por Marcelo Costa
Quem consegue ignorar uma cantora que, apenas com 25 anos, já soma 32 milhões de cópias de discos vendidos em meio a maior crise da história da indústria fonográfica? Ignorar Taylor Swift é possível, mas quando nomes como Paul McCartney e Stephen Malkmus aparecem associados ao nome da cantora em questão de dias, as placas tectônicas da música pop dão uma ligeira sacudida causando deliciosos vendavais entre fãs.
Primeiro foi Paul McCartney que subiu ao palco munido de seu contrabaixo junto com o apresentador Jimmy Fallon para tocar o hit “Shake It Off” ao lado da loirinha no after-party da comemoração dos 40 anos do programa Saturday Night Live. Poucos dias depois, o eterno Pavement Stephen Malkmus, acompanhado de sua banda The Jicks, apresentou-se para crianças em Portland, nos EUA, e tocou uma singela versão de “Blank Space”.
Tanto “Shake It Off” quanto “Blank Space” estão presentes em “1989”, álbum lançado por Taylor Swift em 2014, e que já bateu a casa das 6 milhões de cópias vendidas no mundo todo. A primeira canção, inclusive, ganhou um mashup matador assinado pelo DJ Isosine, que juntou a grudenta canção de Taylor Swift com a não menos empolgante “Perfect Drug”, hit que Trent Reznor, do Nine Inch Nails, compôs para a trilha de “A Estrada Perdida”, de David Lynch.
Como Taylor Swift consegue transitar entre tantos públicos diferentes?
Bem, o primeiro sintoma de mudança é o próprio disco “1989”, que Taylor assumiu ser o seu trabalho mais pop (ainda que “Red”, de 2012, já tivesse quase nada de Nashville). Ou seja, ela tira de cena a garota country de boutique descolada de Nashville dos primeiros discos e lança no picadeiro uma versão de Britney Spears sem nenhum pingo de libido, ainda que suas ótimas letras, páginas arrancadas do diário de uma garotinha esperta, prometam muito mais do que Kate Perry e Rihanna mostram em suas fotos.
“Shake It Off”, por exemplo, é uma delicia pop de letra divertida. “Eu fico fora até tarde / Não tenho nada na cabeça / É o que as pessoas dizem”, canta Taylor Swift nos primeiros segundos da canção que logo será adotada por academias em todo o mundo (se já não foi). Ela continua: “Eu namoro muitos caras / Mas não consigo fazê-los ficar comigo / Pelo menos é o que as pessoas dizem”, ela provoca sorrindo enquanto transforma tragédias pessoais em hits.
“Blank Space” vai ainda mais fundo no drama pessoal em formato de canção pop: “Tenho uma longa lista de ex-namorados / Eles te dirão que sou maluca / Mas eu tenho um espaço em branco, querido / E escreverei seu nome”, ela promete, destilando certezas: “Somos jovens e imprudentes” (…) “Meninos só querem amor se for tortura” (…) “Eu posso fazer os caras maus serem bonzinhos por um fim de semana” (…) “Sou um pesadelo vestido de sonho”…
O expediente não é novo para Taylor Swift, que vem transformando seus “desastres” românticos em canções desde sempre. “Should’Ve Said No” (2006) falava sobre um romance dos tempos de colégio. “Forever and Always” (2008) foi inspirada em Joe Jonas, que terminou o romance num telefonema de 27 segundos. “Dear John” desenha um retrata pouco lisonjeiro de John Mayer enquanto em “Back to December” a mostra como culpa pelo desastre romântico.
A grande questão, porém, é: por que só agora a música pop começou a olhar diferente para Taylor Swift? Ao que parece ela não deixou de ser a menina inocente que incita homens desrespeitosos a terminarem relacionamentos por telefone ou tentarem roubar seu Grammy, o que a notícia repercutida pelo jornal Folha de São Paulo (sobre sua mãe não deixa-la vir ao Brasil) apenas referenda. Mudou o mundo ou mudou a música pop?
De qualquer forma, ela segue amadurecendo em frente ao público, e seus passos merecem serem acompanhados. Não à toa, ela deixou de ser uma singela Paula Fernandes – quando lançou seu primeiro disco aos 17 anos (e vendeu 5 milhões de cópias dele) – para ser uma interessante cantora pop adolescente que divide palco com Paul McCartney e vê canções suas interpretadas por heróis do cenário indie. Ainda não se sabe o que Taylor Swift tem, mas ela ainda vai dar muito que falar.