeira mão a versão de estúdio de “Em Chamas no Chão”.
“Estranho Sutil” é claramente um álbum, e não apenas um conjunto de canções. Mais ainda, um álbum cuja música “trai” a estética da capa e seu próprio visual. O ouvinte vai esperando essa nova psicodelia e encontra outra unidade, mais cancioneira, mais pop. Como você chegou a isso?
Eu fiz esse álbum sem saber que seria um álbum (risos). Eu tinha uma banda, a Mendigos Cientistas, e conforme ela foi se desfazendo eu fui pensando no álbum solo. As músicas foram surgindo uma atrás da outra, numa sequência: vieram as músicas do “Estranho Sutil” e algumas outras, das quais ainda não aprendi a gostar, ou que acho que ainda não terminei. As exceções são “Alto Lá”, que compus no processo de gravação do disco, e “Última Esperança” e “Vestido Cor Maçã”, que não são minhas (nota: respectivamente, são de Sergio Sampaio e de Augusto Debanné). Eu compus todas as outras numa leva só, e elas fazem parte do meu universo de descobertas de pós-adolescente: os escritores russos, algumas coisas específicas de filosofia e religião, as primeiras experiências com ácido. Eu tinha uns 18, 19 anos. Percebi então na minha poesia um jeito torto de abordar alguns temas. Vi que se eu ia falar de um relacionamento, seria, por exemplo, da perspectiva boa de algo ruim que aconteceu. Vi que meu norte era sempre mostrar o outro lado da moeda. Eu também estava descobrindo o Sergio Sampaio e saquei que isso era um pouco da poesia dele. O ser marginal… Não que eu soubesse o que é ser marginal naquela época, mas o fato é que comecei a me identificar com essa beleza do feio. Virou um conceito, e trabalhei o disco em cima dessa abordagem. A expressão “estranho sutil” vem de uma canção do EP “Vão”, que é “Bem ou Mal”. Nessa música, eu tô falando do dia em que compus “Inverso Ano Luz”, que é a primeira música do “Estranho Sutil”. A expressão caracteriza bem essa abordagem que eu aprecio, da beleza do feio.
Por que a Mendigos Cientistas acabou?
Era uma banda de funk rock, com letras bem irônicas, escrachadas. Falávamos de coisas sérias com frases toscas. Não chegamos a gravar nada a não ser umas live sessions em estúdio. A gente era muito jovem, os caras estavam numa vibe de curtir a banda, mas todos tinham seus trampos… Eu estava na universidade, cursava Desenho Industrial, mas tinha decidido sair desse curso e me jogar na música. Fiz a opção por esse curso. Parei tudo na minha vida para me dedicar à música, entendi o quanto aquele chamado era forte em mim – o momento de descoberta de que eu tava falando. E foi então a época em que comecei a me apresentar na noite, ser mais profissional, e os caras não estavam nessa pira. Estavam na pira do cidadão comum, não estavam se jogando. Sem zica nenhuma, me afastei deles. A banda foi meio morrendo por causa disso.
Você assina como artista solo, mas a banda que toca contigo já está junta há um tempo. O quanto eles participam das decisões criativas?
Eu comecei meu trabalho solo porque a minha banda tinha esse discurso de ironia, mas eu queria falar de coisa séria, tocar as pessoas, passar mensagens, conversar. Comecei o processo de compor tudo sozinho, e vinha voz, violão e letra, tudo junto. É assim que gosto de compor, escrevendo e fazendo a melodia. Quando eu chego com a música para trabalhar com a banda, ela já tem um mapa, uma estética, muito prontos. Mas a partir daí deixo todos bem à vontade para criar algo deles, com o timbre deles, a cara deles. É uma segunda parte do arranjo, digamos assim, e eles também atuam no processo de gravação. O Henrique Paoli (baterista) e o Bruno Massa (baixista) estão comigo desde o início. Minha primeira apresentação foi com outra galera – no festival Prata da Casa, da Rádio Universitária ES. Mas foi só uma apresentação. Depois vieram o Bruno e o Paoli, e passaram alguns guitarristas. Hoje tô com o PH na guitarra.
Você falou que quer passar mensagens. Tem nelas uma coisa do cotidiano, de conseguir sair do universo escapista ou romântico. A maneira como você apresenta suas letras mostra a preocupação de ser entendido, e por mais metafísico que seja um tema ou outro, há uma coisa mais Belchior, “minha alucinação é suportar o dia a dia”, sabe? Então, a pergunta é se a tua vida é o ponto de partida, mesmo que como observador, para suas canções.
Você não falou isso, mas já é bom dizer que não são músicas autobiográficas. Podemos dizer que são experiências que observo ou imagino. Uma coisa que admiro fortemente na música do Belchior é que são coisas muito próximas, banais – no sentido que todo mundo tá ali, [representado] naquela frase. Era outra preocupação que o Raul [Seixas] tinha, de fazer músicas que a empregada pudesse entender. É o lixo dos quintais, e tem que botar pra fora. Isso são coisas que eu absorvi, e que me fizeram mudar. Cresci numa escola adventista, e passei minha adolescência inteira sendo podado. Era limitado, não podia ouvir músicas mundanas, ler livros mundanos. Não era religioso, mas estudava ali e tinha essa limitação. Quando eu comecei a ter contato com contracultura, me chamou atenção essa coisa “pé na porta”, de abrir a mente. A capa do meu disco diz isso, as canções também, ainda que de uma forma subjetiva.
Todos os nomes que citamos em nossas conversas – Sergio Sampaio, Raul Seixas, Belchior – tiveram seu auge antes de você nascer. Falando do Sampaio em especial: eu queria saber em que momento essa relação com a música dele se tornou tão importante a ponto de você resgatar canção inédita, fazer documentário sobre o parceiro do cara…
Foi uma descoberta tardia, e começa com Raul Seixas. O ambiente na minha casa não era muito artístico, muito menos musical. Minha mãe é artesã, faz bonecas de pano. Mas eu não enxergava isso como arte, não via paralelo entre artesã e artista. Eu não fazia essa ligação entre artesã e o cara que estava na televisão ou no rádio. Hoje eu talvez faça essa ligação, mas como criança não. E televisão era algo muito distante, rádio também. Até porque na minha educação não se falava de artistas originalmente capixabas, e eu, muito ingênuo, não achava que pudesse ter artistas na minha cidade. Meu primeiro contato foi com a música, com o poder dela, foi com Raul: a barba do cara, o visual, as letras… Não entendia nada, mas uma criança de cinco anos cantando “Mosca na Sopa”, po! É muito lúdico, né? Veio a internet, comecei a fazer muito downloads de discos e então voltei ao Raul, fui escutar com atenção mesmo. Tinha o “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”, disco de 1971 que tinha Raul, Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada. As músicas que eu mais curtia eram as parcerias de Raul Seixas com esse tal de Sergio Sampaio. Fui pesquisar sobre ele, e vi que já conhecia a obra mais famosa do cara sem saber que era do cara (risos), já que “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua” tá no inconsciente do povo brasileiro. Eu pirei que tivesse um capixaba na obra do Raul, e fui atrás da própria obra dele, do Sergio. Aí rolou essa identificação com a poesia dele. Era aquela época dos primeiros relacionamentos também, e a música do Sergio é das melhores para uma fossa (risos), ele usa palavras únicas… Perto de 2012, eu descobri que tinha o Festival Sergio Sampaio em Vitória. As pessoas prestavam homenagem a ele, e nessa época eu já estava botando meu trabalho na praça. Fui procurar a produção do festival, e eles me disseram que já tinham ouvido falar de mim, sabiam dos meus vídeos no Youtube – que eu tirei do ar – tocando Sergio Sampaio… Me convidaram para tocar duas músicas, e nesse primeiro ano eu já tinha descoberto “Última Esperança”. Não entendia porque ninguém cantava, porque ela não era sucesso, e só quando li a biografia do Sergio (“Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, de Rodrigo Moreira) vi que o timing dela não foi bom, porque ela foi lançada enquanto as pessoas ainda estavam muito sensibilizadas pelo incêndio no Edifício Joelma. Mas fui lá e toquei ela e “Tem que Acontecer”. A partir daí começaram a me chamar para as outras edições do festivais – em 2014, passei a integrar a curadoria, a produzir o show. Hoje, para além desse resgate para dentro do meu trabalho, me envolvo com coisas que dizem respeito a obra dele – o festival, documentários universitários sobre o Sergio… Acabou que virei uma referência aqui na cidade, e acho massa demais! Tem muita gente que passou a conhecer Sergio Sampaio pela minha obra e vice-versa. Só consigo ficar feliz com isso.
