Foto de Liliane Callegari / Oya Festival, Oslo, 2014
Tenho certa fixação por listas de melhores do ano, algo que vai além do ato de fazer listas de “cinco mais” robflemingiano, personagem do livro “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby. Para mim, especiais como este Top Seven Scream & Yell permitem aprofundar o olhar sobre a produção de cultura pop de um determinado período, com base em listas de gente tão apaixonada por música, cinema, literatura e TV quanto eu.
A maioria das listas de melhores que todo ano grandes revistas gringas repercutem segue o mesmo padrão: o editor convoca seu colaborador mais próximo para um café, e, juntos, decidem os “50 discos mais relevantes do ano segundo a revista tal”, expediente que diz mais sobre a leitura da equipe sobre o que a revista “deveria” premiar do que, necessariamente, sobre a produção do ano que passou. Ainda assim é legal para sacar o olhar da publicação.
O Top Seven Scream & Yell segue outro caminho, e, apesar de existir certo consenso em quem se destacou no período, muita coisa pode mudar em questão de cinco ou seis votos. Gosto dessa natureza volúvel da lista, que nada mais é do que um retrato da opinião de (neste ano) 114 convidados – se outras 100 pessoas diferentes fossem convidadas, o resultado muito provavelmente poderia ser outro, o que por si só já permite uma bela reflexão.
Aliás, reflexão é o que mais existe nas entrelinhas desta lista. Por que, por exemplo, dos 25 discos internacionais mais votados, apenas 6 foram lançados oficialmente no Brasil? Será um atestado da incompetência das gravadoras/distribuidoras? Descaso com o mercado? Mero desconhecimento? Ou reflexo do pouco interesse do público consumidor, que (numa previsão pessimista) não iria comprar esses discos se eles fossem lançados no Brasil?
Dos 25 discos mais votados da lista nacional, 12 (incluindo o grande disco do ano) foram disponibilizados para download gratuito pelos próprios artistas, e apenas 2 foram lançados por uma major (Sony Music). Na lista de discos internacional, as majors também perdem espaço para os pequenos selos, e mesmo selos independentes míticos (como Sub Pop e Matador) marcam presença de forma tímida frente a nomes como Jagjaguwar e Loma Vista.
Ao contrário da votação dos dois anos anteriores, em que a briga pelo posto de disco do ano foi acirrada (Apanhador Só e Emicida empataram com 36 votos em 2013; e Céu venceu Silva por 37 a 35 em 2012), em 2014 o álbum vencedor abriu 10 votos de diferença do segundo lugar (36 a 26). Na votação internacional, equilíbrio: 29 a 28. E se “Gravidade” quase alcançou 50% dos votos em 2013, o vencedor deste ano conseguiu 53% dos 113 votos.
Há um interessante mapa cultural brasileiro escondido por entre estas 114 listas. Sim, porque a lista Top Seven Scream & Yell é apenas um compilado dos 114 votantes, mas você, leitor curioso, poderá fazer um recorte particular (como, por exemplo, mídia impressa e mídia online, por regiões e etc…) e, através dele, criar pequenos núcleos de ideias que o ajude a entender o que se passa na cabeça do pessoal que trabalha com cultura nesse mundo velho sem porteira chamado Brasil. Há várias listas dentro desta lista. Arrisque uma combinação.
Para facilitar a produção do especial fizemos algumas modificações: cortamos algumas categorias (Melhor Música, Shows Esperados), unimos a de Melhor Filme (que entre 2008 e 2013 foi dividida em Nacional e Internacional) novamente e acrescentamos uma nova seção: O Melhor da TV. As “cédulas” seguiram o padrão das votações anteriores: nenhuma pré-lista, nenhuma regra. Cada votante teve liberdade para fazer seu recorte pessoal do que foi o melhor de 2014.
Para finalizar, a mesma ladainha anual. Juntando 114 votos de uns aqui e outros acolá apontamos os 7 Melhores de 2013 em diversas categorias. Por que 7? Curtimos essa coisa meio cabalística do número, mas também gostamos de posar de diferentes. No mais, assim como de praxe, optamos por manter os votos de músicos que votaram na própria banda, mas eles não foram computados. Os vencedores estão ai embaixo, divirta-se.
Marcelo Costa
Editor Scream & Yell – Ano 15
Confesso que senti saudade da eleição de músicas nacionais e internacionais. Me servia quase como uma amostra grátis das músicas do ano.