“Depois da Chuva”, de Cláudio Marques e Marília Hughes (2015)
por Bruno Capelas
Salvador. 1984. Diretas Já. Dead Kennedys e o segundo ano no colegial de Caio, um garoto de 16 anos de classe média baixa. A partir do trailer oficial de “Depois da Chuva”, a descrição acima parece perfeita para uma versão “Pelourinho Uber aAlles” de algum filme de John Hughes, fazendo o rito de passagem do jardim de infância para a vida adulta. Mas o filme, lançado em janeiro, joga as expectativas no lixo em prol de uma suposta “linguagem maior” e de um proselitismo político que poderia até fazer sentido em 1984 – mas não hoje. Inspirado em “Edukators” (2003), o filme desperdiça boas tramas (o primeiro beijo; formação política, os pais separados e a falta de dinheiro quando a pensão não é paga) para se perder em sequências que vão do nada a lugar nenhum (como a rádio pirata dos amigos de Caio ou as performances artísticas longuíssimas e “cabeçudas”), tudo para “denunciar” a falsidade do processo de abertura política que acabaria deixando o País na mão de José Sarney. Como diria Paulo Ricardo: “Que desperdício”.
Nota: 3
“Um Santo Vizinho”, de Theodore Melfi (2015)
por Bruno Capelas
Nos últimos anos, Bill Murray virou símbolo de um fenômeno cult, valorizando o veterano ator por papéis como os de “Os Caça Fantasmas” (que completou 30 anos em 2014) e “Feitiço do Tempo” (1993), para além de suas aparições nos filmes do diretor Wes Anderson. Em “Um Santo Vizinho” (“St. Vincent” no original), os fãs de Murray terão a chance de vê-lo em mais um filme simpático. Dirigido pelo estreante Theodore Melfi, “Santo Vizinho” usa uma velha receita hollywoodiana: a das amizades improváveis – nesse caso entre um menino (o fofo Jaeden Lieberher) e um velhote (Murray). Recém-divorciada, a mãe do garoto (Melissa McCarthy) precisa trabalhar para cuidar da casa e relega a Murray o papel de ficar de olho na criança, pagando-o alguns dólares por hora. O babá acaba levando o garoto para bares e corridas de cavalos, e o menino, é claro, adora. Preste atenção em Naomi Watts no papel da divertida prostituta russa Daka, cujo desempenho ajuda “Um Santo Vizinho” a ser um filme perfeito para uma Sessão da Tarde daqui a alguns anos.
Nota: 6,5
“Finding Vivian Maier”, de John Maloof e Charlie Siskel (2014)
por Marcelo Costa
Indicado ao Oscar 2015 na categoria Melhor Documentário, “Finding Vivian Maier” é o instante decisivo versão John Maloof, um jovem de Chicago que, na busca por imagens antigas de seu bairro, se deparou com uma caixa com centenas de fotografias de uma autora desconhecida e, imbuído de curiosidade e senso de oportunidade (América, América), revirou o passado que estava em suas mãos e encontrou Vivian Maier, uma babá descendente de franceses que, de posse de uma Rolleiflex num período de 40 anos, criou um acervo de mais de 100 mil fotografias personais nunca vistas por ninguém (muitas nem mesmo por ela: centenas de rolos encontrados por Maloof não haviam nem sido revelados). Mistura de “Searching Sugar Man” (2012), sem o acabamento estético e o final feliz (para o retratado), com “The Mexican Suitcase” (2011), sem o roteiro cuidadoso sobre a mala perdida de Robert Capa com negativos da Guerra Civil Espanhola, “Finding Vivian Maier” soa tão simplório quanto comovente em sua busca por redimir uma alma artística inquieta.
Nota: 7,5
– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista e assina o blog Pergunte ao Pop.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne