por Marcelo Costa
“Eight Days a Week – The Touring Years”, de Ron Howard (2016)
Não há nenhuma grande novidade nos 97 minutos de “Eight Days a Week – The Touring Years”, mas o recorte (simplista, porém até então inédito no caso de John, Paul, George e Ringo) que flagra os anos de estrada dos quatro fabulosos de Liverpool permite recontar de forma exemplar a história dos Beatles no palco (das oito horas por noite tocando num puteiro em Hamburgo até o marcante último show no telhado da Apple Studios, em Londres, um final bonito e melancólico em seu simbolismo para o fim de uma década trágica e histórica para a cultura pop) tanto quanto estampar o amadurecimento (forçado) dos quatro músicos e, ainda, emocionar ao colher depoimentos de personagens que acompanharam os shows na época, gente como Whoopi Goldberg, que os viu no Shea Stadium (“De repente, eu me sentia como se pudesse tê-los como amigos, e eu sou negra! As pessoas me diziam, você pensa que pode ser branca? Mas eu nunca pensava neles como se fossem uns caras brancos, eles eram os Beatles. Eles não tinham cor. Eles eram extraordinários”), Sigourney Weaver, que os assistiu em Los Angeles, no Hollywood Bowl (“Escolhi bem o vestido porque, certamente, eles iriam me notar no meio de 15 mil garotas”, ela diz, rindo), e a historiadora Kitty Oliver, presente no show de Jacksonville, em que os Beatles disseram que só tocariam se não houvesse segregação racial: “Foi o primeiro concerto em que fui sozinha. Havia todas aquelas pessoas brancas ao meu redor, mas me lembro de estarmos todos juntos, de pé, e eu gritava tão alto e cantava junto com todos. Foi a primeira vez em que percebi que era possível pessoas diferentes estarem juntas, reunidas, e que, enfim, por um momento as diferenças pudessem desaparecer”. Com participação efetiva de Paul e Ringo, direção correta de Ron Howard e boas entrevistas recuperadas de John e George, “Eight Days a Week – The Touring Years” é a história clássica de ascensão e queda de uma banda de rock’n’roll focada no stress da vida em turnê (shows, viagens, entrevistas, fãs), mas não de uma banda qualquer, e sim da mais importante de todas.
“Supersonic”, de Mat Whitecross (2016)
Tem gente que duvida da força do destino, mas no começo dos anos 90, um novato Oasis tocava direto e ninguém prestava atenção. “Nós não tivemos um único parágrafo escrito sobre nós no começo, nunca. Ninguém nunca nem falou que éramos uma merda. Éramos total e completamente ignorados”, relembra Liam Gallagher. Dai calhou deles serem convidados para tocar em Glasgow acompanhando uma banda com quem dividiam uma sala de ensaios, e dentre as sete pessoas presentes no tal show estava Alan McGee, do mítico selo Creation, que os ofereceu um contrato e a história se fez. Bem, não foi tão simples assim, e “Supersonic”, documentário de Mat Whitecross que flagra os primeiros anos de fama da banda, tenta juntar os cacos que os conturbados irmãos Liam e Noel deixaram pelo caminho. Não espere, no entanto, um documentário completista, com imagens dos entrevistados numa sala repassando a história de uma das bandas mais importantes dos anos 90. Não é por ai. Whitecross segue na via contrária e os irmãos apenas narram em off as aventuras e desventuras da banda enquanto imagens de época ilustram a tela numa opção que soa tão infeliz quanto o recorte, que busca mostrar como cinco moleques pobretões e toscos conseguiram levar uma banda que ensaiava num quartinho a, cinco anos depois, se apresentar para 250 mil pessoas em dois dias (sendo que 2,5 milhões de pessoas tentaram comprar ingressos) – sem deixarem de serem moleques e toscos. A linha do roteiro é tentar entender o que fez do Oasis uma das bandas mais amadas do Britpop e ao menos três integrantes reforçam que o que os fez grandes também acabou com a banda: a complexa química entre os irmãos Liam e Noel. Umbiguista ao extremo, “Supersonic” foca apenas nos dois primeiros discos da banda (“Definitely Maybe”, de 1994; e “What’s the Story) Morning Glory?”, de 1995), não situa o período que marcou o nascimento do Britpop (e praticamente o fim do grunge) e muito menos narra os quebra-paus com outras bandas (capítulo imperdível de “No Distance Left To Run”, documentário excelente de 2010 sobre o Blur). É como se o Oasis vivesse sozinho no mundo pop entre 1991/1996. Vale como objeto para fã e traz diversos bons momentos (90% deles protagonizados por Noel), mas oferece menos do que se espera de um documentário sobre um dos maiores bandas inglesas dos últimos 30 anos.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
pela crítica já sei que o doc sobre o Oasis é mais para fãs, do que realmente um doc para quem curte documentários de rock.
os fãs de Oasis vão adorar, e achá-lo o melhor doc do mundo.
sou fã, mas sou imparcial, então quando assistir acho que sentirei desconforto por abranger só os primeiros anos da banda.