por Adriano Mello Costa
“Bucky Barnes: O Soldado Invernal – O Homem Na Muralha”, de Ales Kot e Marco Rudy (Panini) Durante os eventos de “Pecado Original”, da Marvel, descobriu-se que Nick Fury na verdade tinha um serviço mais secreto ainda que todos aqueles já apresentados outrora. Ele era uma espécie de defensor da terra contra potenciais ameaças alienígenas que nunca foram apresentadas a ninguém. Depois do que ocorreu nessa boa saga, o encargo de ser essa primeira e solitária linha de defesa caiu nos ombros de Bucky Barnes, o antigo parceiro do Capitão América, mais conhecido ultimamente como Soldado Invernal. Sendo figura importante da editora nos últimos anos não somente nos quadrinhos, mas nos dois primeiros filmes do sentinela da liberdade, o personagem anda em alta, o que justifica uma revista solo e sua publicação aqui no Brasil. Com 116 páginas e capa cartonada, a Panini Comics lançou recentemente o encadernado “Bucky Barnes: O Soldado Invernal – O Homem Na Muralha”, onde mostra as cinco primeiras edições dessa nova série publicada nos EUA entre dezembro de 2014 e abril de 2015. Com roteiro de Ales Kot e arte de Marco Rudy, “O Homem Na Muralha” apresenta uma viagem entre mundos, tempo e espaço, com participações especiais de Daisy Johnson (Tremor), Namor, Lóki e o vilão Ossos Cruzados, além de um Nick Fury do futuro. A trama consiste em Bucky buscando a explicação para um atentado que sofreu e, durante essa busca, acaba descobrindo que o cenário é bem mais amplo do que esperava, acarretando inclusive em danos estruturais gravíssimos em um preocupante futuro. O que de início aparece como uma premissa interessante e com várias potencialidades acaba se perdendo completamente durante as edições em um roteiro confuso e uma arte pretensiosa que não contribui em nada para que a trama avance, deixando o resultado final bem abaixo do esperado.
Nota: 4
“Bizarro”, de Heath Corson e Gustavo Duarte (Panini)
Vez ou outra algum personagem passa por uma reviravolta e ganha nova roupagem, ainda que preservados os pontos principais. Foi o que aconteceu com o Bizarro nas mãos do roteirista Heath Corson e do artista brasileiro Gustavo Duarte (de “Monstros” e “Chico Bento: Pavor Espaciar”). Essa fase de um dos vilões mais conhecidos do Superman feita pela DC com grande liberdade criativa aos autores chega ao Brasil pelas mãos da Panini Comics em um encadernado de 148 páginas. Estão reunidas as edições 1 a 6 publicadas originalmente nos EUA entre julho de 2015 e janeiro de 2016, além de uma breve edição especial. Com boa dose de extras e “participações especiais” de artistas do quilate de Bill Sienkiewicz, Kelley Jones, Tim Sale, Rafael Albuquerque, Fábio Moon e Gabriel Bá, a HQ é diversão na certa. Bizarro é uma espécie de Superman ao contrário, que fala de modo estranho, expõe seus pensamentos de modo invertido e toma ações pelo avesso do que nós entendemos como corretas, contudo tem basicamente a mesma força e poderes do homem de aço. Na trama concebida por Heath Corson, ele só deseja ser um herói, só que toda vez que entra em ação causa mais estrago do que benefícios e isso deixa cada vez mais preocupados os cidadãos e as autoridades de Metrópolis. É quando entra em cena o fotógrafo Jimmy Olsen, que resolve retirar esse bondoso atrapalhado das ruas entrando em uma road trip pelo Canadá, algo como os “Estados Unidos Bizarro”. Os interesses de Jimmy Olsen são outros, mas durante a jornada que reúne várias provações e momentos engraçadíssimos, as coisas mudam. A arte de Gustavo Duarte é eficientíssima, espalhando humor pelas páginas na mesma quantidade que arremessa as já tradicionais referências no meio do caminho, uma das características do seu trabalho. “Bizarro” é para dar uma folga no dia a dia, esquecer um pouco os problemas e soltar algumas risadas descompromissadas.
Nota: 7,5
“Coltrane”, Paolo Parisi (Editora Veneta)
John William Coltrane é um dos grandes músicos de jazz de todos os tempos. Talvez, o maior sax tenor que já existiu. Falecido em 17 de julho de 1967 aos 40 anos, Coltrane deixou no meio de uma extensa discografia verdadeiras obras-primas como os álbuns “Giant Steps” (1960) e “A Love Supreme” (1965), além de fazer parte da magnífica banda que tocou no clássico “Kind Of Blue” (1958), de Miles Davis. O artista italiano Paolo Parisi resolveu homenagear o músico e contar um pouco da sua história usando os quadrinhos, o que resultou na graphic novel “Coltrane”, publicada originalmente em 2009 e com edição nacional a partir do início de 2016 pelas mãos da Editora Veneta. Com 128 páginas, em preto e branco, com um traço simples e discreto e uma capa muito bonita, o álbum narra de modo aleatório fatos da vida do músico que envolvem tanto a infância quanto o final da vida e abrangem temas como racismo, arte, amizade, drogas e paixões. As histórias são divididas em quatro partes: Acknowledgement, Resolution, Pursuance e Psalm, justamente o nome das faixas do disco “A Love Supreme”. Essa montagem sem ordem cronológica é, além de uma deferência ao registro, uma correlação com o experimentalismo que guiou boa parte da carreira do saxofonista, e serve também como uma sucinta história das décadas em que se ambienta. A obra concebida por Paolo Parisi funciona não somente para aqueles que conhecem a música de Coltrane, mas também como porta de entrada para sua vida, o que acaba sendo mais interessante ainda. De personalidade introspectiva e complexa, com uma vida curta repleta de abalos e muito talento e criatividade, o músico é matéria-prima que transborda para esse tipo de empreitada. Certa vez, o crítico norte-americano Nat Hentoff disse que a única coisa que se podia esperar de Coltrane era o inesperado. Nada mais justo. O álbum de Paolo Parisi é justamente uma passagem para esse inesperado. Curta a viagem e depois escute a música.
Nota: 8,5
– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop