Conexão Latina: La BeaT Machine

por Leonardo Vinhas

Músicos jovens montam uma banda, ganham uma pequena fama no circuito de bares e em dado momento são atraídos para uma grande companhia com a promessa de manter sua essência, mas ao mesmo tempo fazê-la chegar a um público maior. A história é um clássico (ou clichê, dirão alguns) da indústria fonográfica, mas foi assim que aconteceu com a banda colombiana La BeaT Machine. Com uma diferença bem sintomática dos tempos atuais: o contrato não foi assinado com uma gravadora, mas com o serviço de streaming de músicas mais popular de seu país, a Tigo Music.

Em apenas cinco anos, La BeaT Machine chamou atenção considerável no circuito de Bogotá com seu pop boa-praça, de arranjos que privilegiam violões e percussão, e letras ligeiras. É, por ora, um som mais simpático que marcante, mas a banda tem pegado a estrada em seu país, e a experiência nos palcos, somada ao salto de profissionalização que o contrato com a Tigo obrigou, pode ajudar a banda a apontar para voos mais ousados, onde seu carisma pode ser veículo para uma proposta musical mais rica.

Parte dessa possível transformação passa pelo Brasil – a banda fez uma turnê de oito datas pelo Estado de São Paulo em outubro, uma na capital e sete no interior. Foi a primeira viagem internacional da banda, levando-a a um público totalmente novo, naquela situação, com pouquíssimo ou nenhum tempo de respiro entre um show e outro – o tipo de experiência que impacta em uma banda.

Numa brecha dessa turnê, o Scream & Yell conversou com Wenche de la Sierra (guitarra e voz) e Gustavo Castro (baixo) para conhecer um pouco da história até então pouco documentada do grupo e saber como eles estão vivendo esse momento de transição de queridinhos de bares locais para aposta de multinacional.

Encontrei pouca informação histórica sobre a banda, então acho justo que comecemos falando sobre como tudo começou.
Wenche: La BeaT Machine nasceu em 2011. Eu estive no exército por um ano e ali eu comecei a escrever minhas primeiras canções em um som novo que eu batizei de “samarian sound”. Antes de formar La BeaT Machine, eu tive várias bandas punk. Tempos depois eu conheci Juancho (nota: o percussionista Juan Díaz) e compartilhamos muitos gostos musicais e intelectuais. Em algum momento eu mostrei a ele algumas canções nesse som que eu vinha fazendo e decidimos criar uma banda de rock, mas de rock que as pessoas pudessem dançar, e que tivesse uma mensagem consistente nas letras. Poucos dias mais tarde já estávamos ensaiando na garagem com mais três amigos [o baixista Gustavo, o baterista William Angel e o guitarrista Arturo Valencia]. Aos poucos a “máquina” foi tomando forma e essa teimosia de querer fazer música tem nos colocado em um “leva-e-traz” igual ao de um veleiro velho em mar aberto.

Na sonoridade de vocês, se nota já na primeira audição a intenção declarada de soar pop, acessível. Isso vem das influências da banda ou tem mais a ver com uma busca comercial?
Wenche: O pop é um termo que envolve e define muitos gêneros de caráter especificamente comercial. La BeaT Machine não nasceu como uma proposta comercial, pelo contrário: sempre estivemos vinculados aos palcos underground da Colômbia e levamos um caminho independente, distanciados das rádios e da indústria musical. Por outro lado, o som da banda é fresco, ligeiro, fácil de escutar. Não tem pretensões, nem egos, virtuosismos ou sequer as “intervenções magistrais” por parte de algum de sues tripulantes. La BeaT Machine é um som saboroso, uma banda plena de amizade e de compromisso. Sentimos amor pelo que fazemos e acredito que isso é o que define o carátter da banda.

Bem, sendo mais específico, parece existir uma influência bem anos 90, que vai do pop colombiano desse período tanto quanto coisas norte-americanas, como Sublime, Sugar Ray e as canções mais agitadas do Jack Johnson.
Wenche: De fato, estão aí influências de muitas bandas que estão nos gostos individuais de cada um de nós. As bandas que você citou nos agradam porque têm essa “praiazinha” que buscamos em cada canção. Mas existem muitas coisas de épocas e gêneros bem diferentes [que nos influenciam], como reggae, punk, salsa e outros. Temos uma identidade bem particular, e não nos importa de que década seja a música, contanto que ela sempre tenha esse elemento praieiro e sonhador.

E foi esse elemento que atraiu a atenção da Tigo Music? Como eles chegaram até vocês?
Gustavo: A banda tem uma trajetória de cinco anos trabalhando de maneira independente. Esse contrato com a Tigo veio há poucos meses, eles nos chamaram pela repercussão que vínhamos tendo com nosso material na internet. A Tigo nos proporcionou algumas horas de gravação em um dos melhores estúdios do nosso país. Atualmente estamos terminando de produzir nosso primeiro disco oficial. É uma aliança temporal que nos facilitou coisas que não teríamos sido capazes de pagar do nosso bolso. Esperamos que as coisas continuem fluindo com tranquilidade e firmeza pelo tempo que for necessário.

Para quando é o disco?
Gustavo: Temos que entregar no fim de dezembro, mais tardar no começo do ano que vem. Serão faixas totalmente novas, só vamos repetir uma canção do disco passado. Também vamos contar com uma participação de um grande nome da música colombiana, o Pablo “Watusi” Martinez [da banda de salsa La 33].

E qual é a contrapartida desse contrato?
Gustavo: A Tigo lança o disco com seis meses de exclusividade para eles. Depois disso, nós o disponibilizaremos, com a ajuda deles, em plataformas como Spotify e Deezer.

Ter uma direção artística de uma grande empresa não pode vir a impactar na concepção musical da banda?
Wenche: Não acho que seja por aí. Acredito sim que se uma grande companhia te dirige ela pode impactar em vários aspectos importantes, mas não no musical. De qualquer modo, a Tigo Music não nos dirige, é apenas parceira de uma aliança temporária em que eles nos oferecem um serviço e nós damos em troca uma exclusividade. É algo bom para ambos os lados.

E essa tour brasileira, o que ela representa para vocês?
Wenche: Representa um novo começo para a banda, é um novo passo que nos aproxima daquilo que procuramos como artistas. Realmente estamos muito felizes de ter passado pelo Brasil e conhecer pessoas como nós que estão trabalhando para melhorar a consciência coletiva. Essa viagem foi só o início de uma nova vida, um novo horizonte.

Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.

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