por Leonardo Vinhas
“No No No”, Beirut (4AD)
“Novo disco do Beirut é de humanas, participa do DCE e tem umas músicas roubadas dos discos do Paul Simon, mas fora isso é bem bom”, escreveu o músico Giancarlo Ruffato em seu perfil no Twitter a respeito deste “No No No”. Como nas melhores piadas, esta tem um fundo de verdade: já em “The Rip Tide” (2011), Zach Condom tinha deixado a influência do folclore do Leste Europeu em segundo plano e se dedicado à melodias mais “sessentistas”. Neste mais recente lançamento, o bonitão assumiu de vez um pop como eixo de composição, deixando que a aparição de algum instrumento “exótico” ocorra apenas para favorecer um arranjo, e não para servir como sua razão de ser. Teclados em todas as suas variações (piano, órgão, moog, mellotron) conduzem a maior parte das melodias, mas, influência de Paul Simon à parte, a banda segura a execução sem deixar a balança pender para o lado retrô. A verdade é que “No No No” é, temática e sonoramente, um disco sintomático dessa turma hipster, com um olho no passado e ao mesmo tempo louco para encontrar rumos para o futuro. Os la-la-las e no-no-nos da faixa-título, por exemplo, podem criar um ar “bonitinho” para a canção, mas não mascaram o fato de que Condom está com dificuldades para lidar com as próprias emoções e em dar rumos para a vida. Quase todo o restante do disco segue em uma vibe semelhante, entre a dança desajeitada, o desalento, e um mantra de “no fim, vai ficar tudo bem” (“At Once”, mais delicada e lenta, é uma bela exceção). Se o tuíte do @rufatto não deixou claro, “No No No” é desaconselhável para cínicos ou para quem odeia a atitude de “não-confronto” da Banda do Mar. Mas se você não está neste grupo de pessoas, pode se beneficiar bastante com a audição do disco.
Nota: 7
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“Coming Home”, Leon Bridges (Columbia)
Tendo apenas 26 anos, surpreende que Leon Bridges tenha a segurança de intérprete e o bom gosto para arranjos que exibe em seu álbum de estreia. “Coming Home” leva o nome da faixa que viralizou no Spotify e colocou o jovem norte-americano, oriundo das fileiras dos corais gospel, como o hype de 15 minutos da vez em algum ponto deste ano (o lançamento bateu na sexta posição do Hot 200 da Billboard!). Hipérboles à parte, o menino é bom mesmo, bebendo nas fontes abertas por Sam Cooke e Otis Redding para alimentar sua própria identidade, na qual fraseados de metais pontuam riffs simples e um groove poderoso o suficiente para não deixar o ouvinte parado, mas insidioso o bastante para não arrebatar de primeira, e sim ir conquistando aos poucos. Os méritos ficam para Bridges e seus parceiros Austin Jenkins e Joshua Block, ambos da banda White Denim, que dividem as composições com o cantor. A produção também merece aplausos, por saber respeitar as influências do passado sem forçar a mão para que soe “vintage”, um vício infelizmente comum entre os (bons) artistas de soul contemporâneos. O resultado final é um daqueles discos em que a melhor faixa são todas. Escute do começo ao fim.
Nota: 8
“The Waterfall”, My Morning Jacket (Capitol)
Você sempre pode confiar no My Morning Jacket para duas coisas: fazer grandes álbuns e envelopá-los em capas horrorosas. “The Waterfall” honra com fervor essas duas constantes. Sobre a capa, que parece uma pintura feita por aquele seu tio que começou a pintar depois de aposentado, nada a dizer. Sobre a música, por sua vez, há muito: o tom mais intimista do antecessor “Circuital” (2011) dá lugar a muitos acordes e tons maiores, explosões musicais, e uma boa influência do soft rock radiofônico dos anos 1980 – tudo com a psicodelia de sempre, e a voz marcante de Jim James, claro. A presença constante na estrada (com shows que não raro superam três horas de duração) deu à banda um senso de espetáculo inegável, que não se mostra nada tímido neste disco, seja qual for o caminho melódico a seguir. “The Waterfall” pode estar a serviço do groove com muito mais êxito, como prova “Compound Fracture”; pode funcionar em rádios e em estádios com “Believe (Nobody Knows)”; pode ser mais introspectivo e acústico (em várias faixas), e até atingir aquele ponto emocional onde conforto e dor se misturam com “Only Memories Remain” e “In Its Infancy (The Waterfall)”. Pode, ainda, trazer uma coisa preciosa como “Big Decisions”, uma confissão de fim de relacionamento que traz um desânimo consigo próprio e com a vida a dois, e que mesmo assim é possivelmente a faixa de maior apelo comercial nos 17 anos de existência da banda. Um aparente contrassenso que, na verdade, condiz perfeitamente com uma banda que consegue fazer pensar em Piink Floyd e R&B em uma mesma faixa sem soar “frankensteinica”. Uma versão deluxe do disco, com quatro faixas a mais (duas delas versões diferentes de faixas que constam do álbum original) também está disponível.
Nota: 8,5
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– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.