por Leonardo Vinhas
“Holding All the Roses”, Blackberry Smoke (Rounder)
O Blackberry Smoke é uma banda de Southern rock na ativa desde 2000. Sempre foi bastante “canônica”, não trazendo inovação alguma ao gênero, mas esbanjando frescor e buscando um sentido pop em tudo o que fazia. Essa combinação atingiu um belo resultado em “The Whippoorwill”, álbum de 2012 que teve bom desempenho comercial e colocou a banda em palcos maiores. Musicalmente, o álbum estava em algum lugar entre o refinamento da primeira fase dos Black Crowes e o apelo radiofônico do primeiro álbum do Kings of Leon. Era de se esperar que, com a experiência dos muitos shows e com a receita aprimorada, eles entregassem um sucessor mais ambicioso, que os projetasse ainda mais longe. Porém, “Holding All the Roses” acaba representando uns dois ou três passos para trás. Letras de amor melosas convivem com aquele clima de caipirão americano, de “nóis é rock mesmo”, legando um disco que, apesar de bem executado e bem produzido, mal serve para trilha de jogo de sinuca em boteco de série televisiva. É tanto clichê junto que chega a parecer caricatura – ou até paródia. Dá até para pensar que o objetivo era mesmo cair na vala mais comum possível do rock redneck. Se foi por isso, por preguiça ou auto-indulgência, não faz diferença: “Holding All the Roses” é um disco absolutamente dispensável.
Preços: R$ 60 (CD importado) e R$ 100 (vinil importado)
Nota: 2
“Stranges to Ourselves”, Modest Mouse (Epic)
O Modest Mouse que muitos aprenderam a amar em “Good News for People Who Love Bad” News (2004) está de volta neste “Strangers to Ourselves”. Se duvida, ouça o primeiro single, “Lampshades on Fire”, ou veja a lista de canções, com títulos como “God Is an Indian and You’re An Asshole”, “The Tortoise and the Tourist” e “Shit in Your Cut”. Como no álbum de 2004, aqui as tonalidades pop estão mais evidentes que as raízes experimentais da banda, mas sendo o Modest Mouse, há a sempre bem-vinda dose de esquisitice, a poesia irônica, as melodias circulares, os timbres entre o avant-garde e a sonoridade de brinquedos – enfim, aquele ponto onde se encontram Flaming Lips, Devo e as animações da Adult Swim. Funciona melhor que o desconjuntado “We Were Dead before the Ship Even Sank” (2007), que chegou ao primeiro posto da parada da Billboard, mas era irregular. Os oito anos entre “Good News” e este novo não foram dos mais produtivos: o vocalista e guitarrista Isaac Brock disse que os primeiros meses de “ensaios” eram basicamente a banda bebendo e ouvindo música no estúdio, sem compor. Depois, mais bebedeiras, perfeccionismo, mudanças de formação, um EP de sobras e lados B (“No One’s First and You’re Next”, de 2010), aparições esporádicas em festivais, uma apresentação abortada no Brasil (no SWU de 2011) e boatos de bastidores até que saísse esse “Strangers to Ourselves”. É verdade que é um álbum com algumas partes mais notáveis que o todo, com ótimos temas como “The Ground Walks, with Time in a Box”, “Ansel”, “Pups to Dust”, “The Best Room” e a citada “Lampshades on Fire” se sobressaindo ao resultado final. Mesmo assim, está entre os melhores discos que a banda já fez.
Preços: R$ 60 (CD importado) e R$ 90 (vinil importado)
Nota: 7,5
“Bathtub Love Killings”, Olivia Jean (Third Man Records)
Desde a época em que estava à frente da banda The Black Belles, Olivia Jean tem estado sob o olhar cuidadoso de Jack White. Assim, não surpreende que sua estreia solo seja produzida pelo próprio e lançada pelo selo dele, Third Man Records. E já na primeira audição de “Bathtub Love Killings” dá para sacar o porque de tanto zelo: Olivia tem o mesmo apego que o “patrão” às raízes da música pop e, principalmente, do rock. Mas o baú dela tem menos blues e mais compactos produzidos por Phil Spector, girl groups obscuros, pais do rock de garagem, trilhas sonoras de filmes B e aquelas pinceladinhas de música “não-americana” (um calipso aqui, um quase reggae ali…) comuns nos primeiros álbuns do rock’n’roll. Tudo isso vai para o disco com filtro moderno e aquela produção que está perigando tornar-se definidora de época. “Reminisce”, o primeiro single, traz o lado mais roqueiro da proposta (que também aparece na ótima “Mistakes” e em outras), mas o som da moça pode ser mais safado (“Merry Widow”), country (“Haunt Me”), sensual (“Green Honeycreeper”) e reminiscente da carreira solo de White (“Excuses” e principalmente “December”). De certa forma, lembra o Blondie em conceito: usar das raízes do gênero para fazer algo moderno, dançante e acessível. Em todas as faixas, a voz de pin up da moça ajuda a sacramentar o potencial viciante do disco. Bela estreia!
Preços: R$ 60 (CD importado) e R$ 80 (vinil importado)
Nota: 8
– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.
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