Texto e fotos por Marcelo Costa
Final de turnê é um momento complicado para muitas bandas, afinal, após passar mais de um ano tocando quase todas as noites um repertório padrão, a chance dos integrantes entrarem no modo automático e do show perder em empolgação é enorme. Pode acontecer com qualquer banda, mas não com o Queens of The Stone Age, não nessa noite em São Paulo. Após subir em um palco mais de 180 vezes defendendo o elogiado álbum “…Like Clockwork” desde o start da tour, no Lollapalooza Brasil, em março de 2013, o grupo de Josh Homme retornou para a capital paulista 18 meses depois ainda mais focado, violento e inspirado.
Enquanto a fila na porta do Espaço das Américas dobrava o quarteirão, cambistas corriam de um lado para o outro ofertando os ingressos – esgotados dois meses antes – por preços entre R$ 200 e R$ 300. Lá dentro, um calor de verão californiano fazia crescer a fila por água (R$ 6), refrigerante (R$ 8!) e cervejas (Skol gelada e Budweiser morna, qualquer por R$ 10). Um excelente público mostrava respeito e atenção pelo show de abertura, não à toa: sozinho, Alain Johannes (ex-QOTSA e Them Crooked Vultures) tocou canções solo, de sua banda Eleven, do projeto Desert Sessions e até citou “Hangin’ Tree”, parceria com Josh Homme presente em “Songs For The Deaf” (2002). Saiu aplaudidíssimo (gaúchos, vale a pena chegar mais cedo).
Com aproximadamente meia hora de intervalo, o Queens of The Stone Age pisou no palco mostrando que estava a fim de tornar a noite antológica: “You Think I Ain’t Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire” abriu a porteira com um som absurdamente alto (e bom, algo raro no Espaço das Américas), que começou encobrindo o vocal de Josh Homme, mas foi acertado durante a execução da canção. Dai pra frente, tudo lindo: em “No One Knows”, a segunda, Josh até tentou se comunicar com a galera no meio da canção, mas um “ôôôô” acompanhando o riff de guitarra se mostrou tão potente que impressionou o vocalista.
Celebradíssima, “My God Is the Sun” (que estreou ao vivo no Lolla Brasil) foi trampolim para um que um dos grandes heróis da noite mostrasse suas armas: Jon Theodore, o baterista espetacular que redefiniu a sonoridade ao vivo do QOTSA aplicando breaks, requebrando o som, acelerando a porrada ao infinito. “Smooth Sailing”, outra do “…Like Clockwork”, mantém o público aceso, e “Monsters in the Parasol” soa como gasolina e incendia o espaço trazendo consigo “I’m Designer”. Ensandecido, o público começa a gritar “Mexicola”. Josh avisa: “Ok, acho que nós vamos tocar ‘Mexicola’ hoje, vamos tocar tudo que vocês quiserem porque vocês merecem, mas a próxima se chama ‘I Sat by the Ocean’”. Todos aprovam.
Intensa e climática, a faixa título será, provavelmente, a canção mais registrada em celulares durante a noite, e aqueles que entraram em transe são retirados com a porradaria de “Feel Good Hit of the Summer” (acrescida de citação de “Never Let Me Down Again”, do Depeche Mode) e sua irmã “The Lost Art of Keeping a Secret”, hora de ver quem canta mais alto na plateia. O show se encaminha para o final alternando canções novas (“If I Had a Tail”, “Fairweather Friends”, “I Appear Missing”) e hits (“Little Sister”, “Make It Wit Chu”, “Sick, Sick, Sick”) até o momento esperado: “Mexicola”, do disco de estreia do QOTSA, que não tinha sido tocada nenhuma vez pela banda em 2014, surge violenta como um presente merecido para um público que deu um show à parte na noite. Copos de cerveja são arremessados ao alto enquanto meninas são retiradas da muvuca com falta de ar (o ar-condicionado da casa não deu conta nessa noite). “Go With the Flow” passa a régua de forma irrepreensível.
No bis, “The Vampyre of Time and Memory” (das dez canções do último álbum, apenas “Keep Your Eyes Peeled” e “Kalopsia” ficam de fora) abre caminho para que “Do It Again” e, principalmente, “A Song for the Dead” fechem a noite de forma animalesca, com Joe Theodore distribuindo coices a torto e direito na bateria enquanto Josh Homme e Troy Van Leeuwen aumentam o peso das guitarras seguidos pelo baixista Michael Shuman e pelo tecladista (de uma nota só bem mais alta nessa última canção) Dean Fertita. Basta o barulho no palco se encerrar para que um zumbido comece a zanzar na orelha.
Em sua quarta passagem pelo Brasil, o Queens of The Stone Age fez, disparado, seu melhor show. O repertório mais extenso (as apresentações anteriores haviam sido todas em festivais), o volume absurdo do som e, principalmente, a expressiva boa fase que o quinteto vive (e que culmina com um solo de Theodore em “A Song for the Dead”, reconhecimento público do trabalho do baterista neste novo Queens of The Stone Age) foram ingredientes que tornaram essa noite em São Paulo grandiosa. A turnê que começou na capital paulista de forma matadora em março de 2013 e depois rodou o mundo se encerra no próximo sábado, em Porto Alegre. O que esperar? Outro show impecável.
Set List
– You Think I Ain’t Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire
– No One Knows
– My God Is the Sun
– Smooth Sailing
– Monsters in the Parasol
– I’m Designer
– I Sat by the Ocean
– …Like Clockwork
– Feel Good Hit of the Summer (citação de “Never Let Me Down Again”, do Depeche Mode)
– The Lost Art of Keeping a Secret
– If I Had a Tail
– Little Sister
– Fairweather Friends
– Make It Wit Chu
– I Appear Missing
– Sick, Sick, Sick
– Mexicola
– Go With the Flow
Bis
– The Vampyre of Time and Memory
– Do It Again
– A Song for the Dead
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
Leia também:
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Nem rolou Rio… Que tristeza!!!