O Sergio era capixaba, e você mesmo, capixaba também, não o conhecia. O Espírito Santo é um dos muitos Estados do Brasil que tem uma produção cultural muito intensa e variada, e que mesmo assim permanece praticamente desconhecida no resto do país. O que é curioso, já que você, por exemplo, consegue viver exclusivamente do seu trabalho com a música, algo que não é possível para artistas em outras cenas mais comentadas. De qualquer forma, de onde você acha que vem esse desconhecimento, ou ignorância mesmo, em relação à música daí?
Acho que ninguém sabe explicar muito bem. Eu sinto que essa falta de identificação da própria cultura que o capixaba tem – e tem mesmo – é provavelmente por uma herança local que é não ter herança, de não procurar saber quem são os artistas de sua terra. Estou falando da massa, que de forma geral não consome cultura. E é uma cidade pequena – Vitória é uma capital com pouco mais de 300 mil habitantes. Isso de desmistificar o artista e mostrar que ele é um vizinho de porta é uma coisa muito recente aqui. Há uma construção de uma cena independente – que é como andam as coisas de uma forma geral. São coletivos, umas casas de shows, nichos pequenos. Não sei em que prazo isso vai se tornar algo mais respeitável a ponto de extrapolar as fronteiras do Estado. E sobre viver da própria música: a gente tem uma lenda aqui que é o [Fábio] Mozine, da Laja Records. Ele vive bem. Ele gosta de ter a vida em que cuida do selo dele, e ao mesmo tempo é capaz de parar para tomar uma cerveja no meio da tarde. Ele se limita, mas é o porte que ele escolheu ter. Sei que São Paulo tem muito cara que tem que trabalhar com outras coisas, porque a cidade é muito 220. Aqui já tem mais artistas que conseguem viver da própria arte.
Como você consegue manter a agenda cheia? São shows com banda, solo, como convidado…
Isso faz com que eu me sinta em movimento, me sinta atuante e atualizado. Por exemplo: há pouco lancei o vídeo “Estranho Sutil Ao Vivo na UFES”, que foi inesperado para muita gente. Eu também sou um cara que se convida para participar em muita coisa. Tá tendo um evento no Expuirgação, um coletivo aqui no Centro de Vitória que produziu o clipe de “Última Esperança”. Eles me convidaram para apresentar uma websérie sobre a parada, e também ser VJ lá. Tem uma galera que fantasia que sou famoso e que estou ganhando rios de dinheiro (risos), aquela fantasia do artista. Mas as pessoas têm entrado comigo como uma referência de artista capixaba, por ter certo reconhecimento fora do Estado, ter tocado no [festival] MADA, ganhado o festival Show Livre Day (nota: ambos em 2016). Mas não sou só eu. Tem o My Magic Glowing Lens, que tocou em mais festivais que eu e faz um som psicodélico bem massa; tem o Muddy Brothers também, que também já rodaram bastante. Eu diria que sou apenas um artista fazendo meu trabalho. Tô na praça. Não é que eu esteja mais destacado. Eu simplesmente estou fazendo.
O público de hoje em dia tem um déficit de atenção muito grande – vídeo de Youtube com sete minutos é um épico (risos), o espectador quer três minutos e olhe lá. Então, o que você espera colocando o show inteiro online?
Primeiramente é o recorte. Parte daí. O show foi um projeto da UFES. Eu estava para me formar, já tinha apresentado o TCC e só faltava colar grau. Mas ainda era um aluno. Então um professor de filosofia da arte da UFES foi ver um show meu no formato voz e violão, e logo depois me convidou para fazer um Música na UFES, um evento no qual só professor se apresentava. Topei na hora, e aproveitei que o show seria em estúdio – um estúdio foda da UFES, com uma puta qualidade – para propor de gravar a apresentação inteira – áudio e vídeo. E nasceu assim. Pintou então a ideia de transformar o estúdio num ambiente de disco voador, para que todo mundo tivesse uma experiência coletiva de audição do disco tal qual ele é. Daí a coisa da “seita”, todo mundo vestido de branco, a banda em tons preto-e-branco aquela coisa esquisita assim… Depois de pronto, superou as expectativas. O produtor que conduziu a mesa me convidou para mixar com ele, e estava ficando tudo muito bom, muito bonito. Ele sugeriu que eu disponibilizasse, e foi vindo essa ideia… Calhou que o show foi no aniversário de um ano do disco, e estamos lançando quase no aniversário de dois anos. É uma celebração da experiência que foi o show. Eu espero que as pessoas que acompanham o trabalho gostem dele, e as que não conhecem possam se interessar. Mesmo que esse show não transpareça o que é o meu show de verdade – que é um lance muito mais quente, com cambalhota, umas coisas loucas – esse é um presente. E nos próximos dias o show vai pros streamings como álbum ao vivo. Então é um presente mesmo.
Já são dois anos trabalhando esse repertório. Sei que você gostaria de levar esse show para lugares onde não esteve ainda, mas não acha que o repertório, por melhor que seja, pode cansar?
É, eu sinto. Inclusive não sei se fazer mais de um show por mês em Vitória é saudável para mim. Embora tenha um público que me siga, e que é cada vez maior, a gente vive numa era da tecnologia da informação é muito rápida, e dois anos de um disco já deu, o próximo tem que vir. Além dessa canção que vai sair no “Faixa Seis”, tem umas faixas novas que compus e já venho trabalhando nelas, tenho um pré-projeto para gravar o disco, que talvez saia sem verba, com a ajuda de uns parceiros. “Em Chamas no Chão” já traz uma coisa diferente das outras composições, uma metamorfose na forma de escrever e na estética. As outras canções também têm isso. Não uma coisa de amadurecimento, mas de mudança constante mesmo. Sem, como diria o Tagore, mudar absolutamente tudo. Existe uma continuação.
Falemos da sua sonoridade uma vez mais. Apesar de todas as referências setentistas que falamos agora, sua música não soa datada. Os timbres, os arranjos, são bem contemporâneos. Onde estão teus pontos de apoio mais modernos?
Sabe o que é doido? Essas músicas novas que a gente tem produzido têm virado demos. Somos eu e o Paoli, meu parceiraço – compadre de casamento, vizinho –, produzindo juntos. Ele sempre me diz que as canções soam como eu mesmo. Eu não uso referências em forma de espelho. Sei que é comum um produtor pedir uns dois ou três discos de referências, de como os timbres devem soar. Mas quando estou compondo, é muito intuitivo, é como que quero que soe. Mais ou menos no processo final a gente começa a identificar: “ah, parece Lenny Kravitz, ou Mutantes, ou Raul”… Mesmo assim, parece um som muito meu, e tenho dificuldade de rotular. Enfim, eu gosto muito do que O Terno faz. Muito, muito, muito mesmo. Eu me considero um fã do tipo “fã mesmo” (risos), leio entrevistas, acompanho tudo. Acho os caras muito lúcidos. Gosto pra caralhos dos Baggios. Tem o Kula Shaker, de quem gosto muito. Eles misturam a música oriental, mantas, com rock. O Beck fez um disco lindaço: um cara que passou pelo pop, por beats eletrônicos, faz um disco todo bonito, cheio de violão [“Morning Phase”, de 2014]… Tem a banda do Sean Lennon com a esposa [Charlotte Kemp Muhl], The Ghost of a Saber Tooth Tiger (nota: ou simplesmente The GOASTT), bem autêntico, psicodélico.
A psicodelia é um elemento presente na música pop hoje, e amplamente citada. Você vê seu disco como psicodélico?
Tem um medo que eu não tenho: passar pelo pop. Aprecio muito como o Zé Ramalho é popular e ninguém entende nada do que ele fala. O cara é psicodélico na poética, e o cara é tão popular, bicho! Os discos dele ao longo das décadas têm esse caráter, não é só o “Paebirú”. Porque o “Paêbirú” é extremamente psicodélico, mas os outros trabalham a forma como aprecio a psicodelia, que é a introdução ao extraordinário, a tornar possível o que não é possível, abrir o pineal mesmo. Aí está o psicodélico. Não dá para resumir ao noise. Pelo menos não é o meu caminho. Prefiro caminhar nessa ideia da descoberta, do novo. Psicodélico nesse sentido. “Estampas de Eucalol” do Xangai tem uma psicodelia na letra: o cara viajando nas histórias, olhando cartas, as estampas eucalol! Isso é fantástico! É o regional lidando com lúdico de uma forma bonita. Então, esse flerte com o popular, mas que ao mesmo tempo seja um som que pede uma pausa para entender, para refletir, esse é o meu barato.
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell. A foto que abre o texto é de Luara Monteiro / Divulgação.
Ouvi as músicas do Estranho Sutil achei bem mais do mesmo. Arranjos óbvios, letras insossas, aquela mesmice chata.
O que salva é o visual do cara, que é maneiro, bem na moda hipster barba, cabelo, óculos, pose, tudo em cima. Fará sucesso certamente agora em que a demanda pelo visual está em alta. Espere shows típicos de nossa modernidade apática com público mexendo no celular, tirando selfies com biquinhos e esperando o crush, embalados na cena.
geração artistas padrão the voice