por Marcelo Costa
Contrariando as normas da indústria (mais uma vez), o Radiohead ignorou a data estipulada oficialmente pelo mercado para novos lançamentos, as sextas-feiras, e liberou “A Moon Shaped Pool”, seu nono álbum de estúdio, às 15h do domingo de Dia das Mães (ainda que o álbum tenha vazado uma hora antes e fãs mais afoitos já o estivessem ouvindo). “A Moon Shaped Pool” encerra um silêncio de cinco anos da banda – o álbum anterior, “The King of Limbs”, é de 2011.
Desde “In Rainbows” (2007), o primeiro disco “independente” dos ingleses após o término do contrato de seis álbuns com a centenária e poderosa major EMI/Parlophone que o Radiohead vem provocando a atenção do público com métodos diferenciados de divulgação, transformando a chegada de um novo álbum em um grande acontecimento planetário. Foi assim com “In Rainbows”, foi assim com “The King of Limbs” e a estratégia, sempre ousada e diferenciada, se repete com “A Moon Shaped Pool”.
O processo de parto oficial de “A Moon Shaped Pool” começou no dia 30 de abril, quando fãs britânicos da banda cadastrados na loja oficial do Radiohead receberam um flyer com uma ilustração e as seguintes frases: “Sing the song of sixpence that goes ‘Burn the witch’” e “We know where you live”. No dia seguinte, 01 de maio, um domingo, o Radiohead começou a desaparecer das redes sociais apagando todo o conteúdo de suas contas oficiais no Twitter, no Instagram, no Facebook e em seu próprio endereço oficial na web.
O próximo passo foi singelo: na manhã do dia 03 de maio, terça, a primeira nova postagem no Instagram: um pássaro assoviando. Às 8h no horário de verão britânico (12h no horário de Brasília), os fãs tiveram acesso ao primeiro single do novo álbum, a canção “Burn The Witch”, que traz as frases contidas no flyer enviado aos fãs previamente e já vinha sendo trabalhada pelo quinteto desde as sessões de “Kid A” (2000). O vídeo em stop-motion homenageia tanto o desenho infantil “Trumpton” (1967) quanto o filme de terror “The Wicker Man” (1973).
Na sexta, 06 de maio, os fãs amanheceram com uma nova novidade: um teaser no Instagram mostrava Thom Yorke, vocalista da banda, aparentemente perdido em um estacionamento. Repetindo a estratégia de “Burn The Witch”, o Radiohead lançava às 8h da manhã seu segundo clipe do disco novo, “Daydreaming”, uma faixa mais climática cujo vídeo traz a assinatura do diretor norte-americano Paul Thomas Anderson (“Magnólia”, “O Mestre”, “Sangue Negro”), com quem o guitarrista Jonny Greenwood tem colaborado nos últimos anos.
Acompanhando o lançamento de “Daydreaming”, um aviso: o disco novo do Radiohead seria lançado no domingo, às 15h. A banda não informava o nome do novo álbum nem onde o fã poderia encontra-lo, mas já na manhã do domingo começaram a circular as primeiras pistas, com o nome “A Moon Shaped Pool” dado como oficial e um tracking list em ordem alfabética surpreendendo fãs mais antigos, que reconheceram de cara canções antigas que a banda vinha trabalhando e nunca havia lançado num álbum da discografia oficial de estúdio.
Às 15h do domingo, o Radiohed colocou no ar o site www.amoonshapedpool.com e o mundo, enfim, tinha acesso oficial ao nono disco do grupo de Thom Yorke: 11 faixas na edição normal (a edição deluxe, custando entre R$ 300 e R$ 350, trará ainda duas faixas extras) começando com “Burn The Witch” (o primeiro single é, também, a faixa mais “acelerada” do disco) e “Daydreaming” e finalizando com um clássico lado B da banda, “True Love Waits”, registrada ao vivo no álbum “I Might Be Wrong” (2001), e aqui ganhando sua versão final.
Além dela, outras faixas já circulavam em versões ao vivo e eram bastante conhecidas dos fãs: “Identikit” e “Ful Stop” haviam sido tocadas na “The King of Limbs Tour”, em 2011/2012 (a primeira, 35 vezes; a segunda em apenas 10 shows); “Desert Island Disk” e “The Numbers” haviam aparecido em um show solo de Thom Yorke no final do ano passado (a segunda ainda com o nome de “Silent Spring”), que ainda trouxe “Present Tense”, uma faixa que já havia escapado de uma passagem de som do Radiohead em 2008.
Se o lançamento do álbum foi agitado e, novamente, surpreendente, as 11 novas canções de “A Moon Shaped Pool” trafegam numa estrada sonora já pré-definida pela banda entre “Ok Computer” (1997) e “Amnesiac” (2001), mas soa como se a sonoridade abrasiva deste segundo fosse adaptada ao formato que valorizava as canções do primeiro, ou seja, permanecem as melodias intrincadas, mas desta vez sem tantas experimentações. Num resumo rápido: o novo álbum do Radiohead é o Radiohead em seu melhor. Ouça!
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne