por Marcelo Costa
“Meteorites”, Echo and The Bunnymen (429 Records)
O 12º álbum de estúdio dos Bunnymen (11º com Ian McCulloch nos vocais) é, assim como “What Are You Going to Do with Your Life?” (1999), um disco solo do vocalista com o parceiro Will Sargeant “apenas” acrescentando guitarras, e se não alcança a beleza e sinceridade do primeiro registro, ao menos aponta um horizonte digno, algo que o pálido “The Fountain”, de 2009, não cumpria. A boa nova pode ser percebida já no primeiro single do álbum, “Lovers On The Run”, com uma letra típica de Ian (“Meu destino é nunca perceber o que você deixou para mim”) sobre uma base melódica de teclados emulando cordas que remete diretamente aos tempos que não voltam mais de “Heaven Up Here” (1981), e também em canções como a climática faixa título (que impressiona pelos tecladões gélidos, mas carece de um baterista de mão pesada) e “Constantinople” (o grande momento de Will Sargeant no álbum ao lado de “Market Town”, embora a canção perca força no refrão). A sensação geral é de que a produção de Youth (Killing Joke) peca ao juntar as peças deixando as canções frouxas (com a bateria em segundo plano), e números que, aparentemente, poderiam render mais, como “New Horizons” (com o fiapo de voz de Ian caindo perfeito na letra, embora o arranjo não esteja a altura) e “Is This A Breakdown” (“O que eu quero? O que eu preciso? O que você tem para fazer meus olhos sangrarem?”. canta Ian sobre uma base infantil, que não valoriza a boa letra) soam como uma demo esquecida dos melhores tempos da banda resultando num disco de altos e baixos.
Nota: 6,5
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“High Hopes”, Bruce Springsteen (Sony Music)
Num primeiro momento, a opção de Bruce em vasculhar o baú e regravar uma série de canções abandonadas de seu repertório soou um desperdício após o acerto de “Wrecking Ball” (2012), mas por mais que não tenha a unidade de um álbum e soe uma coletânea de raridades, “High Hopes”, 11º do chefão a pousar na primeira posição da Billboard, é grandioso, e merece a mesma atenção dada a qualquer outro grande disco de Bruce. A faixa título, escrita em 1987 por Tim Scott McConnell, já havia sido lançada no EP “Blood Brothers”, de 1995, mas a nova versão a coloca no bolso com metaleira, violão e guitarra (de Tom Morello, que participa de outras seis faixas do disco) muito mais vibrantes. A ótima “Harry’s Place” ficou de fora de “The Rising” (2001, felizmente, pois não combinava com o álbum) enquanto a história intensa de “American Skin (41 Shots)” (2001 – já foi contada aqui) ganhou mais força com a nova versão. “Just Like Fire Would” foi lançada em 1987 pelo grupo australiano The Saints, e Bruce espertamente manteve o clima oitentista (que, no seu caso, remete ao álbum “Born in The USA”) num dos melhores registros do disco. Das “canções perdidas”, a empolgante “Frankie Fell in Love”, sobra de “Magic” (2007), em que Shakespeare diz a Einstein que a felicidade começa com um beijo, se destaca, mas quem ultrapassar a introdução orquestral exagerada de “Hunter of Invisible Game” encontrará uma grande canção. Já no quesito covers, a versão de “Dream Baby Dream”, do Suicide, que já encerrou vários shows de Bruce, é a típica canção que pode salvar um dia, uma vida, encerrando um grande álbum.
Nota: 8
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“Beauty & Ruin”, Bob Mould (Merge Records)
Ex-Sugar e Husker Dü, Bob Mould passou praticamente despercebido pelos anos 00, mas bastou virar a casa dos 50 anos, em 2010, para tomar um choque de adrenalina. O resultado foi “Silver Age” (2012) um disco brilhante que apareceu em diversas listas de melhores daquele ano. Passado o fantasma dos 50 anos, agora é a vez de enfrentar a perda do pai, alcoólatra e violento, e a própria finitude em um grupo potente de 12 canções que soma pouco mais de 36 minutos e versa sobre beleza e ruína. Nada de festas no começo do álbum: o acerto de contas familiar abre o disco com a lenta e densa “Low Season“ (“Você sempre esteve lá sangrando meu espírito esgotado”, diz o personagem da letra), acelera ainda de forma densa na ode a negação de “Little Glass Pill” e desemboca na pop song cativante “I Don’t Know You Anymore”, canção sobre amizade e traição. “Dan Saleh is Boss” é punk rock tradicional enquanto “Nemeses Are Laughing” versa sobre escuridão e acerto de contas e “The War” fecha o lado A do vinil orientando: “Não desista. Não ceda”. Após a tempestade, calmaria, e a cantarolável “Forgiveness”, conduzida por violão e bateria seca, abre com uma frase memorável: “Eu preciso te levantar antes que eu caia”. A deliciosa “Tomorrow Morning” é um hino ao poder redentor da manhã seguinte e “Fix It”, outro punk rock sem firulas, finaliza um grande disco pregando que “ainda há tempo de encher seu coração de amor” num disco que começa afundado no lodo da hora mais escura da madrugada e termina com o sol raiando anunciando um novo dia. Bob Mould segue em frente com um grande disco.
Nota: 8,5
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– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
e eu continuo aqui, inverno após inverno, esperando um grande album dos bunnymen… estaria eu sendo injusto?! esperando o impossível?! depois deste meteorito cair sobre a minha cabeça, fui ouvir “evergreen” e o album cinza!!
Tbm sempre crio esperanças com os discos novos do Echo, mas nao tem passado disso mesmo. Acho que o ultimo grande disco deles foi o What Are You Going To Do mesmo, e lá se vão 15 anos já (to ficando velho, hehe)
Eu acho o “Siberia” um baita disco!
Achei razoável esse novo do Echo também, infelizmente.
Minha nossa! Como alguém consegue resenhar o “High Hopes” sem nem sequer mencionar “The Ghost of Tom Joad”? Estão preparando um resenha separada só pra ela, né?
Vou ver se tento ouvir esse Meteorites, o ultimo do Echo foi decepcionante e deixou um gosto amargo, a de que eles nunca mais serão tão bons quanto antes, e uma pena tambem que a voz do Ian mudou tanto, mas ainda sim eu tinha gostado do Siberia.
Acho que querer a voz de Ian McCulloch de “Ocean Rain” é muita ingenuidade. Mesmo em “Evergreen” nota-se a perda de poder vocal (mas é um baita disco, claro).
Bob Mould é uma pérola pop que poucos percebem no Brasil.
O do Echo eu gostei, melhora a cada audição. É bem melhor que o anterior, mas pede para os outros.
E o Bob Mould merecia pelo menos um 9, vai.
Bob Mould é fantástico. Echo já larguei a mão.