Três HQs: O Outro Cão, Constantine, Fungos

por Adriano Mello Costa

“O Outro Cão que Guarda As Estrelas”, Takashi Murakami (JBC Editora)
Em 2008, o artista japonês Takashi Murakami lançou o mangá “O Cão Que Guarda Estrelas” – a edição nacional foi lançada em 2014. A obra foi um sucesso de crítica e público, chegando até a virar filme, diga-se de passagem, com todo o mérito. Uma história emocionante e repleta de significados. Devido ao sucesso o autor se aventurou se não por uma continuação, mas em uma nova trama correlacionada diretamente a primeira. “O Outro Cão que Guarda As Estrelas” (“Zoku Hoshi Namoru Inu”, no original) chegou às livrarias japonesas em 2011 e em 2015 ganhou edição nacional pela mesma JBC Editora com 176 páginas e tradução de Denis Kei Kimura. O foco agora é o que aconteceu com o outro cachorrinho que foi abandonado junto com Happy, o protagonista anterior. Ele acaba sendo recolhido por uma senhora reclamona e essa parceria mudará a vida de ambos. “O Outro Cão que Guarda As Estrelas” também apresenta outros personagens secundários oriundos de “O Cão Que Guardas Estrelas” e relaciona as duas coisas. Mesmo sendo algo que pode ser lido separadamente, esse novo trabalho de Takashi Murakami só existe em função do primeiro e utiliza das mesmas sensações e toques para recriar atmosfera e ambiente. Sensível e delicado, o livro exibe bons momentos, porém, em uma análise fria, é apenas mais do mesmo, novas variações sobre o mesmo tema, que buscam esticar uma obra de sucesso retirando ainda mais água de um poço que já parecia ter secado. É evidente que boa parte dos fãs deve discordar disso e querer sempre mais, porém, se isso é uma decisão válida artisticamente é complicado se afirmar. Seria interessante ver Takashi Murakami deixando o seu maior sucesso em paz enquanto busca novas histórias com o toque lírico que possui.

Nota: 6

“Constantine: Hellblazer – Fantasmas do Passado”, Ming Doyle, James Tynion IV, Riley Rossmo e Vanesa Del Rey (Panini Comics)
John Constantine é uma das grandes criações do selo Vertigo, da DC Comics. Oriundo da cabeça de Alan Moore na metade dos anos 80 é o exemplo absoluto do anti-herói, repleto de sarcasmo, cinismo e muitas atitudes nada lisonjeiras. De lá para cá, o mago já foi personagem de histórias fantásticas e quase nunca suas tramas são ruins, um fato e tanto devido a longevidade e a passagem por dezenas de autores distintos. “Constantine: Hellblazer – Fantasmas do Passado” que a Panini Comics lança esse ano aqui com 140 páginas em capa cartonada reúne as edições originais da revista de número 1 a 6 publicadas nos EUA entre junho de 2015 e janeiro de 2016 (e mais uma edição especial). Nessa nova roupagem pelas mãos dos roteiristas Ming Doyle e James Tynion IV e dos desenhistas Riley Rossmo e Vanesa Del Rey, Constantine está novamente perambulando pelo mundo sem muito o que fazer e sem local certo para onde ir até que os fantasmas que lhe acompanham representando todos os que morreram por culpa das suas burrices e trapaças começam a morrer novamente. Para que isso pare de ocorrer e ele tenha novamente sossego, Constantine parte pelos submundos reais e da magia para descobrir quem está causando tanto estardalhaço. O que vemos a partir daí é um mergulho no passado e a reativação de antigos laços, para o bem e para o mal. Nessa nova visão que vem logo após o evento intitulado “Convergência” e inicia a fase do personagem na nova empreitada da editora chamada “DC & Você” (DC You, no original), as feições do mago estão um pouco diferentes e volta à tona com grande força a sua bissexualidade, há tempos renegada. Entre monstros, demônios, piadas e músicas temos uma boa história, com arte escura e repleta de sombras, mostrando um recomeço com vigor para o personagem.

Nota: 7

“Fungos”, de James Kochalka (Editora Mino)
James Kochalka é um dos quadrinhistas independentes mais admirados e prolíficos dos Estados Unidos. Vencedor de prêmios respeitáveis dentro dos quadrinhos como o Eisner e o Harvey, o autor de “American Elf” (1998) e “Dragon Puncher” (2010) finalmente tem seu trabalho lançado no país. “Fungos” (“Fungus”, no original) é uma das suas obras mais recentes e foi publicada lá fora pela conceituada Retrofit Comics, sendo que aqui no Brasil chega por conta da Editora Mino trazendo 144 páginas, formato 15x21cm, tradução de Dandara Palankof e ótimo tratamento editorial. O artista, que também é músico e tem uma banda de rock há um bom tempo (a James Kochalka Superstar), concebeu a história ao som de discos de bandas variadas como Girl Talk e Sigue Sigue Sputinik, como explica no preâmbulo. Feito depois de uma pesquisa pelos ásperos e desabridos pântanos no estado do Maine, a trama retrata dois fungos e outras pequenas criaturinhas conversando e divagando sobre questões que vão do comportamento a religião, da internet aos quadrinhos. Em preto e branco e com quadros tradicionais, o autor apresenta um humor simples, honesto, às vezes quase pueril, mas que dá margem a várias reflexões que variam de pessoa para pessoa de acordo com idade e concepção de vida. As piadas com o Facebook e com os tempos modernos de e-mails e tudo mais são simplesmente geniais. James Kochalka influenciou diversos outros autores de quadrinhos e essa influência se expande até desenhos animados de sucesso como “A Hora da Aventura”, onde o criador Pendleton Ward é seu fã confesso. “Fungos” é uma obra que apesar de aparentar ser simplória nas primeiras páginas, ganha força no decorrer da leitura e melhora muito mais em uma segunda passagem, levando a obra a um grau de qualidade elevado e valioso.

P.S: A Mino disponibilizou um capítulo extra da obra. Leia aqui.

Nota: 8

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) e assina o blog de cultura Coisa Pop

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