Cinema: O Grande Hotel Budapeste

por Bruno Lisboa

O norte-americano Wes Anderson faz parte de uma geração de cineastas que promoveu, na década de 90, uma reformulação do modo em que cinema poderia e deveria ser visto: com perspectiva de futuro, mas nunca renegando o seu passado. No caso de Anderson, o cineasta vem utilizando esse pensamento desde “Pura Adrenalina” (Bottle Rocket , 1996), seu primeiro longa (tendo como base um curta-metragem de dois anos antes).

O aprendizado do cineasta também fez parte deste processo, no qual filme após filme, Wes foi encontrado forma e estilo próprios, e isso pode ser percebido no salto entre “Três é Demais” (Rushmore, 1998) e “Os Excêntricos Tenenbaums” (The Royal Tenenbaums, 2001), a obra que definiu o estilo que o consagraria: roteiro multifacetado e carregado de personagens cativantes, divertidos e ao mesmo tempo estranhos ao olhar comum, direção de arte impecável e trilha sonora marcante.

Definida a premissa, Wes Anderson seguiu a sua carreira alternando momentos de glória como em “O Fantastico Sr. Raposo” (Fantastic Mr. Fox, 2009) e “Moonrise Kingdom” (2012) com outros de menor brilho, mas ainda assim interessantes, como “A vida marinha com Steve Zissou” (The Life Aquatic with Steve Zissou, 2004) e “Viagem a Darjeeling” (“The Darjeeling Limited”, 2007). 2014 é o ano de “O Grande Hotel Budapeste” (The Grand Budapest Hotel).

Wes Anderson assina o roteiro, simples, a partir de uma história que desenvolveu com Hugo Guinness, ilustrador e escritor com quem já havia trabalhado em “Tenenbaums” e “Steve Zissou”, e conduz o espectador pela mão por seu grandioso universo cinematográfico. O foco desta obra reside em Monsieu Gustave H. (Ralph Fiennes), concierge do famoso, porém agora decadente Hotel Budapeste, cuja lendária coordenação dos trabalhos lhe rendeu ares míticos.

A partir deste centro, o roteiro abre um leque de opções numa gama vasta de personagens em que se destacam um jovem escritor (Jude Law), vilões (Adrien Brody e Willian Dafoe), um militar (Edward Norton), o jovem e fiel escudeiro de Gustave (o brilhante Toni Revolori), um velho amigo (o sempre presente Bill Murray) e a amante (a fisicamente irreconhecível Tilda Swinton) são alguns deles. Mesmo que a maioria surja de forma breve na história, o elenco dá o tom e imprime ritmo e beleza ao filme mesclando doses de humor com mistério.

Tecnicamente este é, talvez, o filme em que Wes Anderson tenha melhor colocado em prática todo o seu vasto e diverso conhecimento de direção, pois tomadas longas e sem corte, cenários compostos de forma impecável (dosando de forma equilibrada cores e iluminação) e animações convivem em harmonia e é impossível não reparar cada detalhe impresso a cada mudança de locação.

Em termos de trilha, o trabalho de Alexandre Desplat (com quem Anderson já havia trabalho em “Moonrise Kingdom” e “O Fantastico Sr. Raposo”, e cujo currículo inclui dezenas de sucessos como “A Hora Mais Escura”, “Argo”, “A Árvore da Vida”, “A Rainha” e “O Discurso do Rei”) aposta em peças clássicas criadas pelo próprio compositor que, somado ao resgate de canções folclóricas russas executadas pela Osipov State Russian Folk Orchestra, cria a ambientação correta para o caráter retrô do filme.

Ao se manter fiel ao seu modo operante de trabalho e a sua abrangente visão de mundo, Wes Anderson segue em voga produzindo o que de melhor sabe fazer: cinema popular, com grande apelo técnico e comovente a cada frame.

– Bruno Lisboa (@brunorplisboa) é redator e colunista do pignes.com

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