por Bruno Leonel
“Kablammo!”, Ash (earMUSIC)
Quebrando um jejum de oito anos, o grupo irlandês Ash lançou em maio (incluindo o EP “Trailer”, de 1994) seu sétimo trabalho de estúdio, “Kablammo!”. Mesmo com tantos anos sem disco novo, o Ash nunca suspendeu as atividades. Disponibilizando músicas pela internet, a banda lançou um número respeitável de canções agrupadas na coleção “The A-Z Singles” (2010) e um EP digital “Little Infinity” (2012), e seguiu tocando – inclusive no Brasil, quando se apresentou no segundo SWU. Com produção da própria banda em parceria com Claudius Mittendorfer (que já havia trabalhado com eles em praticamente todos os discos anteriores), “Kablammo!” compila 12 canções em quase 40 minutos. O primeiro single, “Cocoon”, soa bem familiar: guitarras levemente dissonantes, melodia doce e um refrão pop, daqueles que não fazem feio ao lado de petardos do grupo. A balada “For Eternity” surpreende por mostrar um lado pouco explorado do trio, ainda que no final acabe soando um tanto piegas. Há bons momentos como a animada “Machinery” e a enérgica “Evel Knievel” (com melodia estranhamente semelhante à “Knights of Cydonia”, do Muse), mas não há nada que o grupo já não tenha feito em trabalhos anteriores, o que denota comodismo e falta de ousadia, mas parece que a própria banda talvez não se preocupe em soar datada. “Bring Back the Summer”, a última faixa, talvez seja uma referência ao desejo de evocar uma época, que já ficou para trás. Nada de ruim em querer evocar o verão, o problema é que sempre haverá inverno…
Nota 6,5
“Jenny Death”, Death Grips (Harvest Records)
Cerca de oito meses após anunciar seu fim, o Death Grips lançou este obscuro e raivoso “Jenny Death”, segunda parte do disco duplo ‘The Powers that B’, cujo primeiro capítulo, “Niggas on the Moon”, saiu em 2014. Unindo bases eletrônicas pesadas, cacofonia sonora e um baterista virtuoso, Zach Hill, o trio é notório por uma obra repleta de colagens sonoras e vocais agressivos (que emulam hardcore e punk da forma mais visceral imaginável) da maneira imprevisível. Se em “Niggas on the Moon” o grupo quase (veja bem, quase) soava manso e atmosférico (com direito à samples de Bjork), em “Jenny Death” o grupo volta às texturas agressivas e austeras dos discos “Exmilitary” (2011) e “The Money Store” (2012). A porrada “Break Mirrors With My Face in the United States” (um dos melhores refrãos de 2015) abre o álbum, que destaca as batidas claustrofóbicas de ‘Inanimate Sensation’, a delicada “Why a Bitch Gotta Lie” (com guitarras pesadas) e a piração de “Beyond Alive”. Os vocais, agressivos e esparsos de Stefan Burnett (MC Ride) são um espetáculo à parte: imersos em uma atmosfera futurista e de sonoridade robótica, seu conteúdo obscuro, e por vezes até ofensivo, parece ilustrar um eu-lírico em constante conflito pela busca de necessidades totalmente primais, quase como se esse futurismo primitivo fosse uma forma de preservação da individualidade em meio ao “progresso” do século XXI. A última faixa, intitulada “Death Grips 2.0”, sugere uma parte 2 ou, talvez, o início de um novo marco para a banda. Tomara.
Nota 8
“For All My Sisters”, The Cribs (Sonic Blew / Sony RED UK)
Mais garageiro e menos pomposo do que vários de seus conterrâneos (Ahh Franz Ferdinand), o trio de Wakefield chega ao sexto trabalho da carreira com este bonito e radiofônico “For All My Sisters”, produzido por Ric Ocasek (do The Cars). Embora acumulem diversos hits, os discos anteriores do trio sempre pecavam por certa irregularidade, com boas faixas ao lado de números dispensáveis. Neste sexto registro, porém, o erro foi corrigido, o que torna este álbum forte candidato ao melhor trabalho do Cribs. Do primeiro single, “Burning For No One”, passando pela pop “Different Angle” (que ganhou um simpático clipe filmado em VHS) até a baladinha “City Storms”, são vários os candidatos a hits. Limando a sujeira, a sonoridade aqui soa mais melódica e parece emular várias guitar bands que bombavam em rádios independentes dos anos 80. Ryan Jarman (irmão gêmeo do baixista Gary Jarman) certamente não é um guitarrista virtuoso, mas tem habilidade em criar riffs marcantes e melodias chamativas, talvez o grande trunfo instrumental do disco. Liricamente, “For All My Sisters” traz auto-crítica (a espertinha “Mr. Wrong”), lamentos de coração-partido e reflexões pós separação, como na dolorida “I See Your Pictures Everyday’. Tudo isso envolto em uma roupagem cativante e, por vezes, nostálgica, como um grande apanhado de canções que nunca deixará alguém esquecer da ex-namorada. Um segundo capítulo do trabalho – que com produção de Steve Albini, soaria mais ‘punk’ e sujo – deve ser lançado em breve. Fique atento.
Nota 8,5
– Bruno Leonel (https://www.facebook.com/silva.leonel.900) é jornalista.
Leia também:
– “1977 Deluxe Edition”, Ash: um dos grandes debutes do rock britânico nos anos 90 (aqui)
– “A-Z Volume 1”, Ash: uma baita coletânea com jeitão de greatest hits (aqui)
– “Twilight of The Innocents”, Ash: grupo volta a ser trio, mas o pique não se mantém (aqui)
O que fazer para trazer o ASH de volta so Brasil? Rs
Pô, Tarly, como eu também queria ver um show deles de novo aquI!
Se vierem, podia ser como quarteto novamente né? Acho que a banda ganha muito com a segunda guitarra!